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"Temo que haja vontade política de empurrar os partos para os privados" - Diogo Ayres de Campos

por Antena 1

Foto: Suhyeon Choi - Unsplash

O antigo diretor de Obstetrícia de Santa Maria avisa, em entrevista à Antena 1, que há cada vez mais grávidas a recorrer aos privados porque "a resposta do SNS está a ser muito inconsistente". Só em Lisboa, nos primeiros seis meses do ano, os partos no privado aumentaram 20%. Diogo Ayres de Campos acredita que esse número vai continuar a aumentar até ao final de 2023.

"Temo que haja alguma vontade política de ser essa a solução que se pretende para a Obstetrícia nacional", confessa, lembrando que há riscos. Para além da desigualdade de acesso, Ayres de Campos salienta que "os melhores indicadores que temos na área obstétrica devem-se ao facto de 80 por cento dos partos serem na medicina pública; no SNS temos à volta de 28 por cento de cesarianas, enquanto na medicina privada temos 66 por cento.

Há uma série de práticas no privado que acho que é preciso pôr em causa. 

Se for decisão política tornar isto mais liberal e mais medicina privada, é preciso ter muita atenção para manter a qualidade".

O presidente da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia lembra que os problemas nas urgências começaram ainda antes da recusa dos médicos em fazerem mais horas extra do que as previstas por lei. 

O antigo diretor de obstetrícia do Santa Maria alerta que faltam profissionais de saúde no SNS, que cada vez mais veem no privado uma opção que garante melhores condições de vida.

Quanto ao encerramento rotativo das urgências, Diogo Ayres de Campos defende que "não traz segurança às grávidas" e, além disso, "não é uma mensagem que se queira dar num país europeu". 

O médico aponta alternativas como as seguidas no Reino Unido, Países Baixos ou França, onde há maternidades referenciadas, com uma triagem prévia. A solução foi apresentada à Direção Executiva do SNS e foi recusada. "Falta de vontade política", acusa.

Diogo Ayres de Campos era o diretor do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Santa Maria. 

Em junho foi afastado pela direção do centro hospitalar depois de ter criticado o encerramento da maternidade durante as obras. À Antena 1, o antigo responsável diz que o tempo está a provar que tinha razão e o encerramento da maternidade só veio aumentar os problemas na região de Lisboa.

Questionado sobre o trabalho da Direção Executiva do SNS e a continuidade de Fernando Araújo no cargo, Diogo Ayres de Campos defende que o organismo é fundamental na gestão do serviço nacional de saúde. 

No entanto, lembra que é fundamental que os profissionais sejam ouvidos e esse caminho não é o que tem sido seguido. "É um erro estratégico que se vai pagar caro", critica.
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