Conclusões "muito graves". Vereadores do PS em Lisboa querem demissão da administração da Carris

Na sequência da divulgação do relatório preliminar sobre o desastre do Elevador da Glória, que aponta responsabilidades à Carris, os vereadores socialistas na Câmara Municipal de Lisboa vieram esta terça-feira exigir a demissão da administração da empresa.

Carlos Santos Neves - RTP /
Sandra Henriques - Antena 1

As conclusões do relatório preliminar sobre o descarrilamento do Elevador da Glória são, para os vereadores do PS "muito graves". A posição dos edis socialistas é assumida em comunicado citado pela agência Lusa.O documento preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários foi conhecido na segunda-feira. Em 35 páginas, são elencadas falhas e omissões nas operações de manutenção do Elevador da Glória, a somar à falta de formação de profissionais e de supervisão do trabalho da empresa prestadora.

Para os vereadores, o relatório acaba por negar a versão que a própria Carris apresentou logo após o desastre, ou seja, "que todos os procedimentos de manutenção tinham sido cumpridos". O documento vem, nas palavras dos socialistas, "revelar falhas e negligência inaceitáveis num equipamento público sob responsabilidade municipal".

"Os vereadores socialistas consideram que a liderança da Carris perdeu as condições para continuar em funções, face às contradições e à gravidade das conclusões conhecidas. Se o presidente do conselho de administração não apresentar a sua demissão, cabe ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa tomar essa decisão, assumindo a responsabilidade política que lhe compete enquanto tutela da empresa", propugnam.

O PS "exige que sejam assumidas as devidas responsabilidades, sem exceções nem encobrimentos" e que "o Executivo camarário assegure total transparência na investigação, implemente todas as medidas de correção e segurança recomendadas", reforçando os "mecanismos de controlo interno e externo da empresa municipal" de forma a acautelar "que situações semelhantes não se repitam".
"Um mero passa-culpas"
Ouvido pela Antena 1, o vereador socialista Pedro Anastácio reiterou que, face às conclusões do relatório, não chega afastar o diretor de manutenção da transportadora.

Pedro Anastácio afirma que ou o presidente da Carris se demite ou terá de ser o presidente da Câmara, Carlos Moedas, a fazê-lo.

Foto: Pedro Nunes - Reuters

"Não é admissível que um acidente com vítimas mortais e feridos ocorra num equipamento público e que as consequências se limitem a sanções intermédias ou a um mero passa-culpas"
O descarrilamento do Elevador da Glória ocorreu a 3 de setembro e causou as mortes de 16 pessoas e perto de duas dezenas de feridos, entre os quais portugueses e estrangeiros., sustentou.

Já a socialista Alexandra Leitão, que perdeu para Carlos Moedas nas últimas eleições autárquicas, não hesita em considerar que a Câmara de Lisboa deve assumir responsabilidades políticas.

O país, frisou, estará "a passar uma péssima imagem como Estado, como nação, aos cidadãos, se aqui a responsabilidade não for efetivada até às últimas consequências".

O gabinete que está a investigar o desastre apurou que o cabo instalado em 2022 não possuía certificação para o transporte de pessoas, além de se encontrar desgastado - o mesmo acontece, de resto, com o Elevador do Lavra.
O relatório aponta, em concreto, falhas no processo de aquisição, aceitação e instalação do cabo. Refere ainda que os freios de emergência não foram devidamente testados.

"A utilização de cabos multiplamente desconformes com as especificações e restrições de utilização deveu-se a diversas falhas acumuladas no seu processo de aquisição, aceitação e aplicação pela CCFL (Companhia Carris de Ferro de Lisboa, E.M, S.A), cujos mecanismos organizacionais de controlo interno não foram suficientes ou adequados para prevenir e detetar tais falhas", lê-se no documento.

Por outro lado, estima-se que os técnicos de manutenção não tinham competência para detetar as falhas. É também denunciada a execução de trabalhos fora das normas padronizadas.

Numa primeira reação ao teor do documento, a Câmara Municipal de Lisboa quis frisar que, “ao contrário da politização que alguns fizeram durante a campanha, o relatório reafirma que a infeliz tragédia do elevador da glória foi derivada de causas técnicas e não políticas”.

Por sua vez, a Carris salientou que o processo de aquisição dos cabos teve no mandato anterior ao do atual Conselho de Administração.

c/ Lusa


 

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