Moção de censura. Paulo Raimundo coloca CDU na "linha da frente" do combate à direita

por Inês Moreira Santos - RTP
Paulo Raimundo, secretário-geral da CDU. Foto: Pedro Pina - RTP

Ainda não estão contados os votos dos emigrantes portugueses, não há Governo ou primeiro-ministro indigitado, mas o PCP anunciou que vai apresentar uma moção de rejeição ao programa de Governo da AD. Em entrevista ao 360 na RTP3, Paulo Raimundo reafirmou que o partido pretende dar "um sinal político" e dizer que estará "na primeira linha de combate à direita e ao projeto da direita". Na véspera de ser recebido em Belém pelo presidente da República, o líder comunista lamenta os resultados eleitorais e aponta responsabilidades ao PS pela situação política e pela nova composição da Assembleia da República.

Apesar de a contagem de votos ainda não estar concluída, faltando os votos das comunidades emigrantes, "tudo indica" que Marcelo Rebelo de Sousa vai indigitar Luís Montenegro como primeiro-ministro, depois das audiências com os partidos que começaram na terça-feira. Esta é a perspetiva de Paulo Raimundo, que admite que esta "é uma possibilidade que está em cima da mesa".

O líder da CDU vai ser recebido na quinta-feira pelo presidente da República e, numa entrevista ao 360 da RTP, afirmou que acredita que esta seja "uma primeira ronda" de audiências e que poderá haver "outra depois dos resultados publicados".

"Da nossa parte, o que vamos dizer é que estaremos na primeira linha de combate à direita e ao projeto da direita", respondeu Paulo Raimundo, quando questionado sobre o que, enquanto candidato pela CDU, pretendia dizer ao presidente da República na audiência em Belém.
"Dissemos isso durante a campanha eleitoral e, em conformidade com o que dissemos, cumprindo os compromissos que temos, estaremos na primeira linha de combate a um projeto que não serve os trabalhadores, não serve o país e é um projeto que tem história (...) e que a direita quer retomar".
Embora ainda não sejam conhecidos os resultados eleitorais finais, e sem comentar a antecipação de Pedro Nuno Santos a assumir a derrota, o líder comunista recordou que "a composição da Assembleia da República, a partir do dia 10 de março, alterou-se profundamente".

Sem todos os votos, os resultados "indicam uma tendência", continuou explicando que não foi eleito um primeiro-ministro mas sim 230 deputados.

"O que saiu das eleições do passado domingo foi uma composição da Assembleia da República completamente diferente daquela que havia anteriormente na distribuição desses deputados e desses mandatos", reforçou.
"Votos construídos a partir do engano"

Ainda antes de ser ouvida pelo chefe de Estado, e sem Governo formado, a CDU já anunciou uma moção de censura ao projeto do novo executivo.

"Estaremos na linha da frente no combate à direita e ao seu projeto", repetiu. "E utilizaremos todos os meios ao nosso dispor para isso".

O que a CDU afirma, explicou o secretário-geral do PCP, é que "se o Governo do PSD for indigitado, tendo em conta o programa que tem, (...) tendo em conta o projeto que a direita toda tem para o país", a coligação de esquerda estará "na primeira linha de combate".

"Se isso acontecer, teremos a iniciativa de uma moção de rejeição porque achamos que isso não corresponde às necessidades do povo, dos trabalhadores e do país", argumentou.

"Houve três milhões de votos na direita", lembrou Paulo Raimundo. "Três milhões de votos construídos, em grande medida, a partir do engano, a partir da mentira e a partir de uma exigência (...) de mudança". Mas as mudanças necessárias, nas palavras do líder comunista, são nos salários, na Habitação, no SNS, nas reformas e pensões, nos direitos dos trabalhadores e das famílias.

"Nada disso poderá vir de um governo do PSD/CDS e com a agravante na junção da direita, em alguns casos, mais reacionária".

Ainda sobre essa moção de censura, Paulo Raimundo não acredita que tenha mais apoios partidários, mas que o objetivo é "dar um sinal político de clareza" para que o próximo executivo saiba "com o que conta do PCP".

"É um sinal político. Só nos compromete a nós, naturalmente". Pela CDU, "o projeto da direita não é implementado em Portugal".

Sobre o convite de Bloco de Esquerda para reunir, Paulo Raimundo reitera que CDU aceitou e assegura estar disponível para "conversar".

Já sobre os resultados eleitorais, que indicam que a CDU terá quatro deputados no Parlamento, Paulo Raimundo assumiu que "o resultado foi negativo".

"Achamos que não é um resultado positivo para os trabalhadores e para o povo", alegou, acrescentando que o partido fez "o esforço possível".

"Estamos insatisfeitos, mas não desaparecemos", continuou. "Mas não podemos menosprezar aquilo que foram dois anos de mentira, de deturpação, de criação de um clima profundamente anti-PCP e anti-CDU. Estes últimos dois anos foram profundamente marcados por isso. Não justifica tudo, mas justifica uma parte importante".

O líder da CDU não deixou de apontar, contudo, responsabilidades ao Partido Socialista pelos "três milhões de votos à direita" e pelo crescimento do Chega, "desde logo porque não respondeu aos problemas das pessoas" e "correspondeu aos interesses dos grupos económicos".

"E há outra questão: o PS fez uma opção completamente errada, que foi alimentar e alimentar-se (...) do Chega", rematou sobre este assunto.
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