`Kit` ajuda agentes educativos na inclusão de crianças migrantes e refugiadas

por Lusa

Um 'kit' para ajudar professores e outros agentes educativos na inclusão escolar e social de crianças migrantes e refugiadas foi desenvolvido por uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC), foi hoje anunciado.

O novo conjunto de materiais foi desenvolvido e testado por especialistas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC (FPCEUC), no âmbito do estudo Lend a Hand (dar a mão) - Programa de Inclusão Social nas Escolas para Crianças Migrantes e Refugiadas.

Além da UC, participam na investigação, que é financiada pela União Europeia, através do programa ERASMUS+, as universidades de Gazi (Turquia) e de Florença (Itália).

"Considerando a complexidade do tema e as dificuldades relatadas por professores do ensino básico dos países envolvidos no projeto, o 'kit' resultou num conjunto de sugestões para o desenvolvimento global das crianças, a implementar na sala de aula, escola e comunidade", afirma a UC, numa nota enviada hoje à agência Lusa.

O conjunto de ferramentas, explicita a UC, consiste na proposta de atividades decorrentes de um currículo especificamente elaborado em torno de eixos temáticos fundamentais e complementado por esquemas de avaliação de competências dos alunos e da eficácia das intervenções.

"A nossa preocupação é a de que os currículos versem uma perspetiva sistémica e que as escolas que acolhem crianças migrantes promovam o diálogo intercultural", salienta Ana Cristina Almeida, coordenadora da equipa portuguesa envolvida no projeto.

"É essencial introduzir o lúdico para imersão num ambiente autêntico de aprendizagem significativa, que permita explorar aspetos, por vezes negligenciados, como as expressões, o envolvimento socioemocional, a coordenação entre o formal e não-formal e o respeito pela diversidade (linguística, cultural, na alimentação, da religião, etc.) e prevenir ocorrências indesejáveis como o 'bullying' ou outro tipo de exclusão", sustenta Ana Cristina Almeida, citada pela UC.

Do projeto Lend a Hand, que envolveu também a participação da Direção de Educação Nacional de Ancara (Turquia) e uma consultora para a formação de professores, resultou ainda um plano de ação estratégico dirigido aos decisores políticos dos países parceiros.

O documento apresenta "recomendações e medidas facilitadoras da inclusão, entre as quais o estreitamento da relação da escola com a comunidade e com a família, a formação professores e preparação para a interculturalidade, a importância de um intérprete e/ou mediador na escola e especialistas como psicólogos, a adequação de currículos visando a aprendizagem da língua, mas também uma aproximação aos hábitos de vida, valores e costumes", refere Ana Cristina Almeida.

"São propostas que visam melhorar as políticas já existentes e o enquadramento legal", acrescenta a especialista em psicologia da educação da UC.

São parceiros nacionais deste projeto a Associação Peaceful Parallel, agrupamentos de escolas de Coimbra e o Núcleo Regional de Viseu da Universidade Católica Portuguesa, que têm participado no teste do 'kit' e na disseminação da abordagem, refere a UC, indicando que a próxima etapa do estudo, desenvolvido ao longo dos últimos dois anos, consiste na "criação de uma rede internacional de escolas amigas da inclusão de migrantes".

O objetivo é partilhar conhecimento, boas práticas e recursos para que "as escolas dignifiquem a diferença e apoiem os professores, tutores, estudantes e famílias vulneráveis na prevenção do abandono precoce ou fracasso escolar", destaca Ana Cristina Almeida.

A mais-valia do projeto Lend a Hand, aponta a docente da FPCEUC, é "fornecer um conjunto de ferramentas, pela aprendizagem da língua portuguesa e consciencialização de todos das oportunidades ampliadas da abertura à diversidade".

"Têm sido feitos esforços providenciando regulamentos e recursos, mas por vezes dispersos ou de difícil acesso. Muito há ainda a fazer, nomeadamente em termos culturais, mas creio que nos situamos favoravelmente para uma efetiva inclusão de alunos migrantes", conclui Ana Cristina Almeida.

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