Queda de avião em Tires causada por falha no motor

por RTP
O relatório acrescentou como fator contributivo para o acidente “a falta de formação adequada do piloto" Lusa

As causas para a queda do avião em Tires, em abril de 2017, são agora conhecidas. O relatório final do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) revela que a queda deveu-se a uma falha do piloto após problema no motor. A formação desadequada é outro fator apontado.

Mais de um ano depois, são conhecidas as causas da queda de um avião em Tires que provocou cinco mortos. “Falha do piloto em manter o controlo da aeronave após a perda de potência no motor esquerdo” é a causa apontada, segundo o relatório final do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GRIPAAF).

A investigação concluiu que “o motor esquerdo estava a produzir uma potência significativamente inferior ao motor direito no momento do impacto” levando à perda de controlo. As causas para a avaria do motor, por sua vez, “não puderam ser determinadas devido aos danos do impacto e ao fogo intenso”.

Relativamente ao relatório toxicológico do piloto, este “revelou a presença de etanol (álcool)” de 0,38 gramas de álcool por litro de sangue – um valor superior ao limite estabelecido pela lei nacional de 0,2 gramas de álcool por litro de sangue no caso de um piloto a exercer as suas funções. O GPIAAF ressalva, no entanto, que a quantidade de álcool presente no sangue no momento da morte é difícil de se precisar e considera que não foram encontrados sinais de abuso de álcool.

"Vários autores com estudos detalhados em investigação toxicológica forense são unânimes em afirmar que o teor de álcool quantificado no exame toxicológico do cadáver, através da análise ao sangue, não representa uma certeza quanto ao valor toxicológico real, podendo haver resultados positivos quando não houve álcool ingerido", explica o relatório.
Formação desadequada
O relatório acrescentou como fator contributivo para o acidente “a falta de formação adequada do piloto, dentro do contexto da emergência real de falha de motor crítico, imediatamente após a descolagem”.

No caso de uma aeronave com dois motores, quando um falha no momento da descolagem, como aconteceu no acidente em Tires, a resposta do piloto é crucial – é “necessária uma intervenção rápida e precisa”, segundo explica o GPIAAF.

A investigação concluiu que o programa de formação não é adequado e não prepara os pilotos para o cenário de falha de um motor: “O treino recorrente do piloto privado não é suficiente para uma reação automática para o processamento dessa falha rara”.

Desta forma, no final do relatório, o GPIAAF direciona um conselho de segurança à Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA). Recomendam a criação de um programa de formação específico para aviões complexos monopiloto, para os quais “não existe um simulador de voo adequado”. Aconselham ainda a “reforçar o conteúdo programático de treino com exercícios de manobras de controlo na descolagem com potência assimétrica”.

O acidente ocorreu na manhã de dia 17 de abril. A aeronave descolou do Aeródromo Municipal de Tires, concelho de Cascais, com destino a Marselha. Seguia com um piloto e três passageiros a bordo.

Após a descolagem, o motor falhou e o avião acabou por cair a 700 metros do final da pista de descolagem. O acidente provocou a morte do piloto e dos três passageiros. A quinta vítima mortal foi um camionista que se encontrava a descarregar produtos no parque de mercadorias do LIDL, local onde a aeronave se despenhou.
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