OE2022. BE acusa Governo de "tremenda irresponsabilidade"

por Andreia Martins - RTP
Manuel de Almeida - Lusa

Em vésperas de votação do Orçamento do Estado para 2022, Catarina Martins incrimina o Governo de "fechar a porta a todas as propostas" apresentadas pelo partido e considera que o PS poderá estar interessado em provocar uma crise política. A coordenadora do Bloco de Esquerda esteve esta terça-feira de manhã na manifestação de cuidadores informais junto à Assembleia da República e confirmou que não houve nenhum contacto com o Executivo nas últimas horas.

A líder bloquista considera que o documento orçamental não resolve nenhum problema de fundo do país e acusa o Executivo de “tremenda irresponsabilidade” por “dizer que não” a todas as nove propostas apresentadas pelo BE.

Catarina Martins refere que o Bloco fez um esforço de aproximação ao apresentar apenas nove propostas nas negociações com o Governo, algumas delas que “o próprio PS já teve”, adianta.
A bloquista acusa mesmo o Executivo de estar à procura de uma crise política. "Alguém compreende porque é que o Partido Socialista recusa as suas próprias propostas anteriores, a não ser que o Partido Socialista tenha vontade de criar uma crise. Acho isto de uma enorme irresponsabilidade", aponta.

"O Governo quer uma crise política? Talvez queira", refere Catarina Martins, criticando o facto de as negociações com o Bloco de Esquerda só terem sido iniciadas em setembro. "Eu não consigo compreender qual é a estratégia do Governo, a não ser querer eleições antecipadas. E eu acho isso de uma tremenda irresponsabilidade", acrescentou ainda nesta declaração aos jornalistas. 

Perante a posição do Governo, Catarina Martins refere que "não podem pedir ao Bloco de Esquerda que esqueça o seu mandato".

"O Governo pode anunciar o que quiser, mas há uma 'prova dos nove', ou está na lei a solução, ou se não está, será mais uma vez um engano", frisou a líder bloquista.

A líder bloquista acrescenta que o voto contra do BE ao Orçamento do ano passado já visava precisamente a situação no SNS. "Não é o Bloco de Esquerda que cria a crise no Serviço Nacional de Saúde, ela está lá porque o Governo se recusou a fazer o que devia fazer e nós avisámos", refere.

Questionada pelos jornalistas sobre a evolução nas negociações ao longo das últimas horas, Catarina Martins refere que não há "nenhuma novidade" e que não se registaram novos contactos com o Governo.

Acusa o Executivo de apostar numa solução "de faz de conta". "[As pessoas] não suportam mais anúncios, precisam sim de soluções concretas", adianta, criticando o PS por votar "quase todas as leis estruturais ao lado da direita" na presente legislatura.

Junto à manifestação de cuidadores informais, Catarina Martins recorreu a esse mesmo exemplo para criticar o documento orçamental. "Lutámos para que houvesse um estatuto. Ano após ano, o Governo colocou 30 milhões [de euros] no Orçamento do Estado. Não chegou nada, nada, aos cuidadores informais. Não foi falta de vontade do Bloco de Esquerda", afirmou.

Catarina Martins voltou a frisar a situação de "pressão" no SNS. O Governo "propõe que quem já lá está exausto, quem já está a dizer que não aguenta mais, que trabalhe mais horas. Pagar mais de 500 horas extra é até ilegal", disse Catarina Martins, em referência aos casos de demissão das últimas semanas em vários hospitais do país.

O Bloco de Esquerda anunciou no último domingo que irá votar contra o Orçamento do Estado esta quarta-feira, quando decorrer a votação na generalidade. Também o PCP irá vetar o documento orçamental, pelo que a proposta do Governo deverá ser chumbada no Parlamento.

Neste cenário, o Presidente da República já adiantou que irá recorrer à “bomba atómica”, ou seja, a dissolução da Assembleia da República com a marcação de eleições antecipadas, isto mesmo que o primeiro-ministro não apresente a demissão.
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