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Olhares franceses sobre a Revolução dos Cravos

por Diana Palma Duarte - RTP

Durante os próximos meses “Abril” celebra-se na Embaixada de França com cravos vermelhos, fotografias de Zeca Afonso e notícias que passaram nos diários franceses nos meses subsequentes à revolução.

Isso mesmo. Meses. Surpreendidos com o movimento das forças armadas, pode comprovar-se pelas réplicas das capas exibidas, que os jornalistas franceses não mais largaram as notícias sobre Portugal no ano de 1974 e 1975 até depois do Verão quente.

Há 50 anos, o que se pode ver nas vitrines da embaixada é que o interesse no então país de Salazar saltava, de repente, para as manchetes. No Le Monde de 26 de abril pode ler-se "Uma junta militar apodera-se do poder em Portugal" e no Libération de 2 de maio "500 mil em Lisboa saem à rua" pelo Dia do Trabalhador.

Para lá as capas do Le Figaro e do Le Monde, fizeram-se entrevistas históricas que levaram o canal público de televisão de então, a Antenne 2, a vir até Portugal para entrevistar Mário Soares e Álvaro Cunhal.

 
Como conta à RTP o curador Vítor Pereira, “em junho de 75, no Hotel Altis, esse debate passou em direto na televisão francesa”. Ou seja, antes de Cunhal e Soares se digladiarem na televisão portuguesa, já ambos tinham sido vistos e ouvidos em francês. “Isso mostra o interesse dos franceses, pois hoje é difícil imaginar um debate de políticos estrangeiros na televisão generalista”.

Há muito mais histórias neste “palco à revolução” dado pela embaixadora Hélène Farnaud-Defromon, a embaixadora francesa em Portugal. Foi a forma simbólica encontrada para participiar nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril. Uma ideia desenvolvida em conjunto com o seu número dois em Lisboa, o primeiro conselheiro Thomas Bertin.

Posta em prática pelo historiador franco-português Vítor Pereira, os documentos, fotografias e capas de jornais são propriedade dos arquivos do Ministério dos Negócios Estrangeiros de França mas também há peças pesquisadas na Torre do Tombo, no Ministério de Negócios Estrangeiros português e obras da Fundação José Afonso.

Desta fundação há duas peças centrais: a edição original do disco Cantigas do Maio de 1971 aqui mostrado para falar sobre a “famosa história da gravilha” e ilustrada através de uma imagem que junta José Mário Branco, José Afonso e Francisco Fanhais num castelo francês.

 
À data, os músicos contra o regime, estavam a passar uma temporada fora e a gravar o álbum num estúdio de música existente no castelo d´Hérouville. Começaram então a perceber que a gravilha do chão exterior poderia servir-lhes para algo. E se assim pensaram, melhor fizeram. O som da gravilha que se ouve no arranque da música “Grândola Vila Morena” provém dos pés deles a marchar na gravilha francesa.

Para a embaixadora Hélène Farnaud-Defromon, o objetivo é dedicar a mostra aos portugueses, pois “a França foi a grande democrata e inspiradora de exilados portugueses como Álvaro cunhal, Mário Soares ou Eduardo Lourenço”.

Entre fugir da ditadura, da guerra colonial ou das más condições de vida, no total cerca de 900 mil portugueses emigraram para França na década de 60 do séc.XX.

Os documentos mostram ainda uma carta de Álvaro Cunhal escrita à mão e um panfleto de uma homenagem realizada a Amílcar Cabral.

É o olhar dos franceses sobre os dias revolucionários que puseram fim à ditadura e deram início à democracia. Para alguns historiadores franceses, diz Vítor Pereira, “o 25 de Abril foi o Maio de 68 português”.

Para complementar a reacção francesa aos acontecimentos em Portugal há ainda telegramas diplomáticos, há capas da Paris Match com Soares e Miterrand, uma cópia do livro "Portugal Amordaçado", também de Soares, livro iniciado em São Tomé e Príncipe - para onde foi deportado - mas continuado e publicado em 1972 no seu exílio em França.

No próximo dia 13 de maio as portas da Embaixada de França abrem-se durante todo o dia ao público. Basta reservar um lugar com alguma antecedência e ver este episódio francês peculiar mas da maior importância histórica para Portugal.
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