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Paulo Raimundo frisa "enorme responsabilidade" do PCP no primeiro discurso como líder comunista

por Inês Moreira Santos - RTP
António Pedro Santos - Lusa

Depois de ter reunido a unanimidade do Comité Central no sábado, Paulo Raimundo discursou pela primeira vez como secretário-geral do Partido Comunista Português. O novo líder comunista afirmou, este domingo, que o partido tem "uma enorme responsabilidade" e a conferência dos últimos dois dias demonstrou que está "à altura". O sucessor de Jerónimo de Sousa agradeceu ao líder cessante o "empenho e contributo" e dirigiu-lhe um "até já", alertando os militantes que "há quem salive e desespere pelo fim do PCP".

“Que grande é o nosso partido. Que força imensa é esta”, iniciou Paulo Raimundo no discurso de encerramento da Conferência Nacional do PCP, que decorre no Seixal desde sábado.

“Com esta grandeza, com esta força, com esta determinação é muito fácil levar por diante as tarefas – sejam elas quais forem – que o partido nos dá”, acrescentou.

Ao encerrar os trabalhos da Conferência Nacional, Paulo Raimundo disse que o partido reafirmou a “identidade comunista e natureza de classe, objetivos e princípios”.

“Envolvemos o partido, aprofundamos a reflexão, construímos soluções ao mesmo tempo que incentivamos e mobilizamos para a luta – uma luta que passou também aqui pela nossa conferência e que daqui saudamos”.

Com a aprovação da resolução, anunciou o novo líder comunista, o PCP vai continuar o “trabalho sobre cada uma das linhas de intervenção agora decididas, tomar a iniciativa, responder às novas exigências e reforçar o partido que queremos ainda mais ligado à vida e aí ir buscar mais força”.

As decisões que o PCP está a tomar, frisou, “são uma necessidade para o partido mas são, acima de tudo, uma necessidade dos trabalhadores, das populações, da juventude, dos democratas e dos patriotas”. Porque “um partido mais forte e com maior influência é o garante dos direitos e dos anseios dos trabalhadores e do povo”.

“Temos uma enorme responsabilidade, mas tal e qual a conferência demonstrou, estamos à altura dessa responsabilidade”.


“O nosso compromisso é o de sempre e com os mesmos de sempre: com os trabalhadores e com o nosso povo”.

Segundo o secretário-geral do PCP, eleito no sábado, na Conferência Nacional do partido não se tratou “da defesa dos interesses do capital, do aumento da exploração ou da rapina dos recursos do Estado para servir uns poucos”.

“Aqui tomamos iniciativa pelo trabalho, pela dignidade de que trabalha, dos que produzem a riqueza e garantem o funcionamento da sociedade e que, por isso, no mínimo merecem respeito, direitos e uma vida digna”, afirmou, frisando a urgência no aumento dos salários, do fim da precariedade, da regulação dos horários de trabalho e a revogação das normas gravosas da legislação laboral.

Na conferência comunista, continuou, “não houve nem há manobras para cortar reformas e pensões”, porque o PCP toma a “iniciativa por quem trabalha e trabalhou uma vida inteira, pelo seu direito a uma reforma digna e a envelhecer com qualidade de vida”.

Em tom de critica ao Governo, Paulo Raimundo sustentou que o PCP propõe medidas para salvar o Serviço Nacional de Saúde, garantir Educação de qualidade, defender serviços públicos e valorizar os seus profissionais.

“Na nossa conferência não se trata os problemas com hipocrisia”, disse ainda.

E, referindo-se ao conflito na Ucrânia, Paulo Raimundo garantiu que o PCP não discute “como apoiar ou aceitar os caminhos da guerra, do reforço armamentista, das sanções, da destruição e da morte”.

“Não instigamos uma escalada de resultados imprevisíveis”.

O novo secretário-geral do PCP advogou que o partido tem a "autoridade de quem sempre se opôs" à guerra na Ucrânia.

E deixou um alerta: "Fogo não se apaga com gasolina, tomamos a iniciativa pela paz".
"Há quem salive" pelo fim do PCP
Ainda no seu primeiro discurso como secretário-gera do partido, Paulo Raimundo agradeceu a Jerónimo de Sousa o seu “empenho e contributo” e dirigindo-lhe um “até já".

“Porque não esquecemos o papel de cada um no coletivo partidário, em nome do Comité Central, em nome da Conferência Nacional e certamente que em nome de todo o Partido, gostaria de dirigir uma palavra ao camarada Jerónimo de Sousa”, afirmou.

“A alteração das tuas responsabilidades não significa um adeus, é um até já camarada”, disse, num momento em que os delegados e militantes presentes se levantaram para aplaudir Jerónimo de Sousa e entoar “Assim se vê a força do pêcê”. Jerónimo de Sousa, recorde-se, deixa o cargo de líder mas vai permanecer no partido como membro do Comité Central.

Falando para os presentes, Paulo Raimundo avisou ainda que “há quem salive e desespere pelo fim do PCP”.

“Pois daqui fica o conselho, esperem sentados, porque um partido ligado aos trabalhadores, às populações, aos seus problemas e anseios, determinado em lhes dar esperança, um partido assim e como aqui se reafirmou na Conferência, a única coisa a que está condenado é a crescer e a alargar a sua influência”
, defendeu.

Em todas as frentes de luta e intervenção, continuou, "aqui fica o apelo, que todos e cada um dê mais um pouco, faça mais um esforço, ganhe mais confiança nesta luta que travamos pelos trabalhadores, o povo e o País, por uma sociedade e um mundo mais justos”. Mas o apelo foi estendido “a toda a sociedade”, para que não se perca “a esperança” nem se “baixem os braços”.

De acordo com Raimundo, o PCP não se conforma nem resigna com o capitalismo que “apenas tem para oferecer a guerra, a miséria, a corrupção e a degradação ambiental, tem de facto muita força” mas que “não tem força bastante para travar o mais belo projeto que a humanidade conhece e que colocará a igualdade, a justiça e a paz no centro dos objetivos da atividade humana, o socialismo e o comunismo, a sociedade nova, a que o futuro pertence”.

Vincando que “o PCP conta, e conta muito”, o novo líder comunista assinalou que para atingir estes objetivos conta também com “os dois mil novos militantes que aderiram ao partido desde o início do ano passado e com os milhares que serão membros do partido nos próximos anos”.

“[O PCP] Conta na vida de todos os dias, conta na luta de todos os dias, conta, e cada vez é mais necessário, aos trabalhadores, ao povo e ao país”
, rematou.

Quando terminou a intervenção, Paulo Raimundo e Jerónimo de Sousa deram as mãos e deram um abraço perante uma plateia de punhos erguidos e bandeiras no ar.
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