Portugal tem vindo a melhorar a estrutura de combate a incêndios

por RTP

O presidente do Fórum Florestal, António Louro, considera que Portugal tem "vindo lentamente a melhorar a estrutura de combate e a fazer pequenas intervenções que tendem sempre a melhorar”.

“Nós temos um sistema de combate a incêndios dos melhores do mundo. Temos uma grande capacidade de intervenção nos primeiros momentos. E com isso asseguramos mais de 99,9 por cento dos incêndios”,

Em entrevista à RTP, o presidente do Fórum Florestal frisa que o problema está “quando não seguramos naquele primeiro combate inicial”.

“As condições que estão na nossa paisagem são tão propícias ao rápido ganhar de dimensão dos fogos que gera um fenómeno, praticamente incontornável. Enorme velocidade de propagação, enorme intensidade de fogo. E isso é extremamente difícil de combater”.

“Se nós não conseguirmos quando são pequenos. Assim que eles ganham dimensão gera-se um novo fenómeno”, sublinhou.

António Louro frisa ainda que “infelizmente temos muito a melhorar” na forma de enfrentar os incêndios. “Tem sido uma resposta do Governo nos últimos tempos melhorar a coordenação das forças, a capacidade técnica de análise desses fogos”.

“Nos fogos pequenos a tática é simples. É tudo ao molho e fé em Deus. Todas as coisas são bem feitas. Nos grandes é preciso escolher uma estratégia, recuar, escolher o sítio certo, agrupar os homens, poupar as forças. É preciso estabelecer uma planificação para podermos ter algum sucesso. E ainda assim isso é extremamente difícil de atingir”, disse.

O presidente do Fórum Florestal “teme que grande parte da nossa paisagem está em tais condições de indefensabilidade que não vai restar outro caminho se não vê-los arder”.

“Se olharmos com atenção. Os sítios que arderam nos anos 80, quinze anos depois voltaram a arder. Com um incêndio maior ainda. 15 anos depois voltaram a arder e temos hoje territórios como Monchique que já vão na quarta volta do fogo”.

“Não está a resultar. E eu acho que sem irmos ao cerne da questão que é a gestão do território, o ordenamento da paisagem. O criarmos uma paisagem mais parecida com a que tivemos nos anos 50, 60, com muito menos carga combustível. Não vamos sair deste círculo”, alertou.

António Louro avisa que “como país vamos continuar a ter muitos e grandes fogos. Não é no próximo ano. É na próxima década. Se começarmos a trabalhar já hoje para tentar everter o processo”.

O presidente do Fórum Florestal afirma que o “despovoamento do interior e o desaparecimento da figura do agricultor do minifúndio, que labutava no seu interesse. Mas que em conjunto com a comunidade criava uma paisagem /…) e o seu desperecimento deixou vago o espaço e a natureza ocupo-o com muita biomassa”.

“Temos de perceber que não tendo essa ferramenta de gestão do território temos que encontrar outras. Temos que as desenvolver. Temos que as estudar. À escala da paisagem. À escala do problema que temos. E com os recursos necessários para que isso aconteça. O país tem que se mentalizar que tem aqui um enorme problema”, rematou.

“Se tomarmos as medidas certas e percebermos o que está a acontecer”, afirmou em entrevista à RTP.

Para o especialista, “o primeiro grande recado que a natureza nos está a dar é que nos locais onde se instalaram os primeiros grandes incêndios florestais, na década de 80, só voltou a crescer uma coisa. Incêndios maiores ainda”.

“Na década de 80 começámos por achar grandes os incêndios de 10 e 15 mil hectares. Hoje vamos em incêndios de 50 a 60 mil hectares. Alguma coisa não está a correr bem aqui”, acrescentou.

O presidente do Fórum Florestal considera que existe “de base um problema estratégico. O país encarou como resposta aos incêndios o combate. E o combate não está a resultar como solução. Nem sequer está a conseguir atenuar o problema”.

“Temos que ir ao cerne da questão, que está na gestão do território. Na morte daquilo que era o nosso instrumento de gestão do território que foi a aldeia e o agricultor. Está no desaparecimento do sistema económico que os viabilizou durante milénios”.

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