Vinte anos depois ainda falta centro de saúde e escolas no Parque das Nações

por Lusa

Lisboa, 21 mai (Lusa) -- Criada de raiz, cosmopolita e cara, a freguesia do Parque das Nações, em Lisboa, tem falta de serviços básicos como escolas e um centro de saúde, e já houve uma altura em que até o espaço público estava abandonado.

A Expo`98 foi o "pretexto" para a requalificação integral daquela zona oriental da cidade, que foi pensada ao pormenor, desde cada edifício a cada lâmpada colocada no espaço público.

Vinte anos depois da Expo`98 -- que abriu portas em 22 de maio de 1998 -, o Parque das Nações é a mais nova freguesia da cidade, mas continua a debater-se com problemas antigos.

Ali residente desde 2001, Carlos Ardisson, da associação de moradores `A Cidade Imaginada -- Parque das Nações` (ACIPN), lamentou à Lusa a falta de um centro de saúde, tendo os moradores de ir ao dos Olivais, que não assegura médico de família a todos.

O morador lamentou também que a freguesia tenha apenas "uma escola e meia", numa referência à Escola Básica do Parque das Nações, cuja primeira fase foi inaugurada há oito anos com a promessa de construção da segunda fase, o que nunca aconteceu.

"É uma grande lacuna que temos [a falta de escolas públicas] e que está difícil de ser resolvida", disse.

Outro problema com o qual a ACIPN se debateu foi o da falta de manutenção dos espaços verdes, tendo Carlos Ardisson recordado que os "primeiros dois anos do primeiro mandato da Junta de Freguesia do Parque das Nações foram terríveis".

"Morreu quase tudo. Só algumas árvores ficaram. Tudo o que era arbustos e herbáceas morreu. Por falta de rega e falta de cuidados", disse o morador, acrescentando que atualmente a situação está melhor, mas os espaços verdes voltaram a ter "falta de manutenção" e os "relvados dos parques Tejo e Trancão estão a ficar amarelos" novamente.

Para Ardisson, os problemas com a manutenção do espaço público começaram com o fim da sociedade Parque Expo, que geria aquele espaço, e a passagem da gestão para a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e para a Junta de Freguesia.

O representante da ACIPN contou que "muito do conhecimento da manutenção e da gestão deste espaço está guardado e as pessoas que passaram a gerir não sabiam como as coisas funcionavam", lamentando que as autarquias não tenham tido "o bom senso" de ficar com alguns funcionários da Parque Expo.

"Apesar de o então presidente da CML e agora primeiro-ministro, António Costa, ter garantido que não havia perda de qualidade com a passagem da gestão, não há comparação possível", frisou.

Também o primeiro presidente da Junta de Freguesia do Parque das Nações, José Moreno (eleito numa lista independente) admitiu que a transição da gestão da Parque Expo não foi feita nas melhores condições, tendo prejudicado a freguesia.

"Foi um desafio enorme que causou grandes constrangimentos ao nosso trabalho. Fez também com que algum vazio de poder, que acabou por existir, tivesse algum impacto ao nível da qualidade da manutenção do espaço público. Chamei a atenção da CML para a necessidade que tinha de olhar para este espaço. Porque dois terços da gestão do espaço são responsabilidade da CML e só um terço é que é da Junta de Freguesia", disse à Lusa.

E é precisamente no espaço público que ainda "há muito por fazer", na opinião de Moreno.

"É um processo muito vasto, com equipamentos com unidades próprias muito específicas e que exigem também manutenções muito caras e muito atentas. É um trabalho que tem de ser feito diariamente quer pela Junta de Freguesia, quer pela CML", afirmou.

Conhecedor daquela zona desde antes da Expo, o engenheiro Luís Cachada tem orgulho na obra e na marca que deixou depois da "regeneração completa do território".

Mais do que edifícios icónicos e emblemáticos, o engenheiro destaca as infraestruturas inovadoras como as redes de águas refrigeradas e quentes para a climatização, a produção de águas quentes sanitárias, que "é um sistema inovador", e a "rede de recolha pneumática de lixo, que funciona com muito mérito e permite que seja uma área qualificada sem lixo à superfície".

Rejeitando a ideia de excesso de construção no Parque das Nações, Luís Cachada disse à Lusa que o que "está materializado corresponde ao que estava previsto".

O engenheiro admitiu que "pode faltar um equipamento ou outro", como o centro de saúde, mas na sua opinião, "em termos de planeamento e do que foi construído, não há nada em que se possa dizer `isto foi um erro e podia ser feito de outra maneira`".

"De uma forma geral, as coisas funcionaram conforme tinham sido planeadas e funcionaram bem", frisou.

 

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