Jerónimo abre Congresso do PCP a reclamar demissão do Governo

por RTP
“O rumo da União Europeia, longe de resolver os graves problemas dos povos, apenas está a agravar contradições e a aprofundar a crise”, denunciou Jerónimo de Sousa Tiago Petinga, Lusa

Jerónimo de Sousa pautou esta sexta-feira o discurso de abertura dos trabalhos do XIX Congresso do PCP por um duro ataque ao Governo de Pedro Passos Coelho, defendendo que só a realização de eleições antecipadas constitui, nesta altura, uma “saída legítima e necessária para interromper o caminho de desastre do país”. Diante dos mais de 1250 delegados reunidos em Almada, o secretário-geral comunista, que até domingo será reconduzido no cargo, sustentou também que deveria caber aos portugueses “decidirem o seu próprio destino” no que toca à União Europeia. Uma construção institucional, concluiu, que “não é reformável”.

Os relógios marcavam as 10h37 quando os trabalhos do XIX Congresso do Partido Comunista Português começaram ao som de A Internacional.
Até ao próximo domingo, os mais de 1250 delegados ao XIX Congresso do PCP vão deixar definida a nova composição do Comité Central, órgão máximo do partido entre reuniões magnas. Sairão três dezenas de nomes e entrarão outros 24.

De partida estão figuras históricas como Odete Santos e Domingos Abrantes. Entre os novos nomes estão os eurodeputados Inês Zuber e João Ferreira e o deputado João Oliveira.

Uma vez eleito, o Comité Central reunir-se-á no sábado para o que se espera ser a reeleição de Jerónimo de Sousa como secretário-geral, cargo que desempenha desde 2004.

O Congresso vai ainda aprovar alterações para “atualizar e enriquecer” o programa do partido, datado de 1992, e as Teses, que estabelecem como “questão central” o rompimento com a troika do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia, uma “condição determinante” para formar uma alternativa de esquerda. Caminho que passará pela “denúncia das responsabilidades do PS” e pela “convergência” com “outras forças e sectores”.

Jerónimo de Sousa só faria o primeiro discurso no Pavilhão de Desportos de Almada após duas intervenções dos dirigentes Vasco Cardoso e Margarida Botelho. O primeiro deu a deixa para a aprovação – unânime - do regulamento do Congresso, da mesa da presidência e da ordem de trabalhos. A segunda reproduziu uma saudação do Comité Central aos participantes na reunião magna.

Depressa se perceberia que no ponto de mira do secretário-geral estaria o Executivo de PSD e CDS-PP e o próprio PS, igualmente protagonista, no léxico comunista, do “ciclo vicioso do rotativismo da alternância sem alternativa”.

Exortando os portugueses a demonstrarem “brio patriótico”, de forma a “construir outra política”, Jerónimo de Sousa quis propugnar que a alternativa às políticas em implementação “não se limita nem se esgota no atual quadro político-partidário e muito menos se confina aos partidos da troika, subscritores do pacto de agressão”.

“Está na mão do povo português, da sua vontade democrática, do seu brio patriótico, da sua identificação com os valores de Abril, da sua determinação em construir uma outra política”, apelou Jerónimo, colhendo sonoros aplausos e gritos de “a luta continua” por parte dos delegados ao Congresso.

Para já, atalhou Jerónimo de Sousa, é preciso selar “a derrota definitiva deste Governo e a sua demissão”: “Derrota e demissão que, em toda e qualquer circunstância, exige devolver ao povo a decisão sobre o futuro do país com a realização de eleições antecipadas. Demissão e eleições antecipadas que são, neste quadro, a saída legítima e necessária para interromper o caminho de desastre do país que está em curso”.
“A União Europeia não é reformável”

“No futuro imediato”, enunciou Jerónimo de Sousa, o PCP tratará de ouvir diferentes segmentos da população com vista a “ampliar no país a exigência de um outro rumo e construir a base social e política” de uma alternativa. “Nós, antes de saber de um governo com quem, dizemos um governo para quê e para quem. No atual quadro de arrumação e expressão das forças políticas, a alternativa política está em construção”, afirmou.

Colocando a ênfase na “questão central” das Teses - a resolução política que será adotada em Almada -, o secretário-geral comunista pronunciou-se pelo abandono do Programa de Assistência Económica e Financeira e, consequentemente, pela rutura com os credores internacionais.

Num trecho de dureza análoga dedicado à política europeia, Jerónimo defenderia que devem ser os portugueses a “decidir o seu próprio destino”. Isto face a “uma integração europeia que se caracteriza pela submissão e condicionamento do desenvolvimento de Portugal”. Razão pela qual o PCP “renova o seu compromisso de lutar por um Portugal independente e soberano”.

“Determinado pelo compromisso com o interesse nacional, o PCP reafirma o pleno direito do povo português de decidir o seu próprio destino e de ver assegurada a prevalência dos interesses nacionais sobre quaisquer outros projetos que lhe sejam contrários, direito este que em nenhuma circunstância pode ser expropriado”, vincou o dirigente comunista, já depois de concluir que “a União Europeia não é reformável”.

“A par com décadas de políticas de direita, uma das razões de fundo da profunda crise que o país vive está na natureza e evolução do processo de integração capitalista na Europa, a União Europeia, e no efeito das suas políticas”, rematou.
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