PCP vai ter novo secretário-geral. Jerónimo de Sousa substituído por Paulo Raimundo

por Inês Geraldo, Carlos Santos Neves - RTP
Paulo Raimundo, aqui fotografado em 2015, vai substituir Jerónimo de Sousa como secretário-geral do PCP Manuel Almeida - Lusa

O PCP revelou na noite de sábado que Jerónimo de Sousa vai ser substituído como secretário-geral do partido. O sucessor é Paulo Raimundo, de 46 anos. A passagem de testemunho acontecerá no próximo dia 12 de novembro.

Dezoito anos depois, aos 75 anos de idade, Jerónimo de Sousa deixa a linha da frente do Partido Comunista Português e vai ser substítuído por Paulo Raimundo, que milita no partido desde 1994.
"Jerónimo de Sousa, secretário-Geral do PCP, no prosseguimento de uma avaliação própria, refletindo sobre a sua situação de saúde e as exigências correspondentes às responsabilidades que assume, colocou a questão da sua substituição nas funções que desempenha, mantendo-se como membro do Comité Central do PCP", pode ler-se numa nota do partido.O ainda secretário-geral do Partido Comunista vai passar o testemunho ao ao sucessor no próximo dia 12 de novembro.

"Paulo Raimundo é de uma geração mais jovem, com um percurso de vida marcado por uma experiência diversificada, com capacidade, inserção no coletivo, preparado para uma responsabilidade que associa a dimensão pública à ligação, contacto e identificação com os trabalhadores e as massas populares e com o Partido, as suas organizações e militantes", conclui a nota do partido.
O presidente da República reagiu de imediato à saída de Jerónimo de Sousa da liderança do PCP e destacou a cooperação institucional que manteve com o secretrário-geral do Partido Comunista, desejando felicidades a Paulo Raimundo.

Também o presidente da Assembleia da República veio já agradecer o "enorme contributo" de Jerónimo de Sousa para as instituições democráticas.

"No dia em que se anuncia que o deputado Jerónimo de Sousa deixará de ser, a seu pedido, secretário-geral do PCP, é tempo de agradecer o enorme contributo que tem dado para as instituições democráticas portuguesas", escreveu Augusto Santos Silva no Twitter.


António Costa saudou, na mesma rede social, "o militante e o dirigente" do PCP.

"Antes da dimensão política, evoco a sua cordialidade e empatia e a profunda estima que me liga a Jerónimo de Sousa", escreveu o primeiro-ministro, para em seguida recordar que "foi ele que deu o primeiro, corajoso e decisivo passo que, em novembro de 2015, abriu as portas a uma nova relação na esquerda portuguesa".


Por sua vez, o líder do PSD, Luís Montenegro, assinalou a "simpatia pessoal" do secretário-geral cessante do PCP e a sua "lealdade no combate político", dizendo-se "nos antípodas do comunismo" mas respeitador dos seus "crentes".

Igualmente no Twitter, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, referiu-se a Jerónimo de Sousa como um "exemplo de abnegação e entrega".

"Jerónimo de Sousa é o rosto de uma parte imprescindível da esquerda. Estou certa que continuaremos a encontrar-nos em combates comuns", escreveu.

A proposta para o cargo de secretário-geral vai assim ser votada, em reunião da direção do Comité Central, no próximo sábado, uma vez concluídos os trabalhos do primeiro dia da Conferência Nacional.
"Ninguém é insubstituível"
Há duas semanas, em entrevista à agência Lusa, o secretário-geral cessante do PCP deixara antever uma possível saída do cargo: "Isto é quase um desabafo pessoal, os meus camaradas perdoar-me-ão, mas tive sempre esta ideia: ninguém é insubstituível".

Nessa ocasião, Jerónimo escusou-se a adiantar qualquer calendário para sua substituição. Todavia, vincou que "a lei da vida não perdoa a ninguém".

Salientando que "o fator determinante" seria a avaliação das "condições físicas e anímicas para continuar a fazer dois mil quilómetros num fim de semana", Jerónimo de Sousa enfatizou que a estrutura do partido acompanharia e validaria o processo de transição.

"Eu, no caso concreto, tenho a ideia de que a vida tem um desfecho e que não deveria, enfim, esperar por qualquer reparo crítico em relação à idade", dizia então o político. Para insistir: "Aqui o fator fundamental é de facto a saúde".
Paulo Raimundo, a escolha para a sucessão
Foi no último congresso do PCP que o nome de Paulo Raimundo, pouco visível no campo mediático, entrou para o círculo mais restrito do Partido Comunista.

O PCP aponta, nas notas biográficas sobre o futuro secretário-geral, que Paulo Raimundo "começou como carpinteiro, foi padeiro e animador cultural na Associação Cristã da Mocidade na Bela Vista", circunstâncias que "lhe permitiram medir o pulso às "contradições do dia-a-dia", nomeadamente os salários baixos, a exploração e a precariedade, além da "camaradagem e solidariedade" entre trabalhadores.

Durante um comício comemorativo dos 101 anos do PCP, no início deste ano, Paulo Raimundo falou sobre "a força organizada dos trabalhadores é capaz de tudo", reprovando o aumento do custo de vida, da alimentação à energia: "Autêntica pilhagem liberal que há muito está em curso". Raimundo aderiu à JCP em 1991 e três anos depois ao PCP. Em 2004 tornava-se funcionário.


Dois anos depois de se filiar, foi eleito membro do Comité Central e, em 2016, entrou para o Secretariado. No XVI Congresso, em 2020, é eleito para a Comissão Política do Comité Central. Integra assim os dois órgãos mais restritos, a par de figuras como o próprio Jerónimo de Sousa, Francisco Lopes ou Jorge Cordeiro.

Paulo Raimundo nasceu em Cascais. Os pais, naturais de Beja, trabalhavam como funcionários do Estoril Futebol Clube quando nasceu e viviam nas instalações do clube, segundo os dados facultados pelo PCP.

O futuro secretário-geral é descrito como um dirigente que "associa qualidade humanas próprias a uma experiência densa e diversificada", um trabalho político de proximidade com todas as estruturas do partido, desde a juventude comunista aos órgãos mais circunscritos da direção. Em suma, um homem com "um percurso de vida dedicado à defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo português, por um Portugal com futuro, pelo ideal e projeto comunistas".

c/ Lusa

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