Portugal: Investimento Estável

por Rui Sá

A DBRS mantém o rating de Portugal como de investimento e considera-o com tendência estável dado o progresso na redução do défice e a proatividade no fortalecimento do setor bancário.
Boas notícias para o país no dia em que o Presidente da República acabou de ouvir os partidos e declarou que "deixou de haver qualquer problema com o Orçamento do Estado para 2017".

A dívida portuguesa recomenda-se como investimento.

A Canadiana DBRS manteve o rating do país e passou as expectativas futuras de evolução de negativas para estáveis.

Mário Centeno já veio dizer que a decisão da única agência de notação financeira que não considera como "lixo" a dívida soberana do país premeia.

Em Bruxelas o Primeiro-ministro diz que só quem espera "o diabo" pode ter ficado surpreendido com a decisão.

O diabo seria o Banco Central Europeu deixar de investir na dívida soberana portuguesa. Vai continuar a fazê-lo. Os juros baixaram para mínimos de seis semanas.

Otmar Issing, antigo governador do Bundsbank, e ex-economista chefe do Banco Central Europeu lembra que a atual política seguida por Mário Draghi não é sustentável e que a breve prazo não haverá no mercado "munições" (dinheiro) suficiente para manter os juros artificialmente baixos.

O economista alemão é um dos pais do Euro. Olha para a Grécia e para Portugal e defende que quem não é forte o suficiente deve apenas ser ajudado a deixar a moeda única.

Otmar Issing diz que o país não fez o suficiente em termos de reformas estruturais e que desde a tomada e posse do atual governo está a recuar e deverá pagar por isso.

Mário Draghi é claro ao dizer que, apesar de confiante no caminho traçado de diminuição do défice e da dívida, Portugal enfrenta problemas graves, nomeadamente ao nível do crédito mal parado e da capitalização das empresas.

Em Belém, onde o Presidente da República recebeu Bloco de Esquerda, PS e PSD na última ronda de audiências sobre o o Orçamento do Estado para o próximo ano, Carlos César mostrou-se consciente desses mesmos perigos mas garante que, apesar deles, a política de devolução de rendimentos e aposta social não terá qualquer retrocesso.

Catarina Martins garante mesmo que este orçamento, apesar de ter resultado de negociações muito difíceis, protagoniza o maior aumento das pensões dos últimos anos.

Todos os partidos à esquerda do PS reconhecem que o crescimento não é o desejado, mas apontam o dedo à necessidade de fazer as contas pela pauta de Bruxelas. Voltaram a falar da reestruturação da dívida como única saída para que o orçamento tenha verbas suficientes para os estímulos necessários.

Pedro Passos Coelho, é claro. Faltam medidas estruturais que garantam um crescimento mais que anémico e admite assumir a sua proposta, mas apenas durante a discussão parlamentar do documento.

O PSD garante não pode ir neste momento mais longe porque faltam documentos na proposta de Orçamento do Estado que chegou à Assembleia da República, nomeadamente os quadros das contas das administrações públicas relativas a 2016.

Elementos da evolução recente da economia portuguesa que a DBRS analisou para manter a recomendação de investimento na dívida portuguesa.

A agência de notação canadiana diz que o país enfrenta forte pressão fiscal e vaticina que o crescimento continuará modesto no próximo ano, mas admite que, desde que se mantenha o atual nível compromisso político em torno do combate ao défice e a dívida, não haverá razões para colocar o país no nível de lixo.
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