Kits da Proteção Civil. Adjunto de secretário de Estado indicou empresas

por RTP
O secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves, remeteu ontem para a Proteção Civil a responsabilidade pelos <i>kits</i> com golas inflamáveis Rafael Marchante - Reuters

A sugestão de empresas para a aquisição dos “kits de incêndio” a distribuir no âmbito do programa Aldeia Segura, Pessoas Seguras partiu de Francisco José Ferreira, adjunto do secretário de Estado da Proteção Civil e líder da concelhia socialista de Arouca, adianta esta segunda-feira o Jornal de Notícias. O secretário de Estado remeteu para a Proteção Civil a responsabilidade pela compra dos materiais, nomeadamente as golas antifumo inflamáveis.

Nas páginas do diário, pode ler-se que o adjunto do secretário de Estado assumiu ter recomendado “nomes para tais procedimentos”. No entanto, Francisco José Ferreira escusou-se a detalhar a forma como terão sido consultadas cinco empresas: Foxtrot, Brain One, Coldepor, Mosc e Edstates.

A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil acabou por pagar 350 mil euros à Foxtrot Aventura, detida pelo marido de uma autarca do Partido Socialista de Guimarães, e à Brain One - o Jornal de Notícias escreve que os proprietários desta empresa “têm, há vários anos, adjudicações da Câmara de Arouca”, onde o atual secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves, foi presidente da Câmara de 2005 a 2017.

No domingo, o secretário de Estado sustentou que o processo de compra dos 15 mil kits e 70 mil golas “foi desenvolvido pela Proteção Civil”. Segundo o JN, o dossier terá sido coordenado pelo gabinete do governante.

José Artur Neves insistiu ainda que a gola antifumo, “que alguns especialistas dizem que é inflamável”, visa sensibilizar e não proteger: “Não é um elemento para proteger o cidadão do fogo, porque não se pretende que o cidadão combate o fogo. Pretende-se transmitir ao cidadão que deve munir-se de um pano, seja ele uma camisola, seja ele uma toalha, para não respirar o fumo”.

Sandra Claudino, Jorge Esteves, Nelson Sousa, Liliana Claro - RTP

Também a Autoridade de Emergência e Proteção Civil sustentou, na semana passada, que os materiais incluídos no kit entregue em 1909 localidades são de sensibilização para boas práticas e não de proteção individual.

O ministro da Administração Interna determinou a abertura de um inquérito sobre este processo de contratação.

“Face às notícias publicadas sobre aspetos contratuais relativamente ao material de sensibilização, o ministro da Administração Interna pediu esclarecimentos à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e determinou a abertura de um inquérito urgente à Inspeção-Geral da Administração Interna”, indicou no sábado, em comunicado, o Ministério de Eduardo Cabrita.
“Controvérsias estéreis”

Eduardo Cabrita afirmou na última noite que a resposta aos incêndios “não deve servir para conflitualidades pré-eleitorais, nem para controvérsias estéreis”.O JN dá conta de “descontentamento na cúpula da Proteção Civil” perante as posições públicas da tutela.


”Ainda é muito cedo para qualquer balanço, mas julgo que mais importante do que isso é que todos os portugueses saibam que, neste ano tão especial, este não é um tema para conflitualidade pré-eleitoral”, propugnou o titular da pasta da Administração Interna, que falava no Barreiro, durante as comemorações dos 125 anos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Sul e Sueste.

O ministro teceu também elogios ao programa Aldeia Segura, Pessoas Seguras.


“Ainda na sexta-feira me dizia a presidente da Câmara de Silves que, num incêndio de particular risco, duas equipas da Aldeia Segura foram acionadas pela autarquia para prevenir aquilo que eram os riscos que estavam ali. Este é um esforço de todos. Quando dizemos Proteção Civil somos todos nós”, vincou.

Na sexta-feira, questionado em Mafra pelos jornalistas, o governante havia classificado a notícia sobre o material inflamável nos kits da Proteção Civil como “irresponsável e alarmista”.

c/ Lusa
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