Passos quer envolver PS em reforma da Segurança Social após 2015

por Paulo Moreira/ Rui Magalhães

Foto: Luís Forra, Lusa

A partir do Pontal, Pedro Passos Coelho desafiou na última noite o PS a entender-se com o PSD para a reforma da Segurança Social - um processo a pôr em prática após as legislativas de 2015 e independentemente da cor do próximo Governo. Sem referências diretas ao BES, o primeiro-ministro sugeriu ainda ser melhor “enfrentar as más notícias” do que “usar dinheiro dos contribuintes para pagar a falta de ética”.

O Governo partilhado por social-democratas e democratas-cristãos não lançará sozinho quaisquer propostas de reforma da Segurança Social até às eleições legislativas do próximo ano. Foi Passos Coelho quem o prometeu no Pontal, em Quarteira.

“Está na altura de dizer ao PS que estamos disponíveis antes das eleições para firmar uma reforma da Segurança Social que tenha o contributo do PS, dado que este é um problema nacional”, instou o primeiro-ministro no discurso que marcou a rentrée laranja.“O PS, no meio da disputa interna em que se encontra, por certo irá encontrar tempo e oportunidade para dizer o que pensa”, exortou Passos.


“Ganhe quem ganhar as eleições, a seguir a 2015 faremos a reforma da Segurança Social que pudermos acordar daqui até às eleições”, enunciou.

Cerca de 24 horas depois da divulgação do mais recente acórdão dos juízes do Palácio Ratton, o presidente do PSD quis propugnar que o seu Executivo procurou levar a cabo “várias coisas, seguindo orientações definidas por quem tem a capacidade de interpretar a justeza constitucional das leis” – Passos fez referência ao aumento da idade da reforma, à convergência das pensões e à proposta de que parte da receita da Segurança Social resultasse “de um pequeno aumento da TSU e de um pequeno aumento do IVA”.

“Apresentámos uma reforma bastante lata de compromisso, em que aqueles que estão aposentados perderiam uma pequena parte da sua pensão e aqueles que não são pensionistas pagariam a outra parte, entre aqueles que vivem hoje e aqueles que vivam no futuro. Há quem diga que isso não é uma verdadeira reforma”, acentuou o chefe do Governo, para acrescentar que “há quem pense que só há verdadeiras reformas” sem tocar em direitos adquiridos.

“Ou seja, só os jovens e aqueles que estão hoje a começar a sua vida é que podem perder direitos, os outros não podem. É uma estranha forma de ver a equidade, é uma estranha forma de ver a solidariedade”, vincou Pedro Passos Coelho, sem nunca nomear o Tribunal Constitucional.
“Falta de ética e escrúpulos”

Numa segunda porção do discurso preparado para a noite algarvia, o líder social-democrata aludiu também ao abalo com epicentro no Grupo Espírito Santo. Sempre indiretamente.

“Hoje começamos a perceber que por mais desagradável, por piores notícias que possam parecer algumas que nos invadem a casa à hora mediática dos telejornais, é melhor saber e enfrentar as más notícias do que varrer para baixo do tapete, fazer de conta e usar o dinheiro dos contribuintes para pagar a falta de ética, de escrúpulo”, sugeriu.

Passos admitiu que o país teve uma “economia em que certos privilégios se iam reproduzindo de ano para ano”: ”Só à medida que o tempo passa nos vamos apercebendo bem dos privilégios, para não dizer da falta de ética que vigorava entre muita gente que vivia entre a política e os negócios e os negócios e a política”.


Foto: Luís Forra, Lusa

De acordo com o primeiro-ministro, haverá agora “uma nova economia a nascer”, em que “não é preciso ser-se amigo de quem está no Governo para poder ter empréstimos, a começar na Caixa Geral de Depósitos e a acabar na banca privada”

“Esta economia nova que está a nascer é a melhor garantia de que o país não vai voltar atrás”, reforçou.

c/ Carlos Santos Neves, RTP
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