Sondagem. Um em quatro portugueses ainda sente dificuldades para pagar despesas de alimentação

por Paulo Alexandre Amaral (jornalista), Sara Piteira (grafismo) - RTP
AAPIMAGE via Reuters

Um em cada quatro portugueses continua a ter dificuldades em pagar as despesas de alimentação e as despesas com a casa representam uma dificuldade ligeiramente agravada desde há meio ano. É o que revela uma sondagem da Universidade Católica para a RTP e jornal Público na semana de debate do Estado da Nação e na qual os inquiridos apontam dificuldades crescentes para desenvolver atividades de lazer e colocar dinheiro nas poupanças.

A sondagem revela um ligeiro crescendo nas dificuldades de cumprimento no sector da habitação, seja no pagamento de rendas ou no pagamento das prestações de empréstimo, e uma variação mais ligeira de um ponto percentual na questão das contas de energia e água, encargos com escolas e despesas de saúde. O agravamento de vida manifesta-se depois na menor capacidade de poupança e nas verbas gastas com lazer.

À questão sobre "se nos últimos 12 meses os inquiridos sentiram dificuldades financeiras no que respeita ao pagamento atempado de determinadas despesas", a alimentação mantém-se a mais assinalada (26% agora, face aos 25% da sondagem da Universidade Católica de fevereiro último).

Os restantes indicadores surgem também sem variação significativa face a esse estudo de há cinco meses. Com a alimentação à cabeça nas despesas mais difíceis de cumprir, seguem-se as despesas com saúde e medicamentos (24% agora, face aos 25% de fevereiro), as rendas ou prestações dos empréstimos para habitação (23% para 21% - aqui a maior variação nestes itens, de 2 pontos percentuais), as contas com eletricidade/água/gás (20% para 21%) e mensalidades com creches/escola/lares/ATL (20% para 21%)

De sublinhar que ao contrário da habitação e da alimentação, onde os inquiridos assinalam uma maior dificuldade para cumprirem com essas obrigações, apesar de ligeiras, no que respeita a contas de energia, saúde e escolas/lares esta amostra aponta um desagravamento na incapacidade para responder aos compromissos.


Em relação aos hábitos de consumo, o inquérito procurou saber, nos últimos meses, se as famílias alteraram determinados hábitos - desde a poupança, até ao lazer e escolha de produtos sem marca nas suas compras.

Face às respostas obtidas, as maiores alterações apontam na direção da menor capacidade de poupança e de desenvolver atividades de lazer. Assim, e por item de análise, encimam a alteração de hábitos esses gastos com lazer, com os inquiridos a assinalarem que “jantares fora, cinema, concertos e canais de TV” tiveram um corte em 51% das famílias, aumentado em apenas 6% dos lares, enquanto que 43% nada alteraram neste capítulo.

Um corte de magnitude semelhante foi aplicado por 47% dos agregados no arrecadar de poupanças, com apenas 15% a aumentarem o seu pecúlio. Logo a seguir aparece a viragem para a compra de produtos de marca branca, que 45% dizem ter aumentado lá em casa, enquanto 51% mantêm a prática anterior (só 4% diminuíram este tipo de compra).

Há depois dois aspetos que não sofrem tão grandes variações. “A qualidade dos alimentos consumidos”, mantida por 74% das famílias, e “a contração de crédito (cartão, empréstimos e fiado), constante para 67% dos agregados.


A amostra foi ainda questionada sobre "os rendimentos do agregado familiar [se] são agora inferiores, iguais ou superiores ao que eram há um ano". Neste ponto, 20% dos inquiridos disseram que tinham agora rendimentos inferiores, e 28% superiores, enquanto 51% assinala o mesmo nível desde há 12 meses.

Os autores da sondagem assinalam que, nos inquiridos que dizem ter agora menores rendimentos, "esta percentagem não é igual para todos os escalões de rendimento, sendo maior (28%) entre os que têm rendimentos inferiores a 1000 euros do que entre os que têm rendimentos superiores a 2500. Neste último escalão, cerca de 11% afirmam ter agora rendimentos inferiores aos de há um ano".


A evolução que se verifica em todos estes aspetos da vida das pessoas inquiridas parece estar refletida numa última questão: Vai fazer férias fora de casa? Apenas 39% responderam afirmativamente com um "de certeza que sim", com uma maioria de 40% a dizer que "de certeza que não". Uma subamostra questionada sobre o destino respondeu maioritariamente Portugal (45%), seguido da Europa (18%) e, por último, fora da Europa (5%).

Apertando o questionário àqueles que já "costumam fazer férias fora da residência", as respostas afirmativas quase dobraram (62%) e apenas 14% deixaram "a certeza que não". A subamostra apontou neste caso que 70% dos destinos serão Portugal.


Ficha técnica

Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a RTP, Antena1 e Público entre os dias 6 e 15 de julho de 2023. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1006 inquéritos válidos, sendo 45% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 32% da região Norte, 20% do Centro, 34% da A.M. de Lisboa, 7% do Alentejo, 4% do Algarve, 2% da Madeira e 2% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e região com base no recenseamento eleitoral. A taxa de resposta foi de 29%. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1006 inquiridos é de 3,1%, com um nível de confiança de 95% (Algumas perguntas foram colocadas apenas a uma subamostra de 656 entrevistados. Nestes casos, a margem de erro máxima é de 3,8%).
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