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"Contra os valores de Abril". Ferro Rodrigues alerta para perigos de revisão constitucional à direita

por RTP

Foto: Miguel A. Lopes - Lusa (arquivo)

Em entrevista ao 360, o antigo secretário-geral do PS alertou para a possibilidade de uma revisão constitucional "feita por toda a direita e extrema-direita contra os valores de Abril".

Eduardo Ferro Rodrigues considera que tal revisão constitucional com PSD/CDS, Chega e IL "seria impensável e traria gravíssimas consequências para o país, para a democracia e para o próprio PSD".

"Seria qualquer coisa terrível para os portugueses, para o país, para o estado social", vincou o ex-líder socialista."Uma revisão constitucional feita pela Iniciativa Liberal, PSD/CDS e Chega seria juntar no mesmo copo todos os venenos", acrescentou.

Ferro Rodrigues considerou ainda que PS e PSD devem "deixar o outro" governar "sem necessitar da extrema-direita". E deixa o aviso: "Se a ascensão da extrema-direita continuar, pode ser mesmo preciso formalizar um bloco central", alertou.

Para não dar "mais poder à extrema-direita do que aquele que já tem". Ferro Rodrigues sublinhou ainda a necessidade de distinguir entre "adversários em democracia" e "inimigos da democracia".

Essa solução de bloco central poderá ainda ser necessária "não só por circunstâncias internas mas também por circunstâncias externas" devido à instabilidade global.
Aguiar Branco foi demasiado permissivo? "Não tenho a menor dúvida"

O antigo presidente da Assembleia da República deixou ainda críticas ao atual detentor do cargo, que já afirmou estar disponível para se recandidatar.

“Fizemos o possível porque percebemos que aquilo era um ovo de serpente que podia ter consequências graves caso se disseminasse, para quebrar esse ovo logo no princípio. Não resultou, mas não se pode responsabilizar antigos presidentes da Assembleia da República”, defendeu Ferro Rodrigues sobre a postura que adotou, semelhante à do seu sucessor, Augusto Santos Silva.

Questionado se Aguiar Branco foi demasiado permissivo no cargo, Ferro Rodrigues é perentório: “Não tenho a menor dúvida disso”.

“Acho que ter dado uma possibilidade ao Chega de ultrapassar todos os limites, linguagem, ofensas, calunias, mentiras… Isso é que é grave para a democracia. (…) A própria instituição Parlamento deixa de ser suficientemente respeitada”, vincou.
PS e PSD "não responderam" à campanha "agressiva" do Chega

Eduardo Ferro Rodrigues vê o cenário pós-eleitoral de forma negativa. “O que está a acontecer é algo que também põe em causa o Estado de Direito democrático”, alertou, considerando ainda que o Chega fez uma campanha “agressiva” a que PS e PSD “praticamente não responderam” e preferiram “atacar-se mutuamente”.

Quanto à situação interna do PS, o antigo secretário-geral considera que a perda de votos do PS é “dificilmente explicável” e que o resultado foi “uma derrota enorme” para o partido, mas também para toda a esquerda.

“Tem de se tirar conclusões políticas disso”, acrescentou.
"O mundo não fica à espera do PS"

Ferro Rodrigues considera ainda que a decisão da eleição direta do novo secretário-geral deverá ocorrer “antes do verão”.

“O mundo não fica à espera do PS, o país também não”, afirmou
, dando o exemplo de quando chegou à liderança do partido e teve de trabalhar com as lideranças que vinham do anterior secretário-geral, António Guterres. “Não podia partir para aquelas eleições sem que o PS tivesse um secretário-geral legitimado”, vincou.

Quanto ao possível nome para substituir Pedro Nuno Santos, Eduardo Ferro Rodrigues não prefere nenhum dos candidatos já mencionados nos últimos dias e considera que tanto Mariana Vieira da Silva como Fernando Medina ou José Luís Carneiro “são bons nomes e já deram muito ao país”.

Deixa, por fim, um conselho ao futuro líder do partido: “É fundamental, quando se é secretário-geral do partido querer, gostar, estar empenhado nisso” e haver uma “vontade política e pessoal” para assumir tal cargo.
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