Costa acusa Passos de estar a criar "crise política artificial"

por Andreia Martins - RTP
Tiago Petinga - Lusa

O secretário-geral do Partido Socialista respondeu esta quinta-feira às acusações de Pedro Passos Coelho e diz que o acordo à esquerda respeita a vontade dos portugueses de "mudança de orientação política". Recusa-se ainda a ser "muleta" da continuidade das políticas do PSD e CDS.

No mesmo dia em que Pedro Passos Coelho acusou o líder socialista de preparar "uma fraude eleitoral e um golpe político", António Costa diz que são os próprios membros do Governo a assustar e a criar instabilidade.

Num encontro com militantes do partido na cidade do Porto, o líder socialista defendeu a legitimidade de um Executivo apoiado por uma maioria parlamentar, perante a coligação entre PSD e CDS que "deixou de estar em maioria absoluta".

Para António Costa, a "fraude eleitoral" por parte do Partido Socialista seria negar "o mandato" dos portugueses, ao viabilizar as políticas que "tinha jurado que não ia viabilizar".

Com o acordo, o líder socialista promete honrar a palavra dada aos eleitores com uma solução que garante "condições de estabilidade". Algo que, segundo António Costa, o PSD não fez no passado, quando em 1999 inviabilizou o Governo de António Guterres sem apresentar alternativas.
PS recusa ser "muleta"
Na visão do socialista, os dois partidos à direita não adotaram "uma postura construtiva", enquanto o PS se dispôs a dialogar com todas as forças presentes no parlamento.

António Costa recusa-se a aprovar o que os eleitores não quiseram aprovar e acrescenta que recusa ser "muleta" das continuidade das políticas da coligação.

Recusa, igualmente, que o poder esteja somente entregue a "um jogo de poderes" entre três partidos, neste caso PS, PSD e CDS. O líder do Partido Socialista diz que esta formulação que há 40 anos domina a política em Portugal constitui "o empobrecimento da democracia".

Nesse sentido, assegura que as divergências ideológicas entre PS, Bloco, PCP e Verdes não são impeditivas de diálogo sem a perda das respetivas identidades. Costa diz mesmo que as divergências relativamente à NATO, por exemplo, não são impeditivas no acordo quanto ao salário mínimo nacional.
"Tão rapidamente quanto queiram"

Um acordo estável mas que, ainda assim, não coloca no Executivo todas as forças políticas envolvidas. Ora o líder do PS explica que "o grau do acordo" entre os partidos "não é suficiente", até porque nenhum dos líderes se mostrou disposto "a trocar lugares de ministro pelas convicções".

"Estão criadas todas as condições para que, tão rapidamente quanto o queiram, podermos ter um novo Governo."

Ainda assim, e com um grau de entendimento inferior ao desejado, Costa garante que o PS poderá governar com estabilidade e respeitar, ao mesmo tempo, os compromissos internacionais, até porque conseguiu criar condições "que o PSD não conseguiu criar".

Por isso, o líder socialista assegura que "estão criadas todas as condições para que, tão rapidamente quanto o queiram, podermos ter um novo Governo que possa ser viabilizado na Assembleia da República, que ponha termo a este período de incerteza".
Passos está a criar "instabilidade"
Em resposta às recentes declarações do Governo rejeitado em Assembleia, Costa acusa os principais atores políticos, nomeadamente o ainda primeiro-ministro, de imprudência, ao tentar lançar a instabilidade política e a incerteza nos mercados, inclusive no estrangeiro.

Neste campo, os portugueses "têm mais a agradecer ao ministro alemão das Finanças", ironiza o líder socialista.

Perante uma crise política que considera fabricada, Costa apela ao retomar da trajetória de normalidade consticional: "É tempo de não se criar uma crise política artificial. Em Portugal, não há crise política se não a criarem".

Para António Costa, a atual situação política em Portugal não deve ser motivo de alarme, até porque os acontecimentos recenetes demonstraram "um normal funcionamento do regime democrático, no estrito cumprimento da Constituição, e eu até diria mais, do reencontro com a Constituição", acrescenta.
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