Idanha-a-Nova. Alimentação sustentável motiva evento internacional

por RTP
Os dados foram revelados e o mundo já está em alerta. O sistema alimentar precisa de mudar, impreterivelmente Ralph Orlowski - Reuters

A sustentabilidade alimentar vai estar em debate, até domingo, no Fórum Internacional Territórios Relevantes para Sistemas Alimentares sustentáveis (FISAS). Idanha-a-Nova foi cidade escolhida para discutir a urgente mudança nos sistemas alimentares.

“Num momento em que os limites do planeta estão a ser ultrapassados e parte significativa da população mundial está mal nutrida, em grande parte pelo modo em que estamos a produzir alimentos, será assumido em Portugal um renovado compromisso pela sustentabilidade alimentar”, lê-se num comunicado do FISAS, estrutura responsável por este evento.

“Um dos principais objetivos deste Fórum é produzir conhecimento e recomendações políticas para a construção de uma abordagem coordenada para a promoção de sistemas alimentares e dietas sustentáveis”, acrescenta a mesma nota.

Este evento “surge como resposta política capaz de articular de forma coerente diversos atores e iniciativas para a promoção da transição para sistemas alimentares sustentáveis a nível territorial na CPLP, dos países ibero-americanos e dos países onde já existem Bio-Regiões”, explicou à agência Lusa Francisco Sarmento, chefe do escritório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), em Portugal.

Os dados foram revelados e o mundo já está em alerta. O sistema alimentar precisa de mudar, impreterivelmente.

De acordo com o novo relatório anual “O estado da segurança alimentar e nutricional no mundo”, publicado pela ONU, mais de 820 milhões de pessoas passaram fome no ano passado.

“Devemos incentivar transformações estruturais inclusivas e a favor dos pobres, focando nas pessoas e colocando as comunidades no centro das preocupações para diminuir as vulnerabilidades económicas e nos colocar no caminho para acabar com a fome, com a insegurança alimentar e com todas as formas de má nutrição”, afirmaram as Nações Unidas.
"Epidemia da obesidade"

Após três anos, a fome mundial teima em não diminuir. Ainda assim, numa altura em que milhões de pessoas não conseguem sequer ter acesso a uma alimentação suficiente para sobreviver, os números de obesidade continuam a aumentar.

"O sistema alimentar atual gera um maior número de pessoas doentes devido à epidemia da obesidade. O número de obesos já é superior ao número de pessoas subnutridas. A obesidade é um problema à escala do planeta e não só dos países mais ricos", esclareceu Francisco Sarmento.

As doenças relacionadas com a má alimentação estão a propagar-se a uma velocidade nunca antes vista. A preocupação já não deve residir somente na escassez de alimentos, mas também na qualidade dos mesmos.

"Há uma década, provavelmente, a maioria dos países, incluindo os africanos, centrava a sua preocupação em produzir maior quantidade de alimentos. Hoje, já há a preocupação em relação à qualidade desses alimentos e também na proteção dos recursos naturais. Falamos da água, do solo e sua fertilidade, da floresta e da biodiversidade", ressalvou Francisco Sarmento.

Reeducar as mentalidades de todo o mundo não é fácil, mas tem vindo a ser fundamental. Contudo, para haver sistemas alimentares mais sustentáveis é necessário promover uma agricultura familiar coerente e mostrar quais os modos para produzir tais alimentos.

"Isto implica preservar a biodiversidade, a cultura alimentar tradicional e, com isto, ter dietas mais sustentáveis. Importa, por estas razões, materializar com a maior urgência um conjunto de acordos que visam este objetivo", acrescentou Francisco Sarmento.
A primeira bio-região do país

Idanha-a-Nova é a primeira bio-região em Portugal. Para o presidente da Câmara Municipal, Armindo Jacinto, “as Bio-Regiões constituem uma das principais respostas ao fenómeno da urbanização acelerada, do abandono das zonas rurais e da perda da biodiversidade e do conhecimento alimentar tradicional”.

“O FISAS será também uma oportunidade para todos nós, também consumidores, podermos participar e colaborar na construção de um mundo mais sustentável”, concluiu.

Ao longo destes cinco dias vão estar reunidos mais de uma centena de especialistas, agricultores familiares bem como decisores políticos de 15 países de quatro continentes.

O evento vai ainda contar com a presença do diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, do ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, assim como dos homólogos deste governante em representação da Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

O FISAS é uma coorganização de várias entidades, entre as quais o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural e a Rede Internacional das Bio-Regiões. O evento conta ainda com o apoio internacional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

No encerramento vai ser aprovada uma “Declaração para a Promoção de Sistemas Alimentares Sustentáveis”. Este documento de referência vai ser destinado aos programas e ações governativas que pretendam promover uma urgente mudança nos sistemas alimentares mais sustentáveis, por todo o mundo.

c/ Lusa
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