Jerónimo de Sousa reeleito secretário-geral. "Alternativa política não é possível sem o PCP"

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
"Não estamos aqui a prazo data nem em período experimental, mas sim disponíveis para fazer o que temos de fazer, o que o Congresso decidiu”, sublinhou o secretário-geral comunista. António Cotrim - Lusa

Jerónimo de Sousa foi eleito secretário-geral do PCP pela quinta vez pelo comité central do partido. No discurso que encerrou o XXI Congresso nacional do partido, que decorreu em Loures, Jerónimo de Sousa sublinhou que a alternativa política “não é possível só com o PCP, mas também não será possível sem o PCP”.

No discurso de encerramento do Congresso, este domingo, Jerónimo de Sousa começou por criticar “os estados de emergência excessivos e inconsequentes”.

“Hoje há mais portugueses vítimas do aprofundamento da exploração, do desemprego, da pobreza que aumentaram e que continuam a aumentar. Hoje há mais incertezas e inquietações em relação ao futuro das suas vidas. Esta realidade não se combate com estados de emergência excessivos e inconsequentes. Combate-se com medidas de emergência social”, afirmou Jerónimo de Sousa.

Na opinião do dirigente dos comunistas, só é possível “impedir o retrocesso social e melhorar as condições de vida dos trabalhadores e do povo” com “medidas concretas”, como o PCP fez “no quadro da discussão do Orçamento do Estado”, que viabilizou o documento ao abster-se na votação final.

No entanto, Jerónimo deixa críticas ao PS, recordando que este foi “um caminho que ficou curto porque o PS não se liberta das suas escolhas e opções”.

“Mas enquanto alguns desistiam e passavam ao lado dos problemas”, acrescentou Jerónimo, numa crítica indireta ao Bloco de Esquerda, “se há avanços, medidas consagradas dirigidas aos trabalhadores, reformados, pequenas empresas, cultura, ao SNS e aos seus profissionais, todas têm a marca e a contribuição da proposta do PCP", acrescentou.

O congresso realizado em Loures “demonstrou que é possível uma política alternativa, patriótica e de esquerda assente nos pilares do reforço do aparelho produtivo”, referiu o secretário-geral do PCP.

O dirigente dos comunistas pede uma “política alternativa que, na sua concretização, precisa da convergência dos democratas e patriotas, da luta dos trabalhadores e do povo e do reforço do partido”. Uma alternativa política que, na opinião de Jerónimo de Sousa, “não é possível só com o PCP, mas também não será possível sem o PCP”. “Este é um partido necessário e indispensável para construir um futuro de progresso e desenvolvimento, porque com o PCP, a vida avança. Onde se vê o progresso e o avanço, o PCP está lá”, sublinhou o secretário-geral do partido.

Jerónimo de Sousa voltou a fazer referência à controvérsia em torno da realização deste XXI Congresso em plena pandemia. O dirigente dos comunistas criticou as “forças reacionárias, tendo como pano de fundo alguns sectores da comunicação social, os mesmos que não queriam que se celebrasse a Revolução de Abril, o 1º de Maio, a Festa do Avante, e agora o Congresso, aproveitando a situação epidémica e o receio natural face à evolução da doença, desencadearam mais um episódio do medo, já não só o medo de morrer mas conduzindo a operação para o medo de viver”.

O secretário-geral do PCP sublinhou que “se há algum ensinamento a extrair do Congresso do PCP é que não existe nenhuma dificuldade intransponível para garantir a segurança sanitária e o exercício de direitos e liberdades”.

“Aqui chegados, o Congresso deu-nos a ferramenta para o nosso trabalho imediato e futuro expresso na resolução política que aprovamos. Falta fazer a obra”, afirmou Jerónimo. “Elegemos um novo comité central que elegeu os membros dos seus organismos executivos. Não estamos aqui a prazo datado nem em período experimental, mas sim disponíveis para fazer o que temos de fazer, o que o Congresso decidiu”, sublinhou.
João Ferreira na Comissão Política
A finalizar o discurso, Jerónimo de Sousa fez referência às eleições presidenciais que se realizam em janeiro do próximo ano, nas quais o partido está representado pelo candidato comunista João Ferreira. "Temos um partido admirável que ainda nos surpreende. Não nos estamos a preparar para o combate. Já estamos a travá-lo", disse o secretário-geral do PCP. "Vamos precisar de muita força, de muita confiança", apelou.

O candidato presidencial João Ferreira é, precisamente, um dos cinco novos nomes da Comissão Política do PCP, órgão que foi eleito por maioria com apenas uma abstenção, e do qual sai Carlos Gonçalves.

Para a Comissão Política do PCP, que passou de 21 para 24 elementos, além de João Ferreira, entram Belmiro Magalhães, Carina Castro, Paulo Raimundo e Ricardo Costa, saindo deste órgão executivo Carlos Gonçalves e Margarida Botelho.

Em relação anterior congresso de 2016, que se realizou em Almada, Margarida Botelho é o único novo nome entre os dez membros do Secretariado do Comité Central do PCP, do qual sai a histórica Luísa Araújo.

Acumulam a sua presença na Comissão Política e no Secretariado, além do secretário-geral Jerónimo de Sousa, Francisco Lopes, Jorge Cordeiro, José Capucho e, agora, na sequência deste congresso, Paulo Raimundo.
Reeleito pela quinta vez

Ainda antes do discurso final, foi anunciada na manhã de domingo a reeeleição de Jerónimo de Sousa enquanto secretário-geral do PCP "por maioia, com um voto contra", de acordo com uma informação distribuída aos delegados e aos jornalistas.

Esta é a primeira vez, em todas as eleições, que Jerónimo de Sousa recebe um voto contra do comité central. Em 2004, foi eleito por maioria, com quatro abstenções, nas três reeleições (2008, 2012, 2016) teve apenas uma abstenção. Desta vez, registou-se um voto contra e uma abstenção, a do próprio Jerónimo.

Escolhido pela primeira vez em 2004, Jerónimo foi reeleito por quatro vezes para liderar os comunistas portugueses, sucedendo a Carlos Carvalhas, que esteve no cargo 12 anos, de 1992 a 2004.

Operário e deputado à Constituinte, em 1975, Jerónimo de Sousa, 73 anos, torna-se assim no segundo secretário-geral há mais tempo à frente do partido (16 anos), depois do líder histórico do PCP Álvaro Cunhal (31 anos).

c/Lusa
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