Os moradores de Porto Pim, na ilha do Faial, que na quarta-feira foram retirados pela Proteção Civil devido aos galgamentos do mar provocados pelo furacão "Lorenzo", regressaram esta quinta-feira a casa para fazer limpezas e avaliar os estragos.
Maria de Jesus Neto, uma das moradoras daquela zona, contou à agência Lusa, ainda com a voz embargada, como viveu os momentos em que a força da ondulação lhe abriu a porta de casa sem pedir licença e inundou o rés-do-chão, danificando mobílias e eletrodomésticos.
"A força da água foi tanta que nos pôs a porta dentro. Fui projetada para a escada e estivemos com água dentro de casa até acima do joelho. A parte de baixo da casa está toda destruída. As mobílias e os eletrodomésticos estão praticamente despachados", recorda Maria de Jesus, que nunca se lembra de uma situação semelhante.
Um pouco mais à frente, o delegado no Faial da vice-presidência do Governo Regional, Marco Goulart, também faz contas aos estragos provocados pelo furacão, que danificaram os serviços da Inspeção Regional de Atividades Económicas, obrigando a retirar tudo para a rua.
"Foram cerca de 60 a 70 cm, que são as marcas bem visíveis do mar, que entrou dentro das salas. Todos os documentos físicos, à exceção dos computadores e máquinas pessoais, que foram retiradas pelos colaboradores, tudo o resto foi danificado", explicou Marco Goulart.
A Rua do Castelo e a Rua Conde Ávila, na zona de Porto Pim, já foram inundadas, várias vezes, devido a temporais, mas nunca com esta intensidade.
Pedro Afonso comprou casa nesta zona da cidade, atraído pela beleza da baía de Porto Pim, mas já na altura, precaveu-se, incluindo taipas nas suas portas.
"O pior que a gente pode fazer é não olhar para o passado e para o saber acumulado. As pessoas aqui, muitas vezes, tinham já este tipo de taipais porque, obviamente, passaram ciclicamente, por estas situações, e nós, na altura, fizemo-lo logo", justificou.
Só que, os taipais serviriam de pouco em algumas casas, onde até o teto ficou danificado, com a força da ondulação.
Apesar do trabalho e de algumas lágrimas que ainda persistem, ninguém fala, no entanto, em abandonar o lugar de Porto Pim, que hoje, com o mar calmo e com o sol a raiar, voltou a mostrar porque razão continua a ser uma das principais atrações turísticas do Faial.
A passagem do furacão "Lorenzo" pelos Açores na quarta-feira provocou mais de 250 ocorrências e obrigou ao realojamento de 53 pessoas, a maior parte das quais na ilha do Faial, pertencente ao grupo Central do arquipélago.