"Respeito pela função" e "saudades do palco". As respostas de Marcelo e Costa a Cavaco

por Christopher Marques - RTP
Marcelo Rebelo de Sousa e Aníbal Cavaco Silva na passagem de testemunho que se realizou em março de 2016. Rafael Marchante - Reuters

O Presidente da República e o primeiro-ministro foram esta quarta-feira confrontados com as declarações de Cavaco Silva. Ambos afirmaram que não fariam comentários, mas acabaram por fazê-lo. Marcelo Rebelo de Sousa exaltou a necessidade de haver respeito pela função presidencial para que esta seja respeitada pelo povo. António Costa considerou “natural” que um “político profissional” tenha “saudades do palco” .

Marcelo Rebelo de Sousa começou por dizer que não comentava as declarações de Cavaco Silva. Terminou dizendo que não é possível comentar quando se diz que não se vai comentar. Pelo meio, mostrou que, afinal, sempre se pode comentar quando se diz que não se comenta.

Vamos então por partes. Questionado pelos jornalistas sobre as declarações do ex-Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa começou por dizer que não tecia comentários. Ao explicar os motivos para o fazer, deixou implícita a crítica ao seu antecessor.

“Quem é eleito Presidente da República assume um certo dever de reserva e contenção, em particular nas relações com os seus antecessores”, afirmou.

Para Marcelo, esta contenção implica que haja “muito cuidado no relacionamento com quem foi Presidente da República ou está a ser” por uma questão de “cortesia, bom senso, educação e, sobretudo, respeito pela função presidencial”.

“Se os sucessivos Presidentes da República não têm respeito por aquilo que dizem uns dos outros, acabam por não se fazerem respeitar pelo povo. É uma questão de equilíbrio e consideração pela função presidencial”, defendeu.

Depois desta longa explicação, Marcelo Rebelo de Sousa acabou por insistir que não fazia comentários sobre os seus antecessores e prometeu também não falar dos seus sucessores quando abandonar Belém.
"Saudades do palco"
Antes, também António Costa tinha sido confrontado com as declarações de Aníbal Cavaco Silva. O primeiro-ministro defendeu que é “natural que alguém que durante tantos anos foi político profissional tenha agora algumas saudades do palco”.

No comentário que fez, António Costa usou a expressão "político profissional", apesar de Cavaco Silva sempre ter defendido que não era um político, argumento que manteve mesmo depois da longa passagem por São Bento.

António Costa admitiu ainda que haja quem tenha saudades do estilo presidencial de Cavaco Silva. Dito isto, o chefe do Governo acabou por defender que “o primeiro-ministro não é comentador político” e não irá “comentar os comentários que outros fazem sobre a atuação do Governo”.

As respostas de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa surgem na sequência da aula proferida por Cavaco Silva na Universidade de Verão do Partido Social Democrata. O ex-Presidente regressou à atividade partidária para defender que "a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" e os que, nos governos, querem realizar a revolução socialista "acabam por perder o pio ou fingem que piam".

Cavaco Silva afirmou que "é corrente apresentarem-se três casos" de países onde a realidade tirou o tapete à ideologia, enumerando França e Grécia mas sem se referir explicitamente ao caso de Portugal.

O ex-Presidente da República criticou ainda a "verborreia frenética" da maioria dos políticos europeus, elogiando a exceção de Emmanuel Macron. Cavaco destacou que Macron entende que "a palavra presidencial deve ser escassa”, no que tem sido lido como uma crítica ao estilo presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa.

Ainda na quarta-feira, o Partido Socialista tinha respondido à aula do ex-Presidente por intermédio da deputada Susana Amador. A dirigente socialista lamentou que Cavaco não tivesse “piado mais” na defesa dos portugueses quando esteve em Belém.
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