Media e terroristas "alimentam-se uns dos outros"-Especialista

por Agência LUSA

O aproveitamento das novas tecnologias da comunicação pelas organizações terroristas e o perigo de os "media" e os terroristas "se alimentarem uns dos outros" esteve hoje em debate no segundo dia de uma conferência promovida pela Fundação Gulbenkian, em Lisboa.

Dissertou sobre esta matéria Brigitte L. Nacos, professora de Ciência Política da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e também correspondente de vários jornais alemães, no segundo dia do colóquio "Terrorismo e Relações Internacionais", que hoje termina.

"Numa época de comunicação global e internacional, nada impede os mensageiros do ódio e do terrorismo de ultrapassarem as fronteiras nacionais", afirmou.

Na opinião da especialista, as organizações terroristas "são muito eficazes" na utilização dos meios de comunicação, uma vez que "espalham as suas poderosas palavras e imagens por todo o mundo" condicionando e recrutando "jovens impressionáveis" para as suas "causas violentas".

Negando, noutro passo, que os "media" favoreçam qualquer tipo de violência, a especialista em ciência política considerou que, "inevitavelmente, cada acto terrorista dá origem a uma cobertura mediática", cujo resultado vai de encontro ao pretendido pelos terroristas: "publicidade maciça e uma oportunidade para mostrarem a sua capacidade de lutar contra as nações mais fortes".

Neste sentido, sublinhou, cada uma das partes ("media" e terrorismo) "alimenta-se" uma da outra.

"Além de utilizarem as novas tecnologias da informação e da comunicação, os terroristas adaptam as suas iniciativas propagandistas ao cenário em mudança dos +media+", disse.

A propósito, apontou a Al-Qaida e Usama bin Laden como sendo um "excelente exemplo".

Em seu entender, quando os terroristas atacam ou tencionam cometer actos de violência têm já objectivos mediáticos: atrair a atenção e criar "intimidação (Ó) reconhecimento das suas causas (Ó) respeito e simpatia" e, por fim, "desejo de alcançar uma legitimidade quase total".

"Obter a atenção dos +media+, do público, e dos governos", bem como "intimidar os seus inimigos" é o objectivo daqueles que "querem publicitar as suas causas políticas e dependem da comunicação social para explicar e discutir as razões" das suas práticas, disse.

Numa alusão aos vídeos com imagens de práticas terroristas difundidos na televisão ou na Internet, defendeu que "seria melhor não reagir a tais imagens, como alguns governos actualmente fazem".

Mostrar a "propaganda da morte" à escala global permite que "os terroristas das várias partes do mundo aprendam [sobre tais práticas] e adoptem os métodos mais eficazes para um terrorismo mediatizado", frisou.

"Os terroristas de hoje perpetram a violência e - se quiserem -, divulgam a sua própria morte", assinalou.

Em suma - disse ainda - "os terroristas serão sempre bem sucedidos ao explorarem os +media+ em seu proveito e sempre preferiram trabalhar perto de profissionais" da comunicação.

"Limitar a cobertura de actos terroristas é tarefa quase impossível, mas o que podemos fazer é educar o público", concluiu.

SMS.

Lusa/Fim


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