"De cabeça erguida". Jerónimo despede-se dos cargos de secretário-geral e deputado do PCP

por Carlos Santos Neves - RTP
“Não vou continuar como deputado”, confirmou este domingo Jerónimo de Sousa, em conferência de imprensa Tiago Petinga - Lusa

“Um homem do povo que procura fazer o melhor para o seu povo”. Foi assim que Jerónimo de Sousa retratou, este domingo, em conferência de imprensa, os 18 anos no cargo de secretário-geral do Partido Comunista Português, que se prepara para entregar a Paulo Raimundo. O dirigente cessante confirmou que vai deixar de ser deputado.

“Não, não vou continuar como deputado. Naturalmente, há aqui uma alteração qualitativa das minhas capacidades. Tendo em conta a dimensão da nossa bancada, não se compadece com ausências momentâneas”, afirmou Jerónimo de Sousa, após ser questionado pelos jornalistas sobre a sua posição na bancada parlamentar do PCP.

Duarte Alves, de 31 anos, é o nome seguinte na lista de candidatos à Assembleia da República pelo círculo de Lisboa, pelo qual Jerónimo de Sousa foi eleito. E é o nome proposto para o substituir no combate parlamentar.

Questionado sobre o momento da saída oficial do Parlamento e da derradeira intervenção em plenário, Jerónimo de Sousa admitiu não fazer mais intervenções. O PCP revelou na última noite que Jerónimo de Sousa vai ser substituído como secretário-geral do partido. O sucessor é Paulo Raimundo, de 46 anos. A passagem de testemunho acontecerá no próximo dia 12 de novembro.

Nesta conferência de imprensa, dedicada às conclusões da reunião do Comité Central do PCP decorrida no sábado, Jerónimo de Sousa quis “reafirmar de viva voz” que a decisão de deixar o cargo de secretário-geral teve por base uma ponderação sobre o seu quadro de saúde.

“Gostaria aqui de reafirmar de viva voz que como seguimento de uma avaliação própria, resultante de uma reflexão sobre as minhas condições de saúde e as exigências correspondentes às responsabilidades que tenho vindo a assumir como secretário-geral do PCP, coloquei a minha substituição nestas funções”, declarou Jerónimo.
Concluída a “devida auscultação”, prosseguiu, Paulo Raimundo foi o nome escolhido para a substituição.

“É um camarada de uma geração mais jovem, com um percurso de vida marcado por uma experiência diversificada, com capacidade, inserção no coletivo, preparado para uma responsabilidade que associa a dimensão pública com a ligação, contacto e identificação com os trabalhos e as massas populares, com o trabalho do partido, as suas organizações e militantes”, enumerou Jerónimo de Sousa.Jerónimo de Sousa revelou ter sido aplaudido de pé, durante quatro minutos, na reunião do Comité Central. "Sabe muito bem", disse.


“É uma solução segura, que corresponde às necessidades do partido neste momento e tenho profunda confiança de que vai ser capaz de dar conta do recado, ainda por cima pertencendo a uma nova geração que só prestigia e garante ao partido e o seu futuro”, acrescentou sobre o sucessor.

Jerónimo de Sousa disse sair do cargo “de cabeça erguida” e que foi sua a iniciativa. “Procurei sempre fazer o melhor”, vincou.
O colapso da geringonça
Relativamente à experiência da geringonça - aliança de incidência parlamentar que permitiu arredar do poder a coligação entre PSD e CDS-PP e a formação do Governo minoritário de António Costa -, Jerónimo de Sousa recordou que, mesmo com um PS “contrariado e recuado”, foi possível levar a cabo “coisas muito importantes”.

“Mas conforme os anos se foram sucedendo verificámos que o PS tentava ficar para trás e não corresponder a propostas concretas, fundamentais”, prosseguiu o dirigente cessante, referindo-se em seguida ao aumento de salários e pensões, à defesa do Serviço Nacional de Saúde e à legislação do trabalho.“Estivemos certos a afastar a direita do poder, estivemos certos nos passos seguintes”.

“O PS não tinha resposta e colocou-se a questão: como poderíamos continuar a ter compreensão política quando no fundamental desvalorizou as nossas propostas?”, evocou. Para rematar: “E agora o que faz o PS com esta maioria absoluta? O que está a fazer não é brilhante e merece uma profunda crítica”.

c/ Lusa
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