Marcelo diz que este é o "tempo da dor"

por RTP
Madeira, árvore, Funchal, Festa do Monte Homem de Gouveia - Lusa

O Presidente da República disse esta terça-feira, no Funchal, que este é o "tempo da dor" e não ainda o de apurar responsabilidades face à tragédia ocorrida no Monte, onde a queda de uma árvore matou 13 pessoas e feriu 49.

"Tudo isto começou ao meio-dia e oito minutos. São oito da noite. Portanto, há um tempo para tudo. Este tempo ainda é o tempo da dor", disse Marcelo Rebelo de Sousa, no momento em que chegou ao Hospital Central do Funchal, onde continuam internadas 16 pessoas, vítimas da queda da árvore, no Largo da Fonte, ocorrida pouco antes do início da procissão de Nossa Senhora do Monte, a padroeira da Madeira.

O Presidente da República vincou que nos próximos dias o tempo vai continuar a ser o da dor, sobretudo para os familiares dos falecidos e para os que estão hospitalizados e seus familiares.

"E depois, o que se sucederá a seguir, naturalmente é da competência das entidades regionais", disse Marcelo Rebelo de Sousa, realçando que o apuramento de responsabilidades ou a abertura de inquéritos não é da competência do Presidente da República.

O Presidente da República chegou ao Funchal com o intuito de "testemunhar conforto, solidariedade e apoio" ao povo madeirense num "momento de dor".

"Trata-se de uma realidade que chocou, senti isso, todos os portugueses", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas à chegada ao arquipélago da Madeira.

"Era preciso testemunhar imediatamente esse conforto, essa solidariedade, esse apoio ao povo madeirense", prosseguiu o chefe de Estado português, ao lado do presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, indicando que irá deslocar-se ao local do incidente, ao hospital e às instalações da Proteção Civil local.

Questionado sobre o apuramento das responsabilidades, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "neste momento de dor" o importante agora "é testemunhar a solidariedade, é testemunhar o conforto e estar junto daqueles que sofrem".

"Isso é que é importante", concluiu.

Já no local do incidente, e em novas declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que não cabe ao Presidente da República opinar sobre o apuramento de responsabilidades e o respetivo inquérito a este incidente.

"O Presidente da República não tem de opinar sobre isso. Isso é uma matéria da competência das autoridades regionais", indicou."O Presidente da República está a traduzir a solidariedade clara, total e incondicional dos portugueses. (...) Não vou opinar sobre isso, é uma questão que tem o seu momento e tem as entidades competentes para o efeito. Este ainda não é o momento", prosseguiu.

E lembrou que este é o momento de olhar para as vítimas do incidente e as respetivas famílias.

"Este é o momento anterior a isso. Lembrem-se que, neste momento, estão a ser atendidos feridos, uns mais graves, outros menos graves, e estão a ser consoladas as famílias", salientou.

"Não é o Presidente a ter competências nessa matéria. Quem tem essa competência, na altura adequada, e penso que não é esta naturalmente, tomará a iniciativa que deva entender que deve ser tomada", concluiu.
Ministério Público abre inquérito

Ministério Público instaurou um inquérito na sequência da morte de 13 pessoas na freguesia do Monte, arredores do Funchal, Madeira, devido à queda de uma árvore, disse à Lusa fonte da Procuradoria-Geral da República.

"O Ministério Público decidiu instaurar inquérito", disse fonte da PGR, em resposta escrita enviada à Lusa.Hospital do Funchal confirma 13 mortesDezasseis das 52 pessoas que deram entrada esta tarde no hospital do Funchal permaneciam internadas ao início da noite de hoje, na sequência da queda de uma árvore, que provocou ainda 13 mortos.

Os números foram avançados em conferência de imprensa pelo adjunto da direção clínica do Serviço Regional de Saúde da Madeira (SESARAM), Miguel Reis), em conferência de imprensa, cerca das 19h00, para atualizar o estado das vítimas que recorreram àquela unidade hospitalar do Funchal.

