Universidade de Aveiro traz têxteis eletrónicos do futuro para o presente

por Nuno Patrício - RTP
Investigadora Helena Alves da universidade de Aveiro Foto: Universidade de Aveiro - D.R.

Imagine poder telefonar ou dar a conhecer a sua localização apenas usando uma peça de roupa. Futuro, ficção? Não, se for desenvolvida a tecnologia com base em grafeno, criada pela Universidade de Aveiro.

Ter peças de vestuário inteligentes não é propriamente uma coisa do futuro, isto porque já existem mas ainda pertencem à categoria dos produtos pouco cómodos e visualmente pouco agradáveis, mas esse problema está em vias de ser ultrapassado.

Uma equipa internacional de cientistas, liderada pela portuguesa Helena Alves, da Universidade de Aveiro (UA), descobriu uma nova técnica para incorporar elétrodos de grafeno transparentes e flexíveis em materiais têxteis.

Esta técnica inovadora permite à indústria têxtil, a partir de agora, produzir roupas com computadores, telefones, leitores mp3, GPS, baterias de telemóvel carregadas com o calor corporal e muitos, muitos mais dispositivos electrónicos incorporados no próprio tecido, como explicou a própria investigadora ao online da RTP.



A imaginação pode mesmo ser o limite, para as potencialidades desta descoberta recentemente divulgada e publicada na revista Scientific Reports do grupo Nature.

Mas como é possível introduzir componentes eléctricos na roupa sem se verem e de forma totalnmente maleável? A resposta surge através de uma descoberta científica recente de nome grafeno e que utiliza meios nanotecnológicos.



Uma técnica criada em laboratório que, transportada para a indústria têxtil, poderá ajudar nas percepções humanas bem como na auto-ajuda de pessoas com dificuldades comunicativas.



Uma ideia que surgiu há cerca de quatro anos por parte de alguns investigadores da Universidade de Aveiro (UA), mas só passou a fase laboratorial quando o projecto teve um financiamento por parte da Royal Society que permitiu um intercâmbio de conhecimentos entre investigadores nacionais e internacionais.

Hoje, e com a divulgação do produto, surgem alguns interesses por parte do mercado mas a investigadora da UA, Helena Alves, afirma que um maior desenvolvimento e futura comercialização estarão sempre dependentes de futuras fontes de financiamento.



Na investigação publicada pela revista da Nature, para além da cientista Helena Alves do CICECO da UA, estiveram envolvidos cientistas da Universidade de Exeter (Inglaterra), do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores para os Microsistemas e as Nanotecnologias (Lisboa), da Universidade de Lisboa e do Centro Belga de Investigação Têxtil.
O que é o Grafeno?
O Grafeno é o material mais fino do Mundo, composto por apenas um átomo de espessura.

Quando se escreve com um lápis, a grafite deixa rastos no papel. A grafite é feita de camadas de átomos de carbono.

Cada camada é um material muito resistente e muito rígido, cerca de 10 vezes mais difícil de esticar que o aço: o grafeno.



Em 2004, um grupo da Universidade de Manchester, liderado por Andre Geim, cientista inglês de origem russa, fez uma descoberta importante: ao esfregar grafite numa placa de vidro com uma camada de óxido, alguns dos restos de grafite formaram, por acidente, uma folha microscópica de grafeno. A espessura da camada de óxido era tal que esses flocos de grafeno eram visíveis ao microscópio óptico.

A partir desta descoberta foi possível estudar as propriedades do grafeno que se revelou um material extraordinário.
Propriedades do Grafeno
Foto: Canaltech/DR

  • Os átomos de carbono formam uma rede hexagonal, quase sem defeitos;

  • Os electrões propagam-se no grafeno, sem serem desviados por colisões, em distâncias enormes, muito maiores que na maioria do semicondutores; isso permitirá construir transístores muito mais rápidos;

  • Devido à estrutura hexagonal do grafeno, os electrões, portam-se como se não tivessem massa, isto é, como neutrinos. Neutrinos são partículas que se deslocam sempre à velocidade da luz, como os fotões, mas que têm spin semi-inteiro como os electrões. Há uma variedade de fenómenos relativistas que podem ser estudados experimentalmente no grafeno.

  • Uma das consequências da natureza relativista dos electrões no grafeno é a absorção de 2% da luz incidente normalmente sobre uma folha de grafeno; isso torna uma folha de espessura de um átomo visível a olho nu.

O estudo do grafeno é uma das áreas atuais mais estudadas da física, devido ao enorme potencial em aplicações nano-electrónicas e muitos outros campos.
Tópicos
pub