Ministro da Saúde instado a demitir-se denuncia "populismo"

por Inês Geraldo - RTP
“O cinismo tem limites, a demagogia tem limites, o populismo e o cata-vento têm limites”, reagiu Adalberto Campos Fernandes. António Cotrim - Lusa

O PSD instou esta sexta-feira o ministro da Saúde a pedir a demissão, tendo em conta a situação que se vive no sector, e acusou o Ministério das Finanças de tomar “de assalto” a saúde em Portugal. O Governo contra-atacou.

Aconteceu esta sexta-feira no Parlamento. O PSD, pela voz de Ricardo Batista Leite, pediu a demissão de Adalberto Campos Fernandes por considerar que o ministro da Saúde “já não existe”.

“Face ao descalabro que está instalado no Serviço Nacional de Saúde, a única atitude séria que se poderia esperar do senhor ministro da Saúde era a sua demissão”, declarou.

O deputado social-democrata sustentou mesmo que a saúde está em descalabro e deu como exemplo as notícias de que crianças com cancro estavam a ser tratadas em corredores no Hospital de São João.

“Situação que inacreditavelmente se mantém, mais uma mentira do Governo, mais uma vergonha inaceitável de quem não honra a sua palavra. Palavra dada, palavra borrifada, e os doentes que se aguentem”.

As críticas do PSD também foram dirigidas a António Costa. Os social-democratas acusam o primeiro-ministro de irresponsabilidade por permitirem que Adalberto Campos Fernandes seja “um mero delegado do ministro das Finanças” e que assista “impávido e sorridente” à destruição do SNS.

Na mesma linha do PSD, o CDS também deixou críticas à atuação governamental na saúde, pelas palavras de Isabel Galriça Neto.

“Não precisamos que o senhor seja Centeno, precisamos que seja ministro da Saúde e precisamos de ter um primeiro-ministro e um ministro das Finanças que não menorizem desta forma os profissionais, a saúde dos portugueses. Precisamos, de facto, ter um governo diferente e novas políticas de saúde”.

O Bloco de Esquerda também criticou Adalberto Campos Fernandes por ainda não ter resolvido o problema dos médicos de família, o tratamento a doentes oncológicos no Hospital de Santa Maria e os problemas no norte do país. Os bloquistas consideraram “gravíssimo ter um ministro das Finanças a decidir o que são opções de saúde em Portugal”.

O PCP lembrou, por seu turno, que a impossibilidade de contratar mais funcionários para a saúde não é a mesma quando a banca apresenta problemas: “Não é possível valorizar as carreiras dos profissionais de saúde mas é possível manter a obsessão com o défice”.
Ministro acusa PSD de populismo
Em resposta às acusações e ao pedido de demissão, o ministro da Saúde afirmou que o PSD mentiu sobre os números da saúde. Adalberto Campos Fernandes rebateu as críticas sobre os tempos de espera e as condições atuais do Serviço Nacional de Saúde e deixou um recado ao PSD.

“Só não mentiu numa coisa. Quando, efetivamente, o PSD disse ao que vinha, que foi dizer votem em nós, porque nós agora travestimo-nos, deixámos de ser a alma penada para ser a alma mobilizada em torno dos trabalhadores”.

A juntar à resposta ao pedido de demissão do PSD, o ministro da saúde criticou o populismo e a demagogia: “O cinismo tem limites, a demagogia tem limites, o populismo e o cata-vento têm limites”.

Na edição desta sexta-feira, o Jornal de Notícias escreve que o Ministério as Finanças afastaram o Ministério da Saúde da "reforma na pediatria". Em comunicado, o gabinete de Mário Centeno veio entretanto classificar como "falsa" a manchete do diário.

"O Ministério das Finanças não comenta reuniões de trabalho que eventualmente possa ter ou ter tido com entidades sob sua direção, tutela, superintendência, sobre as quais exerça a função acionista ou que lhe estejam adstritas, nos termos legais", lê-se na nota.

"Ao Ministério das Finanças cabe avaliar o investimento público o que, feito com rigor e responsabilidade, implica um adequado conhecimento das condições em que esse investimento é realizado. Este trabalho é feito sempre em estreita coordenação com as tutelas setoriais", acrescenta-se no texto.
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