Marcha de associações de deficientes alerta para revisão da reforma antecipada

por Lusa

Seis associações promovem no sábado uma marcha para alertar para os problemas das pessoas com deficiência, entre eles o critério para a reforma antecipada, que querem passe a ser de 60% de incapacidade, foi hoje anunciado.

A Marcha Pela Vida Independente 2022, agendada para Vila Real, Porto e Lisboa, é organizada pelo Centro de Vida Independente, Voz do Autismo, Associação Spina Bifida e Hidrocefalia de Portugal, Federação das Doenças Raras de Portugal, Associação Salvador e Federação das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral.

A lei aprovada em novembro de 2021 pelo PS e PSD prevê a antecipação, sem cortes, da pensão a partir dos 60 anos e com 15 anos de carreira contributiva, para pessoas com deficiência com um grau de incapacidade reconhecido de pelo menos 80%.

"Queremos que [a reforma] seja atribuída a partir dos 60% de grau de incapacidade", defendeu o antigo deputado do BE e porta-voz da organização da marcha, Jorge Falcato.

E argumentou: "há muita gente com incapacidade a partir dos 60% que tem um desgaste físico enorme no exercício de uma profissão, qualquer que ela seja, e é uma injustiça enorme estar a discriminar pessoas, ainda por cima com base num atestado (...) que tem critérios médicos, que têm a ver, apenas, com a perda de funcionalidade, e não avalia a dependência, ou o grau de dependência ou de esforço que as pessoas têm de fazer".

Estabelecendo uma comparação, o antigo deputado bloquista explicou que "qualquer pessoa cega tem mais de 90% de incapacidade e uma pessoa tetraplégica, muitas vezes com uma tetraplegia moderada, pode não ter os 80%".

Para Jorge Falcato, "há aqui um critério de avaliação de incapacidades que é falível e isto condiciona tudo na vida das pessoas (...) e deixa de fora pessoas com verdadeira necessidade de ter uma reforma antecipada".

Partindo da proposta inicial do BE de "idade a partir dos 55 e mais de 60% de incapacidade" para merecer a reforma antecipada, o representante da marcha abriu a porta "a que haja ajustes", sublinhando, no entanto, que abranger os casos que defendem "é um universo muito pequeno e uma verba irrisória em termos de Orçamento de Estado".

O manifesto quer também "rever e uniformizar o processo de avaliação na atribuição (e quantificação) do Atestado Médico de Incapacidade Multiusos e exigência de celeridade", depois de a chegada de "pandemia estragar ainda mais o que já estava mal", acrescentou o porta-voz.

Argumentando ser o atestado "baseado num modelo médico", lembrou a recomendação do comité de peritos das Nações Unidas que luta pelos direitos das pessoas com deficiência, no parecer que fez, de "revisão da metodologia de verificação de incapacidades".

O manifesto sobre a marcha divide-se em 16 pontos e nele os promotores vão "exigir ao poder político a efetiva e concreta implementação de políticas para a deficiência, num processo participado -- e que não se traduza em meras estratégias e/ou programas --, cumprindo o lema de "Nada sobre nós sem nós".

Entre as "prioridades estratégicas" estão o "direito a uma vida independente", a uniformização, nacional e regional (continente e regiões autónomas), de projetos e legislação referente a direitos das pessoas com deficiência", "cumprir os prazos, simplificar e executar, na íntegra, as verbas orçamentadas para o Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio" e "exigir a fiscalização e o cumprimento das quotas de acesso ao emprego (público e privado) para pessoas com deficiência".

"Assegurar rendimentos suficientes para viver autónoma e condignamente", "promover a acessibilidade nos transportes públicos, o direito à livre circulação nas ruas e em todos os espaços de uso público", bem como o "direito à habitação com acessibilidade (de promoção pública) e financiamento para adaptação dos fogos inacessíveis existentes" e "promover a universalidade e acessibilidade do Direito de Voto", são outras das reivindicações.

Organizada no âmbito do Dia Europeu da Vida Independente, a marcha vai sair às 15:00, da Avenida da Liberdade (Lisboa), Avenida 05 de Outubro (Vila Real) e Avenida dos Aliados (Porto).

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