Investigadores preocupados com impacto climático nos vales dos rios Côa e Douro

por Lusa

Investigadores de universidades portuguesas mostraram-se "preocupados e atentos" face à "variabilidade climática" que está a acontecer nos vales dos rios Côa e Douro, porque poderá colocar em risco património histórico, natural e paisagístico.

"Vivemos um processo da variabilidade climática, onde se nota um aumento das temperaturas e menos precipitação média e mais precipitação extrema. Os extremos climáticos provocam um `stress` adicional, seja térmico ou no processo de erosão dos materiais e do património edificado", explicou à Lusa o investigador Pedro Matos Soares, da Universidade de Lisboa, no decurso de um seminário sobre alterações climáticas que decorreu hoje, no Museu do Côa, em Foz Côa, no distrito da Guarda.

Segundo projeções de investigadores, presentes no seminário "Territórios UNESCO e Alterações Climáticas: desafios e soluções", as alterações climáticas, ao longo deste século, a manter-se o atual cenário, poderão pôr em causa a subsistência dos vales do Côa e do Douro, territórios mais expostos a estes fatores, já que se trata de uma região mais vulnerável.

"Os extremos climáticos são a nossa grande preocupação já que podem colocar em risco as culturas deste território e, neste caso, a vinha e outras produções, o que leva ao despovoamento e à desertificação das terras e, como consequência, a um abandono do património, porque as pessoas terão de se deslocar", alertou o investigador.

"Tecnologia de ponta" está já a ser usada no registo de monumentos e sítios para memória futura, para que sejam lembrados em caso de incidente geológicos ou climatéricos, explicou o investigador Renato Henriques da Universidade do Minho.

"Estamos a empregar tecnologia recente, em que são utilizados dispositivos óticos, ou através de radiação, para fazer um varrimento das estruturas, [obtendo registos] que serão trabalhados com recursos a super computadores para fazer a reprodução tridimensional da estrutura e da sua textura", de modo a "manter a memória de monumentos ou sítios", explicou Renato Henriques.

O investigador lembrou que as rochas dos vales do Côa e Douro existem há muitos milhões de anos, mas vão sendo desgastadas por agentes influenciadores externos, como a variabilidade climatérica.

"A ideia passa por fazer uma memória digital deste património para quando ele desaparecer. Pode não ser no decurso da nossa espécie [homo sapiens], mas ficará, certamente, para um futuro, longínquo", frisou o especialista.

A investigadora Esmeralda Paupério, especialista em estruturas e docente na Universidade do Porto, durante a sua apresentação no seminário, alertou para os perigos do combate a incêndios florestais utilizando meios aéreos, por haver a possibilidade de partir (fraturar) as rochas onde está representada a "Arte do Côa", através do chamando "choque térmico".

"Outra das situações, com as mudanças do clima, são chuvas fortes que podem destruir os Terraços do Douro e fundações de estruturas, com a subida da água dos rios, e provocar danos nas paisagem", vincou a instigadora

O objetivo do semanário foi o de compreender os possíveis impactos das alterações climáticas sobre o valor excecional dos bens classificados em Portugal, sejam eles sítios ou monumentos, reunindo especialistas nesta matéria, oriundos de várias universidades portuguesas.

O seminário resultou de uma parceria entre a Comissão Nacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) e a Fundação Côa Parque.

Como uma imensa galeria ao ar livre, o Vale do Côa detém mais de mil rochas com manifestações rupestres, identificadas em mais de 80 sítios distintos, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30.000 anos, ocada vez mais expostas a adversidades climatéricas e geológicas.

O Parque Arqueológico do Vale do Côa foi criado em agosto de 1996. A arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, Património da Humanidade pela UNESCO.

 

Tópicos
pub