País
Habitação acessível. "Para os prazos apertados do PRR só é possível a construção modular"
A rapidez e os preços mais baixos têm tornado a construção modular uma alternativa à tradicional. O governo tornou mais simples o licenciamento deste tipo de construção e as autarquias têm encontrado aqui um caminho para avançar com casas de renda acessível.
O aparato faz parar quem passa na rua André de Resende, em Benfica. As cabeças levantadas dos mirones acompanham o movimento lento da grua: um bloco gigante de betão, já com janelas e estores, sobrevoa o espaço. Com perícia, o bloco encaixa num outro, como uma peça de lego gigante e em menos de nada um prédio ganha mais um piso.
Carlos Oliveira tenta criar uma imagem. "É como se fosse um contentor marítimo e esse contentor é acoplado lateralmente e depois verticalmente. À medida que se vão juntando os blocos, vamos tendo o edifício terminado por fora. Depois por fora ainda é necessário fazer alguns trabalhos". Carlos é o diretor geral da DDN, a empresa responsável por esta obra e a criadora deste método inovador de construção modular.
Em três dias foram montados seis apartamentos. No tempo em que esta reportagem foi feita, uma semana e meia, foi posto de pé um edifício com 18 casas. É um dos prédios de habitação acessível que a Junta de Freguesia de Benfica está a construir. A escolha deste método de construção surge para responder a um problema: tempo.
"Candidatámo-nos ao Planos de Recuperação e Resiliência (PRR) e numa primeira fase, quando vimos a janela temporal, entrámos em pânico", conta o presidente da Junta, Ricardo Marques, "nas pesquisas que os arquitetos do nosso departamento interno do espaço público fizeram encontrámos estas soluções. A primeira experiência foi com a residência para 120 estudantes, inaugurada no ano passado. Correu tão bem que quando começaram a planear a construção de casas para arrendamento acessível decidiram seguir o mesmo método.
"Ainda mais nesta altura em que temos de ser muito rápidos a procurar soluções para quem não tem. Em Lisboa, estamos a atravessar um período muito difícil tendo em conta o racional de tempo do PRR, de qualidade construtiva e de qualidade habitacional - que é o que as famílias procuram - e também de rapidez de construção destas casas, acho que é a solução mais lógica e aquela que devemos continuar a usar".
Em breve, do outro lado da linha do comboio, vai começar a ser construído um outro edifício para habitação acessível com mais 50 apartamentos. O projeto também é da Junta de Freguesia. E também será construção modular.
A vantagem de construir em fábrica
A construção modular tem crescido nos últimos anos. Antes de mais, é preciso distinguir este método da construção pré-fabricada. No caso desta última, as peças são feitas previamente em fábrica e depois são montadas na obra. Já na construção modular quase 80% do módulo é feito na fábrica - incluindo acabamentos. Há diferentes opções de material: madeira, light steel (aço leve), mista e esta solução desenvolvida pela DDN, que usa exclusivamente betão armado.
O método é inovador, 100% português e começou a ser desenvolvido para resolver um problema. "Em 2018, 2019 começámos a perceber que faltava mão de obra e meios para a construção. Então fomos procurar alguma coisa que respondesse a essa necessidade", conta Carlos Oliveira. Em parceria com a equipa de engenharia civil do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, começaram a trabalhar nesta solução. Neste momento, os módulos produzidos pela Global Engineering para os projetos que são orientados pela DDN.
O primeiro edifício com esta tecnologia foi a residência dos Serviços Sociais da PSP na Amadora e ficou terminado há três anos. Neste momento, há já 14 projetos concluídos e muitos mais a serem preparados.

Carlos explica que o betão armado é uma grande mais-valia - é mais robusto que outras soluções modulares e por isso resiste melhor a desastres naturais e não tem o problema dos incêndios ou das térmitas. "Do ponto de vista do financiamento dos bancos, sendo uma solução mais sólida, dá uma maior garantia de longevidade do valor da propriedade".
Nestas construções está também garantido um isolamento térmico e acústico semelhante ao de uma construção normal e no caso dos ruídos de trânsito ou de música, por exemplo, consegue até isolar 20% mais. Para os mais céticos deste sistema que é montado como um lego, o diretor geral da DDN assegura que a construção é resistente. "Não cai. Nós fizemos os ensaios no laboratório do Instituto Superior Técnico. Temos inclusivamente a patente registada das ligações que criámos e que permitem garantir que o comportamento deste lego depois de montado é equivalente ao comportamento de um edifício convencional - particularmente em caso de sismo".
