Sem aumento de preços que acompanhe inflação não há produção de genéricos

por Antena1

Foto: Antena1

Se não houver acordo com o governo, vai continuar a existir rotura de medicamentos genéricos nas farmácias.

A garantia é dada pelo presidente da Direção do Health Cluster de Portugal (HCP). Em entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, Guy Villax explica que os custos são tão altos e os preços tão baixos que as empresas preferem não produzir certos medicamentos. E apesar dos ajustamentos já feitos, o problema mantém-se. Se nada for feito, continuará a existir rotura de stocks nos medicamentos genéricos.

O líder do Health Cluster lembra que Portugal tem os preços dos medicamentos mais baixos da Europa, sem subidas há mais de 10 anos, e isso tem levado a uma perda de robustez das empresas. Guy Villax admite que há uma "tensão brutal" entre Estado e indústria que "tem de se resolver". Ainda assim, adianta que para existir uma efetiva compensação, o aumento dos medicamentos ou daquilo que o Estado paga às farmacêuticas, teria de acompanhar a inflação.

Adianta que neste momento não há alterações a nível do consumo, mas lembra que durante a pandemia houve uma quebra que teve reflexos nos anos seguintes e dá como exemplo o facto de em 2021 Portugal ter sido "o recordista na amputação de pés por causa da diabetes", por causa da falta de tratamento que esses doentes tiveram durante a pandemia.

Segundo Guy Villax a pouca relevância que é dada ao sector deve-se ao facto de ser tutelado pela Saúde, que tem uma "visão muito miótica", e que considera que o sector "é exclusivamente um problema de orçamento para o SNS". O presidente da Direção do HCP diz mesmo que o sector que emprega mais de 400 mil pessoas "é uma maçada para o SNS". E por isso "o preço tem de ser tabelados, reduzidos e esmagados".

Nesta entrevista, Guy Villax considera positiva a alteração realizada na gestão do SNS, nomeadamente com a criação de um CEO, mas lembra que os SNS em toda a Europa estão em crise porque se continua a fazer o que se fazia há 20 anos, esperando que venha a dar um resultado diferente daquele que tem dado. Considera por isso que é preciso "mudar a cabeça" e investir em cuidados de saúde em vez de financiar apenas os cuidados de doença. Dá como exemplo os ensaios clínicos. Portugal faz 40 milhões por ano e podia estar a fazer cinco vezes mais se os hospitais tivessem mais autonomia. Segundo Guy Villax os hospitais do Estado, que são os que têm melhores condições para fazer os ensaios clínicos, estão "completamente algemados" para avançar por causa das restrições legais. Lembra que por cada paciente, em média, o hospital recebe 3.500 euros para concluir: Estamos a perder "imenso dinheiro".

Com esta situação Portugal também perde investimento estrangeiro e menos capacidade de exportar. Ainda assim, Guy Villax diz que acredita na atual equipa governativa da saúde e na ligação que está a manter com a Economia e a Ciência, coordenação que favorece o desenvolvimento do setor.

Entrevista conduzida por Rosário Lira (Antena1) e Vítor Rodrigues Oliveira (Jornal de Negócios).
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