Candidatura a Lisboa marca primeiro ano de Assunção Cristas à frente do CDS-PP

por Lusa

Lisboa, 11 mar (Lusa) - O primeiro ano de Assunção Cristas na liderança do CDS-PP ficou marcado pela sua candidatura à Câmara de Lisboa, e pelo objetivo de vincar um estilo próprio, na mensagem política e na presença mediática e social.

Assunção Cristas tornou-se a sétima líder do CDS-PP, a primeira mulher nessa função, no Congresso de Gondomar, pondo fim a um ciclo de 16 anos da mais longa presidência centrista, a de Paulo Portas.

No Congresso, que se realizou entre 12 e 13 de fevereiro de 2016, Filipe Lobo D`Ávila encabeçou uma lista ao Conselho Nacional e quebrou o tom de unanimidade que parecia ter sido aberto pela desistência de Nuno Melo de uma candidatura à liderança.

Dessa lista saiu um grupo liderado por Lobo D`Ávila, que se reúne mensalmente em jantares, por vezes de cunho programático, envolvendo o antigo deputado por Aveiro Raúl Almeida, o ex-líder da distrital de Braga e antigo deputado Altino Bessa, o secretário de Estado da Educação do governo PSD/CDS-PP João Casanova de Almeida ou o anterior líder da Juventude Popular Miguel Pires da Silva.

A presidência de Cristas foi pontuada por um único momento de agitação interna visível, em agosto do ano passado, quando o partido historicamente alinhado na política angolana com a UNITA é convidado e resolve estar presente, pela primeira vez, no Congresso do MPLA.

Paulo Portas, que no discurso de despedida do partido no Congresso havia pedido que se evitasse a "tendência para judicialização das relações entre Portugal e Angola", também foi à reunião magna do MPLA, a título pessoal.

Nessa altura, são verbalizadas críticas a Assunção Cristas que vão além da participação no congresso do partido do regime em Angola e Raúl de Almeida, apoiante de Lobo D`Ávila, acusa a líder de se comportar mediaticamente como uma "atriz de telenovelas" - numa referência à forma como tem escolhido exercer a sua presença mediática - enquanto no país os incêndios assolam concelhos governados pelo CDS, como Albergaria.

As críticas silenciam-se depois do anúncio, na ?rentrée` do partido, da candidatura da líder à presidência da Câmara de Lisboa. Em setembro de 2016, em Oliveira do Bairro, Assunção Cristas diz que é candidata: "Tenho o vento de Lisboa colado à minha pele e a água do Tejo colada à minha alma".

A líder centrista, que tem concentrado a sua pré-campanha em visitas a bairros sociais geridos pela empresa municipal Gebalis, e também a escolas e creches, posicionou-se na corrida à autarquia da capital tomando a dianteira ao PSD, que, seis meses depois, não apresentou o seu cabeça-de-lista.

Houve notícias sobre conversações entre os dois partidos para um eventual apoio do PSD, mas a questão foi esvaziada pelo líder social-democrata, Pedro Passos Coelho, em janeiro, que esclareceu que o partido terá um candidato próprio.

Ainda na frente autárquica, onde centristas têm a presidência de cinco câmaras municipais, numa das mais emblemáticas, Ponte de Lima, Cristas viu o ex-deputado Abel Baptista lançar uma candidatura independente, contra o atual autarca do CDS que se recandidata ao cargo.

Nas primeiras eleições da era Cristas, as regionais dos Açores, o partido aumentou o seu grupo parlamentar de três para quatro deputados, reelegendo mandatos pelas ilhas Terceira e São Jorge e reforçando o número de parlamentares eleitos pelo círculo de compensação de um para dois.

No parlamento, o CDS-PP tem corporizado a máxima da líder de fazer "política pela positiva", com a apresentação de pacotes legislativos sobre educação, natalidade, o apoio a idosos e envelhecimento ativo, a segurança social, e 53 propostas de alteração ao Orçamento do Estado.

Nos debates quinzenais, a presidente centrista tem enfrentado o primeiro-ministro, António Costa, a quem acusa frequentemente de mentir, usando um registo que passa por fazer muitas perguntas curtas e sobre vários assuntos, mas também em oferecer ?presentes`.

Desde gráficos embrulhados num laço cor-de-rosa para contrariar os dados económicos do governo, óculos para ver a realidade e soros da verdade, a líder do CDS tem recorrido a inúmeras oferendas simbólicas.

Assunção Cristas inaugurou uma intensa presença nas redes sociais inédita entre os líderes partidários e tornou-se também a única dirigente máxima de um partido a ter um espaço de comentário semanal numa televisão, a CMTV, e também uma coluna no jornal Correio da Manhã.

A presidente do CDS levou ao parlamento a apresentadora de televisão Cristina Ferreira para uma conversa sobre empreendedorismo no feminino, esteve presente no programa televisivo de Júlia Pinheiro e deu entrevistas a publicações de grande tiragem ditas femininas, como recentemente, a propósito do Dia Internacional da Mulher, à revista Maria.

As múltiplas referências à sua família, mas também à sua fé católica, têm convivido na nova presidente do CDS-PP com manifestações de abertura à diversidade a outras vivências familiares diferentes da sua.

Dois dias depois do tiroteio em que morreram 50 pessoas numa discoteca ?gay` em Orlando, Assunção Cristas usou as redes sociais para deixar uma mensagem de "condenação firme e inequívoca" a um "ataque vil e homofóbico à liberdade", desde logo "à liberdade da comunidade LGBT, o primeiro atentado em que esta motivação homofóbica é evidente" e que ofende profundamente a liberdade de todas as mulheres e homens livres".

O CDS de Assunção Cristas mantem-se contra a interrupção voluntária da gravidez, em cujo ativismo, durante a campanha pelo Não no referendo, a agora líder foi ?descoberta` por Paulo Portas, e na recusa em despenalizar a morte assistida, sendo o único partido do hemiciclo português a recusar em bloco e à partida essa prática.

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