A construção modular representa algumas condicionantes à criatividade dos arquitetos, mas Carlos Oliveira mostra-nos várias imagens de projetos que estão a ser desenvolvidos para provar que o modular não tem de ser feio nem ter "aspeto de hospital". "Os próprios arquitetos aceitam essas condicionantes porque têm projetos que não saem da gaveta por serem muito caros e a única forma de serem viáveis é com soluções alternativas de construção". E tem surpreendido muitos clientes.
Nesta solução é preciso contar com algum tempo para o planeamento. Muito antes da obra começar, é preciso planear e desenhar com rigor os módulos. Mas o tempo que se gasta depois vai ser compensado com a rapidez da montagem. Pelo facto de a maior parte do trabalho ser feita em fábrica, a eficiência é muito maior: há menos perdas com materiais, tem menos imprevistos, a probabilidade de erro muito menor, a manutenção é muito mais fácil e não precisa de tanta mão-de-obra. Se os projetos tiverem alguma escala, é uma construção mais barata.

"As reduções são significativas, portanto é possível fazer mais habitação com o mesmo dinheiro. E depois há também a questão dos prazos de execução, que são menos de metade dos de um edifício de construção normal", explica Carlos Oliveira. Talvez por isso as autarquias sejam os grandes clientes da DDN, em especial para construção de casas destinadas a arrendamento acessível.
A aposta na construção modular foi uma das sugestões que o secretário-geral do PS fez ao primeiro-ministro para resolver a crise da habitação. O governo está alinhado e em setembro aprovou medidas para tornar mais simples este tipo de construção.
Carlos Oliveira acredita que em breve os projetos que recorrem a esta solução vão multiplicar-se. "Neste momento, estamos com um problema enorme de habitação em Portugal, que é talvez a maior força de bloqueio que temos ao nosso desenvolvimento - não somos capazes de oferecer habitação aos portugueses nem aos imigrantes que precisamos tanto que venham trabalhar connosco. É uma urgência. Este tipo de construção é claramente uma solução para preencher este vazio, atender a este desafio e esta necessidade. Não tenho dúvida nenhuma que é a melhor solução e o mercado nos próximos anos vai encarregar-se de clarificar isso".
Carlos Oliveira tenta criar uma imagem. "É como se fosse um contentor marítimo e esse contentor é acoplado lateralmente e depois verticalmente. À medida que se vão juntando os blocos, vamos tendo o edifício terminado por fora. Depois por fora ainda é necessário fazer alguns trabalhos". Carlos é o diretor geral da DDN, a empresa responsável por esta obra e a criadora deste método inovador de construção modular.
Em três dias foram montados seis apartamentos. No tempo em que esta reportagem foi feita, uma semana e meia, foi posto de pé um edifício com 18 casas. É um dos prédios de habitação acessível que a Junta de Freguesia de Benfica está a construir. A escolha deste método de construção surge para responder a um problema: tempo.
"Candidatámo-nos ao Planos de Recuperação e Resiliência (PRR) e numa primeira fase, quando vimos a janela temporal, entrámos em pânico", conta o presidente da Junta, Ricardo Marques, "nas pesquisas que os arquitetos do nosso departamento interno do espaço público fizeram encontrámos estas soluções. A primeira experiência foi com a residência para 120 estudantes, inaugurada no ano passado. Correu tão bem que quando começaram a planear a construção de casas para arrendamento acessível decidiram seguir o mesmo método.
"Ainda mais nesta altura em que temos de ser muito rápidos a procurar soluções para quem não tem. Em Lisboa, estamos a atravessar um período muito difícil tendo em conta o racional de tempo do PRR, de qualidade construtiva e de qualidade habitacional - que é o que as famílias procuram - e também de rapidez de construção destas casas, acho que é a solução mais lógica e aquela que devemos continuar a usar".
Em breve, do outro lado da linha do comboio, vai começar a ser construído um outro edifício para habitação acessível com mais 50 apartamentos. O projeto também é da Junta de Freguesia. E também será construção modular.