Das 52 vítimas que deram entrada, três faleceram até ao momento, nomeadamente uma criança que chegou ao serviço de urgência já cadáver e outras duas pessoas que vieram a morrer na sequência dos graves ferimentos.

"Vitimas mortais: 13 pessoas. Dez faleceram no local, uma criança entrou cadáver e dois adultos faleceram no serviço de urgência", complementou.

Miguel Reis referiu que "relativamente às vítimas estrangeiras envolvidas [na tragédia], estiveram envolvidas cinco vítimas, quatro das quais graves", acrescentando que uma de nacionalidade francesa faleceu no local e outra húngara veio a morrer já no hospital.

Mencionou que estão ainda hospitalizados dois outros cidadãos estrangeiros - um francês e outro alemão -, tendo sido registado o caso de um holandês que já teve alta.População tinha alertado para o perigo
Vários testemunhas dizem que as autoridades conheciam o risco de queda de árvores no local da tragédia. Fontes no local referem que a árvore estava amarrada há dois anos e o tronco estava oco.

A população fazia queixas à câmara do Funchal há vários anos, e em março vários galhos de grande porte caíram no local.
Árvore que caiu não estava sinalizadaO Presidente da Câmara do Funchal afirmou que a árvore não estava sinalizada como em risco de queda. Paulo Cafôfo garantiu que não foi feita nenhuma queixa sobre aquela árvore em específico.

A árvore em causa "nunca esteve sinalizada como em perigo de queda e também nunca deu entrada nos serviços camarários qualquer queixa com vista à sua limpeza ou abate, por parte de instituições públicas, mormente da junta de freguesia do Monte, do proprietário do terreno, nem dos cidadãos".

Segundo Paulo Cafôfo o responsável, "todos os pedidos e reclamações que deram entrada nos serviços camarários, desde 2013, disseram respeito a sucessivas limpezas de plátanos, que foram sempre prontamente efetuadas".

O responsável sublinhou também que "a árvore que caiu não estava amarrada a qualquer cabo", mencionando que esta situação acontece entre um plátano, um loureiro e um til, que "não foram afetados" e estão relacionados com uma decisão tomada pela anterior vereação, liderada por Miguel Albuquerque, atual presidente do executivo madeirense, devido a "uma fissura" que neste momento "já está consolidada e não oferece perigo".
Árvores não são desbastadas há muito tempo
As árvores de grande porte existentes no Largo da Fonte, no Funchal, onde a queda de uma matou hoje 13 pessoas e feriu 50, não são desbastadas "há muito tempo", disse a presidente da Junta de Freguesia do Monte.

Idalina Silva explicou à agência Lusa que foram apresentados pedidos de intervenção à Câmara Municipal do Funchal, atualmente liderada pela coligação Mudança (PS, BE, PTP, MPT e PAN), mas assegurou que a última "limpeza de fundo" ocorreu "há muito tempo", no decurso da anterior vereação chefiada pelo PSD.

A presidente da Junta de Freguesia encontrava-se esta tarde no local, onde ainda decorrem as operações de remoção da árvore - um plátano - que caiu sobre uma multidão que aguardava a passagem da procissão de Nossa Senhora do Monte, a padroeira da Madeira, pouco depois do meio-dia.Queda de árvore provocou 13 mortos
O incidente ocorreu cerca das 12h00, num local onde se concentravam muitas pessoas para participar naquele que é considerado o maior arraial da Madeira, momentos antes de sair a procissão, que foi cancelada.

A Festa do Monte, o maior arraial da Madeira em honra da padroeira da ilha, foi marcada pelo segundo ano consecutivo pela tragédia, sendo a segunda vez que a queda de uma árvore mata populares em agosto na região.

Mesmo junto ao local onde é tradicional as pessoas comprarem velas e outros objetos em cera para cumprir promessas, agradecer graças alcançadas ou fazer pedidos, 13 acabaram por perder a vida, esmagadas pela árvore.

c/ Lusa
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