Investigadores internacionais debatem "Sono e Sonho" no simpósio "Aquém e Além do Cérebro"

por Lusa

Porto, 24 mar (Lusa) - A interligação entre sono, sonhos e vida social será um dos temas em discussão no Simpósio "Aquém e Além do Cérebro" que se inicia quarta-feira, no Porto, com a presença de alguns dos líderes na investigação científica mundial neste domínio.

Organizado pela Fundação Bial, o encontro, que vai já na 9.ª edição e decorrerá até sábado, irá analisar e discutir sobre "Sono e Sonhos" com o intuito de esclarecer questões como: "Porque se dorme? O que se passa no corpo humano quando se dorme? Qual a influência do sono (ou sua ausência) na sociedade? Porque se sonha? ou "O que representam os sonhos?".

Em declarações à Lusa, o neurocientista Alexandre Castro-Caldas, que integra a Comissão Organizadora, considerou que "de todos os simpósios, que a BIAL tem realizado, este é capaz de ser o mais interessante para o público porque, de facto, está a lidar com funções que são muito difíceis de perceber e porque as pessoas têm imensos mitos sobre o sonho e sobre o sono".

"Se temos consciência do sonho é porque não estamos a dormir bem. Todos nós sonhamos, mas o sonho ocorre numa fase que não devia permitir que a informação chegasse ao nível consciente", explicou.

Questionado pela Lusa sobre a influência que a crise pode ter na qualidade do sono e no sonho, o especialista afirmou que "pode ter influência porque as pessoas deprimem. Isso causa alterações emocionais e quando as pessoas deprimem alteram os mecanismos do sonho".

"Todos os ritmos próprios do sono se alteram quando há ansiedade ou quando há depressão. E eu acho que há neste momento muitas pessoas a sofrer muito e que devem estar a dormir mal e a privação de sono tem complicações grandes, porque as pessoas têm sonolência diurna, têm mais desastre de automóvel, têm defeito de memória entre outros problemas", acrescentou.

A insónia será o tema central da intervenção de Eus van Someren, diretor do Departamento do Sono e Cognição do Instituto Holandês para a Neurociência, que considera que apesar de a insónia "constituir o principal fator de risco para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, a compreensão dos seus mecanismos cerebrais é muito limitada".

Dados recentes indicam que 10 por cento da população mundial tem insónia crónica, fruto de doença, desgosto e stresse, entre outros fatores decisivos para a qualidade do sono.

A interligação entre o sono, os sonhos e a vida social será explorada por Teresa Paiva, investigadora pioneira do estudo do sono em Portugal.

Segundo Teresa Paiva, "é amplamente reconhecido que dormir pouco ou em excesso encontra-se associado a um risco aumentado de hipertensão e doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes tipo 2, insónia, depressão, cancro e redução da esperança de vida".

Caberá a Allan Hobson, professor jubilado de psiquiatria da Harvard Medical School, EUA, inaugurar o encontro numa sessão em que apresentará os resultados das suas investigações e a Teoria da Protoconsciência. Segundo a sua teoria, o sonho permite o treino e a preparação para a nossa realidade durante a vigília.

Os oradores incluem, entre outros, Stephen LaBerge, da universidade de Stanford, que irá apresentar a teoria do "Sonho Lúcido", Robert Stickgold, da Harvard Medical School, que abordará a relação e o papel do sono e dos sonhos na memória, e Sophie Schwartz, da Universidade de Genebra, que defenderá que "o sono e a emoção desempenham funções vitais promovendo respostas adaptadas aos desafios psicológicos (ou físicos) do passado ou futuro".

Serão também revisitadas as teorias psicológicas em torno da interpretação dos sonhos, com Caroline Watt, professora de Parapsicologia na Universidade de Edimburgo, Escócia, a defender que "sonhar com um evento futuro é uma das experiências paranormais mais comuns".

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