A vantagem de construir em fábrica
A construção modular tem crescido nos últimos anos. Antes de mais, é preciso distinguir este método da construção pré-fabricada. No caso desta última, as peças são feitas previamente em fábrica e depois são montadas na obra. Já na construção modular quase 80% do módulo é feito na fábrica - incluindo acabamentos. Há diferentes opções de material: madeira, light steel (aço leve), mista e esta solução desenvolvida pela DDN, que usa exclusivamente betão armado.
O método é inovador, 100% português e começou a ser desenvolvido para resolver um problema. "Em 2018, 2019 começámos a perceber que faltava mão de obra e meios para a construção. Então fomos procurar alguma coisa que respondesse a essa necessidade", conta Carlos Oliveira. Em parceria com a equipa de engenharia civil do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, começaram a trabalhar nesta solução. Neste momento, os módulos produzidos pela Global Engineering para os projetos que são orientados pela DDN.
O primeiro edifício com esta tecnologia foi a residência dos Serviços Sociais da PSP na Amadora e ficou terminado há três anos. Neste momento, há já 14 projetos concluídos e muitos mais a serem preparados.
Carlos explica que o betão armado é uma grande mais-valia - é mais robusto que outras soluções modulares e por isso resiste melhor a desastres naturais e não tem o problema dos incêndios ou das térmitas. "Do ponto de vista do financiamento dos bancos, sendo uma solução mais sólida, dá uma maior garantia de longevidade do valor da propriedade".
Nestas construções está também garantido um isolamento térmico e acústico semelhante ao de uma construção normal e no caso dos ruídos de trânsito ou de música, por exemplo, consegue até isolar 20% mais. Para os mais céticos deste sistema que é montado como um lego, o diretor geral da DDN assegura que a construção é resistente. "Não cai. Nós fizemos os ensaios no laboratório do Instituto Superior Técnico. Temos inclusivamente a patente registada das ligações que criámos e que permitem garantir que o comportamento deste lego depois de montado é equivalente ao comportamento de um edifício convencional - particularmente em caso de sismo".
A construção modular representa algumas condicionantes à criatividade dos arquitetos, mas Carlos Oliveira mostra-nos várias imagens de projetos que estão a ser desenvolvidos para provar que o modular não tem de ser feio nem ter "aspeto de hospital". "Os próprios arquitetos aceitam essas condicionantes porque têm projetos que não saem da gaveta por serem muito caros e a única forma de serem viáveis é com soluções alternativas de construção". E tem surpreendido muitos clientes.
Nesta solução é preciso contar com algum tempo para o planeamento. Muito antes da obra começar, é preciso planear e desenhar com rigor os módulos. Mas o tempo que se gasta depois vai ser compensado com a rapidez da montagem. Pelo facto de a maior parte do trabalho ser feita em fábrica, a eficiência é muito maior: há menos perdas com materiais, tem menos imprevistos, a probabilidade de erro muito menor, a manutenção é muito mais fácil e não precisa de tanta mão-de-obra. Se os projetos tiverem alguma escala, é uma construção mais barata.
"As reduções são significativas, portanto é possível fazer mais habitação com o mesmo dinheiro. E depois há também a questão dos prazos de execução, que são menos de metade dos de um edifício de construção normal", explica Carlos Oliveira. Talvez por isso as autarquias sejam os grandes clientes da DDN, em especial para construção de casas destinadas a arrendamento acessível.
A aposta na construção modular foi uma das sugestões que o secretário-geral do PS fez ao primeiro-ministro para resolver a crise da habitação. O governo está alinhado e em setembro aprovou medidas para tornar mais simples este tipo de construção.
Carlos Oliveira acredita que em breve os projetos que recorrem a esta solução vão multiplicar-se. "Neste momento, estamos com um problema enorme de habitação em Portugal, que é talvez a maior força de bloqueio que temos ao nosso desenvolvimento - não somos capazes de oferecer habitação aos portugueses nem aos imigrantes que precisamos tanto que venham trabalhar connosco. É uma urgência. Este tipo de construção é claramente uma solução para preencher este vazio, atender a este desafio e esta necessidade. Não tenho dúvida nenhuma que é a melhor solução e o mercado nos próximos anos vai encarregar-se de clarificar isso".