Monchique. Mudança de comando "não significa nenhum tipo de embaraço, desconfiança ou sanção", diz Costa

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
António Cotrim - Lusa

O primeiro-ministro garantiu esta quarta-feira que a passagem do comando do incêndio de Monchique para o nível nacional não significa qualquer “embaraço, desconfiança nem de sanção”. António Costa explica que se trata da execução do que está planeado. O primeiro-ministro foi ainda muito explícito ao dizer que a extinção do incêndio não está para breve. "Não devemos ter a ilusão de que este incêndio vai ser extinto nas próximas horas. O incêndio irá, aliás, agravar" durante esta quarta-feira, avisou, antecipando que o fogo "lavrará nos próximos dias" e continuará a exigir muito trabalho.

António Costa discursava no balanço da resposta operacional e das medidas adotadas pelas várias entidades na sequência da onda de calor registada nos últimos dias, que decorreu na Autoridade Nacional de Proteção Civil, em Carnaxide.

Questionado sobre a mudança de comando para um nível nacional, deixando de estar na alçada do comandante operacional distrital de Faro, Costa reforçou que “em função da ocorrência, o escalão de comando vai variando”, numa análise que está em linha com a que tem sido apresentada pela Autoridade Nacional de Proteção Civil.

“Significa que o combate não tem estado a produzir os resultados que todos desejávamos, tem vindo a aumentar e ainda não está contido", justificou o primeiro-ministro.

"É só isso que significa, não significa nenhum tipo de embaraço, nem desconfiança, nem de sanção, relativamente a quem quer que seja. É aquilo que está previsto no plano do nosso sistema de gestão de ocorrências", garantiu.
"Não vale a pena ter a ilusão de que o incêndio vai ser apagado nas próximas horas"
Por mais de uma vez, o primeiro-ministro reiterou esta ideia: o fogo de Monchique não vai ser debelado nas próximas horas e vai exigir muito trabalho nos próximos dias.

"Não vale a pena ter a ilusão de que o incêndio vai ser apagado nas próximas horas", argumentou António Costa, dizendo mesmo que se poderá agravar durante a tarde desta quarta-feira com as condições climatéricas e os ventos. A grande janela de oportunidade para debelar o incêndio acontecerá durante a noite e madrugada, diz o primeiro-ministro, defendendo que será nessa altura que se devem concentrar os esforços.

"Não é como uma vela de um bolo de anos que se apaga com um sopro", diz Costa, argumentando que quando um incêndio ganha a dimensão e a carga térmica que este ganhou, são precisos "muitos dias de trabalho".
Monchique é “exceção que confirma a regra”
O chefe do Executivo alerta que este ainda não é o momento de balanço sobre este incêndio em concreto, já que as chamas ainda lavram em Monchique. No entanto, Costa não tem dúvidas em dizer que esta “é uma exceção que confirma a regra”. Neste caso, para o primeiro-ministro, a regra neste período crítico de calor extremo foi a de o sistema de proteção civil ter respondido “à altura do desafio”.

Apresenta números para essa perspetiva. Avança que de 582 ignições que se registaram nos cinco dias críticos, houve apenas 26 grandes incêndios e, desses, apenas “um escapou ao controlo” e concentrou atenções. António Costa elogia o trabalho realizado pelos agentes de proteção civil, e também a capacidade de prever situações de risco meteorológico.

Para o primeiro-ministro, esta é a prova que a prevenção é o caminho, porque se isso não tivesse acontecido, "teríamos tido mais ocorrências", agradecendo aos portugueses o esforço de limpeza das florestas, importante para que houvesse menos ocorrências e menos incêndios, apesar do estado climatérico mais adverso.

O chefe de governo admite que Monchique estava há vários meses sinalizado como o concelho com mais elevado risco de incêndio no país. Assumiu que há ainda muito a fazer e dá o exemplo da rede primária de prevenção de incêndios, desenhada desde 2006 que, dos 11 mil quilómetros previstos, contava há um ano atrás com apenas mil quilómetros. “Em pouco mais de um ano, duplicámos a rede relativamente ao que tínhamos o ano passado”, reiterou.

António Costa agradeceu ainda o esforço para evitar comportamentos de risco de acordo com os apelos das autoridades e o civismo das populações em situações complicadas, como a necessidade de se proceder a evacuações.

"Gostaria de insistir muito que é essencial para a perseveração da vida humana, para diminuirmos o risco de acidentes pessoais, que todos sigam as instruções das autoridades. As autoridades quando apelam à evacuação não estão a violar a Constituição, nem a lei, estão a assegurar o bem mais precioso que existe que é a vida", defendeu.

Por isso, sublinhou, "é absolutamente irresponsável qualquer tipo de apelo para que as populações não sigam estas indicações".
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