Peniche. Presos políticos assistiram à revolução de Abril pela RTP

por RTP

No dia em que se comemora o 45.º aniversário do 25 de abril, José Pedro Soares recordou os anos em que esteve preso no Forte de Peniche.

O antigo preso político foi preso pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) durante quase três anos e meio. Primeiro em Caxias no período dos interrogatórios, aguardando pelo julgamento. E depois de condenado esteve cerca de um ano no Forte de Peniche, espaço usado como prisão política durante o Estado Novo.

“Peniche era o local do cumprimento das penas” da maioria dos presos políticos, depois de julgados em tribunal, disse à RTP.

Foram “tempos muito difíceis”, interrogatórios infindáveis, “coisas brutais”, “torturas dia e noite”, recorda. A PIDE forçava os presos, normalmente opositores do Governo, “a dizer com quem reuniam, com quem distribuíam papéis”.

Mas a luta dos presos políticos, como José Pedro Soares, e de todos os que faziam frente ao regime de Oliveira Salazar, “pela liberdade, pela denúncia das injustiças que havia” não cessava.

O tribunal decidia penas “incríveis” e “íamos para Peniche”. Não se ouvia nada para além do mar e das gaivotas, durante o período na prisão.

“Vivíamos em pequenas celas, fechados durante o dia”, mas nos últimos tempos antes da revolução de Abril de 1974 e depois de muita contestação, “já podíamos circular no corredor, já tínhamos uma sala, até já tínhamos uma televisão”, explicou. E foi nessa televisão que viu na manhã de 25 de Abril as notícias e ouviu a leitura de “um documento das Forças Armadas”. “Foi a partir daí que fomos acompanhando o que se passava” naquele dia em Portugal.

“Foi um acontecimento muito importante e eu assisti na cadeia ao 25 de Abril. E saí dia 27 de abril. Foi, de facto, uma data magistral!”

Para José Pedro Soares e outros companheiros no mesmo contexto não foi uma surpresa, mas foi vivido com muita “felicidade”.

“Nós sabíamos que havia um desenvolvimento da luta muito grande nas empresas. Que o movimento democrático tinha cada vez mais protagonismo. Havia mais pessoas presas. Até sabíamos que havia também reuniões dos capitães.”

Além disso era visível o “grande descontentamento no seio das Forças Armadas” e “o fascismo estava muito isolado: já tinham demitido o Spínola e o Costa Gomes”, acrescentou.

“Já contávamos que, mais tarde ou mais cedo, isto tinha que acontecer. Portugal estava muito isolado no contexto internacional. A luta aumentava cada vez mais em Portugal. Era difícil manter a guerra com as colónias. Isto era visível.”

Quanto ao tempo enquanto preso político, José Pedro explicou que foi preso por ter sido denunciado por outra pessoa que tinha sido sujeita aos interrogatórios da PIDE. Mesmo admitindo que sofreu alguns tipos de maus tratos, como tortura do sono e até espancamento, diz ter recusado sempre a denunciar e a revelar à PIDE certas informações.“Enquanto me recusei levei sempre muita pancada”.

“Quando fui preso fui muito sujeito a torturas(…). E a PIDE queria que eu dissesse quem eram os meus amigos, com quem é que eu tinha reuniões, com quem é que eu desenvolvia atividades conspirativas. (…) E eu já estava ligado também à estrutura clandestina do Partido Comunista Português.”

Ainda na fase de interrogatório, em Caxias, foi sujeito a um período de seis dias e seis noites “sem poder dormir” e a ser “espancado”.

Esteve desde dia 6 até dia 27 de agosto de 1972 numa sala de interrogatório e diz que dormiu apenas “uma noite” e ainda hoje tem “manchas” no corpo.

José Pedro Soares, convidado da RTP, esteve preso durante mais de três anos até à Revolução de Abril de 1974.
pub