Ministério Público abre inquérito sobre ameaças a deputadas e à SOS Racismo

por RTP
Manifestação anti-racismo em Lisboa após homicídio do ator Bruno Candé, no final de julho Catarina Demony - Reuters (arquivo)

O Ministério Público instaurou esta quinta-feira um inquérito-crime às ameaças feitas por e-mail a várias deputadas e à associação SOS Racismo, depois de a autoproclamada "Nova Ordem de Avis - Resistência Nacional" ter feito uma vigília junto à associação.

"Confirma-se a instauração de inquérito, no âmbito do qual serão investigados todos factos que vieram a público nos últimos dias", adiantou a Procuradoria-Geral da República. 

A abertura do inquérito surge depois de as deputadas do Bloco de Esquerda Beatriz Dias e Mariana Mortágua terem dito que iam apresentar queixa ao MP na sequência de ameaças recebidas.

Além das duas deputadas bloquistas, foram também visados a deputada não inscrita (ex-Livre) Joacine Katar Moreira e Jonathan Costa, da Frente Unitária Anti-Fascista.

Já o dirigente da SOS Racismo, Mamadou Ba, foi prestar declarações na quarta-feira à Polícia Judiciária e confirmou ter recebido, juntamente com mais nove pessoas, um e-mail a estipular o prazo de 48 horas para abandonarem o país, caso contrário corriam risco de vida.

"Informamos que foi atribuído um prazo de 48 horas para os dirigentes antifascistas e antirracistas incluídos nesta lista, para rescindirem das suas funções políticas e deixarem o território português"
, lê-se no e-mail.

No mesmo texto, os autores referem que se o prazo for ultrapassado "medidas serão tomadas contra estes dirigentes e os seus familiares, de forma a garantir a segurança do povo português", e que "o mês de agosto será o mês do reerguer nacionalista".

Datada de 11 de agosto, a mensagem foi enviada a partir de um endereço criado num website de e-mails temporários e é assinada por "Nova Ordem de Avis - Resistência Nacional", a mesma designação de um grupo que reclamou, na rede social Facebook, ter realizado, de cara tapada e tochas, uma "vigília em honra das forças de segurança" em frente às instalações da SOS Racismo, em Lisboa.
Marcelo pediu “tolerância zero”
O Presidente da República recomendou aos democratas "tolerância zero" e "sensatez" para combater o racismo, ao comentar as ameaças de que foram alvo três deputadas e outros sete ativistas.

"Os democratas devem ser muito firmes nos seus princípios e, ao mesmo tempo, ser sensatos na sua defesa. Firmes nos princípios significa uma tolerância zero em relação àquilo que é condenado pela Constituição (da República Portuguesa), sensatez significa estar atento às campanhas e escaladas que é fácil fazer a propósito de temas sensíveis na sociedade portuguesa", disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Também o Governo e vários partidos, bem como o presidente da Assembleia da República, repudiaram as ameaças feitas aos ativistas e à associação.

c/ Lusa
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