Incêndio "extremo e errático". O quadro no Algarve ao sexto dia de combate

por Andreia Martins - RTP
“Não nos espera um período fácil", reconheceu ao início da noite a segunda comandante da Proteção Civil, Patrícia Gaspar Miguel A. Lopes - Lusa

Ativo desde sexta-feira, o incêndio que começou na serra de Monchique já chegou a dois outros concelhos da região – Portimão e Silves – e aparenta não dar tréguas aos operacionais no terreno. A Proteção Civil fala mesmo de um incêndio de “violência e agressividade enorme”, de comportamento imprevisível e progressão veloz. Várias aldeias e localidades foram evacuadas no sexto dia deste incêndio que está a deixar a região algarvia envolta numa nuvem de fumo.

Descontrolado, imprevisível, violento. O incêndio que começou na última sexta-feira continua por apagar e as previsões da Proteção Civil não apontam para um desfecho positivo nas próximas horas.  
 
“Não nos espera um período fácil. A meteorologia, sobretudo no que diz respeito ao vento, mantém-se bastante desfavorável, ou melhor, vai favorecer aquilo que é a progressão do incêndio”, disse esta quarta-feira a segunda comandante operacional nacional da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, no briefing com o ponto de situação, realizado ao início da noite.
 
A responsável salientou ainda que o cenário de combate às chamas é “muito complexo” e que os operacionais têm encontrado “grandes dificuldades no terreno”, não só por culpa dos ventos fortes como também da orografia, tratando-se de uma zona de vales e terrenos acentuados.  O fumo também acabou por dificultar o trabalho dos meios aéreos. 

Patrícia Gaspar referiu ainda que a progressão do incêndio terá ultrapassado esta quarta-feira uma velocidade superior a dois quilómetros por hora.  

Durante o dia, verificou-se uma série de reacendimentos em vários pontos do perímetro do incêndio, com as situações graves sobretudo em Fóia, Caldas de Monchique, Barranco do Banho, São Marques da Serra e Silves, tendo chegado praticamente ao perímetro urbano desta cidade.  
 
A zona entre Silves e São Bartolomeu de Messines é considerada “muito complexa”, referiu a responsável. As chamas varreram “praticamente toda a área entre São Marcos da Serra e Silves”, acrescentou.  
 


Patrícia Gaspar sublinhou ainda que as reativações "assumiram comportamentos completamente adversos" de "violência e agressividade enorme". "O fogo assumiu comportamento completamente extremo e errático de muito difícil previsão", assume a responsável.  
 
A segunda comandante operacional nacional refere que as próximas horas não serão "fáceis" e que as autoridades vão tentar acelerar o combate ao incêndio durante a noite, com maquinaria pesada para abrir ariceiros.  
 
A responsável Proteção Civil apela também às pessoas para que sigam “escrupulosamente” as indicações dadas pelas forças de autoridade no terreno, o que nem sempre se tem verificado nos últimos dias de incêndio. Patrícia Gaspar enfatizou nesse sentido o papel da GNR, que tem tentado “andar o mais cedo possível à frente da progressão do incêndio” com a evacuação das várias localidades.  
 
Durante a tarde de quarta-feira, foram evacuadas as localidades de Pedreiras, Garradas e Enxerim, no concelho de Silves, onde está a frente que inspira agora maiores preocupações.  
 
Às 20h00, hora a que foi realizado este ponto de situação, a Proteção Civil ainda não tinha ainda os dados finais do número de pessoas retiradas das habitações durante a tarde. Até ao final da manhã, o número de deslocados chegava às 181 pessoas. 
Avisos da Proteção Civil e DGS
Tendo em conta as proporções atingidas por este incêndio, continua no terreno um dispositivo massivo de combate ao fogo que já lavra há seis dias, ainda que não se preveja que possa ficar dominado nas próximas horas.
 
Ao cair da noite, mantinham-se no teatro de operações mais de 1300 operacionais, apoiados por 400 meios terrestres, segundo os dados disponibilizados pela Proteção Civil. As equipas trabalham já sem a ajuda dos meios aéreos, que durante o dia estiveram em peso nas localidades mais afetadas.  
 
Durante a tarde, a Proteção Civil apelou aos cidadãos que se encontram entre Silves e São Bartolomeu de Messines e a sul de São Marcos da Serra para que se mantivessem em zonas seguras em Silves, dada a complexidade e proporção que o incêndio assume nesta zona.  
 
A autoridade nacional apelou à “calma” e pediu às populações para que “fechem janelas e portas” devido ao fumo intenso que se faz sentir no local.  
 
Também a Direção-Geral de Saúde chamou à atenção para os perigos de inalação de fums ou de substâncias químicas, bem como o calor, podem provocar danos nas vias respiratórias.
 
No alerta, a DGS aconselha as pessoas a permanecerem no interior dos edifícios, chamando à atenção da especial proteção de crianças, idosos ou doentes respiratórios crónicos.   
 
Até ao momento, contabilizam-se 32 feridos deste incêndio que começou em Monchique na passada sexta-feira. Um destes feridos – uma idosa que está internada em Lisboa – encontra-se em estado grave. 

Até agora, as chamas já consumiram mais de 20 mil hectares, de acordo com o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais. Um número que fica, ainda assim, aquém dos valores registados em 2003, quando um incêndio percorreu 41 mil hectares nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.
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