Primeira sequenciação de 209 genomas do vírus da gripe

por Agência LUSA

Em vésperas do início da época anual da gripe, uma equipa de cientistas sequenciou 209 genomas completos do vírus A da influenza humana, o que permitirá conhecer melhor as suas mutações e desenvolver vacinas mais eficazes.

Os investigadores, do Instituto para a Investigação Genómica (TIGR), relatam na edição de hoje da revista Nature os primeiros resultados de um projecto de larga escala para sequenciar o vírus influenza.

Esta descoberta vai ajudar os investigadores a seguir a pista dos vírus da gripe, percebendo melhor as suas evoluções, e a desenvolver vacinas mais eficientes, afirma Elodie Ghedin, coordenadora do estudo.

Segundo a também directora do laboratório de genómica viral do TIGR, o estudo "fornece um retrato mais detalhado sobre os movimentos do vírus da gripe entre as comunidades".

Todos os anos, na época da gripe, um painel de cientistas tenta identificar várias estirpes predominantes e decide quais as que vai utilizar na próxima campanha de vacinação, mas as escolhas são falíveis, porque o vírus da influenza está constantemente a mudar.

Mas agora, segunda a investigadora, com a decifração dos genomas de diferentes estirpes da influenza, os investigadores podem assinalar as mutações que fazem com que determinadas estirpes se tornem mais virulentas e adquiram a capacidade de infectar novas espécies ou de desenvolver resistências perante a resposta imunitária.

Assim, estes novos dados oferecem uma nova estratégia, já que "em plena época de gripe, podemos determinar com mais precisão que estirpes de influenza estão presentes na população, quais as dominantes e com que eficiência actua a vacina", afirmou.

Os 209 genomas foram obtidos a partir de mostras de vírus de pacientes que deram entrada em hospitais de Nova Iorque ao longo das últimas cinco épocas gripais, de 1999 a 2004.

Quase todos os genomas representam a estirpe H3N2 do vírus da gripe, que predominou durante aqueles anos, tendo os investigadores detectado pelo menos três variantes da estirpe.

Na época da gripe de 2002/2003 uma variante mais pequena do H3N2 recombinou-se com a dominante, dando origem a uma nova estirpe já no final da época.

Esta nova estirpe desenvolveu-se rapidamente, tornando-se o vírus dominante da época gripal de 2003/2004. Como os cientistas não utilizaram esta estirpe encontrada tardiamente na vacina de 2003/2004, a mesma revelou-se pouco eficaz.

Este estudo apresenta os primeiros resultados do "Projecto de Sequenciação do Genoma da Influenza", lançado em 2004 pelo Instituto Nacional de Alergias e de Doenças Infecciosas" em colaboração com outras associações.

Como parte deste programa, o TIGR pretende sequenciar milhares de vírus responsáveis pela gripe humana, mas também pela gripe das aves, dos cavalos e dos porcos, para tentar reconhecer as mudanças genéticas.

Estes novos dados surgem numa altura em que a gripe se assume como um grande problema de saúde pública, com o risco de a gripe das aves se transformar numa nova pandemia.

De acordo ainda com os investigadores, num ano comum a gripe mata perto de meio milhão de pessoas em todo o mundo, mas no último século três pandemias - 1918, 1957 e 1968 - fizeram milhões de mortos.

Actualmente, os cientistas receiam que estirpes virulentas da influenza existentes em outras espécies, como a estirpe H5N1 da gripe das aves, detectada em aves domésticas e migratórias na Ásia e na Rússia, sofram uma mutação para a variante humana e desencadeiem uma nova pandemia.

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