Socialistas desafiam Passos a aproveitar congresso do PSD para desvendar cortes

por RTP
A direção socialista de António José Seguro considera “urgente e exigível” que Passos Coelho desvende “que acordo fez com a <i>troika</i>” Mário Cruz, Lusa

A cúpula do PS saiu à liça esta sexta-feira, dia de prólogo do XXXV Congresso do PSD, para lançar um repto a Pedro Passos Coelho, instando o primeiro-ministro e líder laranja a aclarar já no discurso inaugural da reunião magna do seu partido os contornos do “acordo que fez com a troika” tendo em vista subtrações definitivas à massa salarial da Função Pública e às pensões e uma flexibilização acrescida das leis do trabalho. A direção de António José Seguro lembra que estarão em causa “mais três mil milhões de euros de cortes”. Deixa também um aviso sobre o pós-resgate: se optar por uma “saída limpa” com o atual patamar de juros, o Governo estará a “atirar-se para a piscina sem boia” e sem “saber nadar”.

É ainda na sequência dos relatórios do Fundo Monetário Internacional e da Comissão Europeia sobre o 10.º exame regular do resgate financeiro que o Rato ensaia uma investida contra a agenda do Congresso social-democrata.
O XXXV Congresso Nacional do PSD decorrerá durante o fim de semana no Coliseu de Lisboa. Sob o mote “Portugal acima de tudo!”, a reunião magna tem início marcado para as 21h00 desta sexta-feira, com a apresentação da moção de estratégia global de Passos Coelho.

Um texto que reforça a tese de que três anos de sacrifícios deram lugar a resultados e que retoca o retrato governativo de um país “prestes a sair da situação excecional de emergência”.

Em conferência de imprensa, ao final da manhã desta sexta-feira, o dirigente socialista Eurico Brilhante Dias veio insistir na exigência de explicações sobre os cortes estruturais impostos pelo triunvirato de credores.

“Foram anunciados mais três mil milhões de euros de cortes. Por isso, é urgente e exigível que o primeiro-ministro responda que acordo fez com a troika para mais cortes nos salários da Função Pública e nas pensões e que cortes são definitivos”, enunciou o membro do Secretariado Nacional do PS.

“Que outras medidas de flexibilização de salários e da lei laboral tiveram o acordo do Governo português com a troika durante a 10ª avaliação?”, perguntou.

Eurico Brilhante Dias faria ainda a exigência de esclarecimentos do chefe do Executivo de coligação sobre “quais são as 172 repartições de finanças que vão fechar no país até maio e quais são as deduções de IRS na saúde e educação que os portugueses verão cortadas em 2015”.
“O que é Portugal senão os portugueses?”

“Não se percebe também por que razão o Governo vem dizendo aos portugueses que a troika vai embora em maio próximo e na 10ª avaliação já tem um conjunto de acordos em torno de medidas objetivamente posteriores a maio de 2014”, continuou Eurico Brilhante Dias, para em seguida criticar declarações recentes do líder parlamentar social-democrata sobre o estado do país.

Em entrevista ao Jornal de Notícias, Luís Montenegro admitiu que “a vida quotidiana das pessoas não está melhor”, mas disse também não ter dúvidas de que “a vida do país está muito melhor do que em 2011”.


Foto: Lusa

“O que é Portugal senão os portugueses? Quem não percebe que Portugal são os portugueses, a vida de todos os dias, não percebe que um programa de empobrecimento não pode ser bom para o país se é mau para os portugueses”, reagiu o dirigente do PS.

Eurico Brilhante Dias deixaria, ainda na mesma conferência de imprensa, um aviso para as consequências de uma “saída limpa” – sem uma linha cautelar – do Programa de Assistência Económica e Financeira com os atuais níveis de juros sobre a dívida soberana: “Isso não significa cumprir o objetivo, mas sim regressar aos mercados com uma taxa de juro insuportável. Isso não é um regresso sustentável aos mercados. Isso é o Governo atirar-se para a piscina sem boia, quando não sabe nadar”.

“A taxa de juro real que Portugal pagou na última emissão é equivalente a cinco por cento de taxa de juro real, o que é insuportável, porque as contas públicas portuguesas não poderão fazer um ajustamento saudável pagando essa taxa”, acentuou o responsável socialista, que acabaria, no entanto, por reiterar que, para o PS, “o que é exigível para que o programa acabe é que se cumpra o que estava previamente definido”. Ou seja, “um regresso pleno aos mercados” no termo do resgate.
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