"Ainda podemos cair tão depressa como aconteceu a José Sócrates"

por Rui Sá, João Fernando Ramos

A Comissão Europeia recomendou o encerramento do procedimento por défice excessivo que tinha sido aplicado a Portugal em 2009.
Bruxelas cumprimenta o pais pelos resultados alcançados, mas reforça a necessidade de Portugal garantir a durabilidade da correção já alcançada.
António Costa fala num novo ciclo, Marcelo Rebelo de Sousa lembra que o trabalho tem que continuar e recorda que os méritos não são exclusivos do atual governo.
No Jornal 2 Cristina Azevedo afirma que "de facto os méritos são de um acumular de esforços, mas não nos podemos esquecer que Marcelo rebelo de Sousa foi o primeiro a embandeirar em arco ao dizer que o crescimento este ano poderia ser superior a 3%". A comentadora lembra que é preciso não deitar foguetes porque "ainda podemos cair tão depressa como aconteceu a José Sócrates".

Os últimos números da economia portuguesa convenceram Bruxelas de que a recuperação é estável e duradoura. Mas a Comissão está ciente de que há ainda muito para fazer num país onde a dívida pesa 130% do PIB, onde a banca não tem como financiar a economia, e onde o rating da república deixa que apenas os fundos especulativos invistam no país.

No Jornal 2 a analista política Cristina Azevedo lembra que Bruxelas exige ao país mais detalhe nos planos de reformas "e tem toda a razão para isso. Porque se nos largarem podemos cair como caímos no passado". A comentadora do Jornal 2 lembra o que aconteceu com José Sócrates de 2008 para 2009.

Bruxelas continua e facto a exigir ajustamentos que baixem a dívida e façam crescer a economia. Com esse fim, fora dos procedimentos corretivos o país pode investir já este ano 542 milhões de euros (meio por cento do Produto Interno Bruto) em reformas consideradas estruturais sem que isso conte para o défice.

Á esquerda fala-se numa folga que tem que ser aproveitada para ajudar as pessoas que mais sofreram com o ajustamento. O primeiro-ministro garante que depois do fim dos cortes o próximo ano será o do reajuste dos escalões de IRS.

O PCP diz sair do programa de procedimentos por défice excessivo é o fim de um instrumento de chantagem sobre o país. João Oliveira deixa no entanto claro que este não é o fim dessa "chantagem".

Bruxelas recusa o termo mas lembra que vai continuar a olhar com atenção o país. Alguns dossiers, agora, mais do que outros. O da recapitalização da Caixa Geral de Depósitos é um deles.

Caixa, dívida, emprego, crescimento. Antes de tomar a decisão desta segunda-feira a Comissão pediu a Mário Centeno uma carta de compromissos. O ministro das finanças garante que a entregou, mas que mais não reafirmou do que os compromissos que já tinha assumido perante a União Europeia em 2015, quando chegou ao governo. Rigor nas contas e devolução de direitos e rendimentos são política para manter.

António Costa reafirmou que é nesta política que está muito da robustez da confiança na economia nacional. Uma confiança que o primeiro-ministro garante é a base da recuperação económica e do aumento do investimento privado.

Quer à esquerda, quer à direita, é aos contribuintes e aos empresários a quem todos endereçam os parabéns. Um uníssono que não existe quanto aos políticos a quem o fazer.

João Almeida, do CDS e Pedro Passos Coelho falam em trabalho meritório deste, mas também do anterior governo a quem coube a maior fatia do ajuste do défice (de 11 para 3 por cento do PIB). Quem responde é João Galamba. O deputado socialista lembra que o pais esteve a beira de sofrer, quer sansões monetárias, quer o corte do acesso a fundos estruturais, por o anterior executivo não ter cumprido nestas matérias em 2014 e 2015.

Para se tornar efetiva, a recomendação da Comissão Europeia terá que ser ratificada pelo conselho de ministros das finanças da zona euro. O Eurogrupo esteve reunido esta segunda-feira, mas o assunto não esteve em agenda. Estará no encontro de junho no Luxamburgo.
pub