Morreu Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal

por RTP
Nacho Doce - Reuters

Morreu Américo Amorim. O empresário era, segundo a Forbes, o homem mais rico de Portugal, com uma fortuna superior a quatro mil milhões de euros. Morreu esta quinta-feira, vítima de pneumonia, a poucos dias de fazer 83 anos.

Américo Amorim nasceu em 1934, em Mozelos, no concelho de Santa Maria da Feira. Frequentemente foi apresentado como o “rei da cortiça”, negócio que corria na família desde o século XIX e que contribuiu fortemente para a fortuna que criou.

O empresário tornou-se o homem mais rico de Portugal, segundo a revista Forbes, em 2010. Foi nesse ano que, com uma fortuna avaliada em quatro mil milhões de euros, Amorim ultrapassou Belmiro de Azevedo.

Apesar da fortuna, Américo Amorim tentou seguir uma vida discreta. Nos arquivos da RTP são poucas as entrevistas de fundo. Raramente falou da família, apesar de ter confessado ser necessário “uma mulher muito generosa e bom ambiente em casa para poder aceitar esta limitação de tempo que tenho para a família”.

Questionado em 1989 sobre se se considerava “um homem de sucesso, um homem com dinheiro” e “um homem com poder”, Amorim disse não saber responder. “Sei apenas que gosto do meu trabalho”, afirmou.

Amorim garantia não ter interesse pela política, área que nunca o entusiasmou. “Do que eu gosto é da economia, da indústria”, respondeu à RTP.
A cortiça na família
O império da cortiça que marcou a vida do empresário nasceu ainda antes dele mesmo. Os primórdios da Corticeira Amorim começam em 1870. Foi nesse ano que António Alves de Amorim cria uma fábrica de rolhas de cortiça para a indústria dos vinhos no cais de Vila Nova de Gaia.
"Américo Amorim ficará para sempre como referência e um líder ímpar, que acreditou e se dedicou pessoalmente a garantir uma visão e um futuro próprio para o projeto da Galp", lê-se numa nota de pesar da energética.

Um desentendimento entre os sócios - das famílias Belchior e Amorim - acaba em tribunal. António Alves de Amorim acaba por perder a causa, deixa o Porto e segue Santa Maria de Lamas.

A história recomeça em março de 1922, com a fundação da Amorim & Irmãos, já liderada pela segunda geração. Américo Amorim, o homem que liderará o império da cortiça na segunda metade do século XX, nasce em 1934.

Américo Amorim, bem como os irmãos, entram na direção da empresa em 1953, já depois de Américo ter concluído o Curso Geral do Comércio. A corticeira era ainda pequeníssima porção do império que se tornou hoje.

“Rolhas foi a origem mas obviamente diversificámos por outras atividades económicas no últimos anos”, explicou o empresário à RTP em 1989. O objetivo parecia já claro: mais produtos e mais mercados.

"Eu tenho sempre a ideia, sempre foi uma coisa minha, de que não devo ter nem um só mercado, nem um só produto, nem um só continente, nem uma só moeda", justificou à RTP.
"Um passo à frente"
O homem que sempre esteve “um passo à frente no tempo dos que o rodeavam” viu oportunidades onde muitos hesitaram. Américo Amorim apostou nos negócios com o leste da Europa num período em que Portugal não tinha relações diplomáticas com a antiga União Soviética.

Vendeu cortiça aos países de leste, fez crescer a produção durante o condicionamento industrial. Emprestou tratores e comprou cortiça às cooperativas que o expropriaram depois de abril de 1974. Em 1998, trouxe Fidel Castro a Santa Maria da Feira. Chegou ao topo, com a sua corticeira a ser hoje responsável por um quarto da produção mundial de cortiça.

Chegou ao lugar do mais rico de Portugal em 2010, quando ultrapassou Belmiro de Azevedo na lista da revista Forbes. Américo Amorim surge na 212.ª posição na lista das personalidades mais ricas do mundo, com uma fortuna avaliada em quatro mil milhões de dólares.

Na lista de 2016, o empresário surge na posição 385, tendo descido 16 lugares em relação ao ano anterior. Apesar da descida no ranking, a fortuna de Américo Amorim aumentou de 4,1 para 4,4 mil milhões de dólares. Segundo a Forbes, a fortuna de Amorim é superior à de Donald Trump.

Apesar do empenho na indústria da cortiça, Américo Amorim não deixou de apostar noutras áreas. Esteve ligado à criação do BPI, do BCP, à fundação da Telecel – hoje Vodafone Portugal – e à privatização da Galp.

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