Ventura dá a Montenegro até ao fim do ano para alcançar entendimento com o Chega

por Joana Raposo Santos - RTP
Pedro Nunes - Reuters

O líder do Chega dá ao presidente do PSD até à altura de discussão do Orçamento do Estado, no final do ano, para que chegue a um entendimento com aquele que foi o terceiro partido mais votado nas eleições legislativas. Na Grande Entrevista da RTP3, André Ventura disse ter esperança de que esse acordo ainda vá acontecer e avisou que, caso contrário, não votará a favor do documento.

“Eu tenho esperança, acho que até ao fim do ano (…), até ao fim do verão, é possível chegar a um entendimento”, declarou o líder do terceiro partido mais votado nas eleições legislativas de 10 de março.

André Ventura clarificou que esse acordo deve chegar “até ao Orçamento, que é quando o momento decisivo se vai colocar”. “Nós estamos completamente abertos, disponíveis para conversar, para chegar a entendimentos”, insistiu, apesar de Luís Montenegro já ter afastado por várias vezes esse cenário.

“O Orçamento do Estado não é um documento de cola medida a medida. É um documento onde está vertida o essencial da orientação política do país, do ponto de vista económico, fiscal, política interna, etc. Toda a gente compreende que não se pode pedir a 50 deputados (…) que simplesmente se levantem da bancada para dizer ‘estamos de acordo’ sem terem contribuído ativamente” para o documento, explicou.“Quem vai liderar a oposição no Parlamento é o Chega”.

Ventura garantiu ainda que “se não houver um acordo de Governo, o Chega não vai objetivamente viabilizar votando a favor de um orçamento”, já que nesse caso o partido esteve disponível para negociar “e o Governo não quis”.

“A arrogância em política paga-se. E se o PSD insistir numa atitude de arrogância, também pagará o seu preço”, alertou.

Questionado sobre se aguarda uma chamada do presidente do PSD, André Ventura respondeu que tem “feito tudo para garantir que temos um acordo a quatro anos de estabilidade”, já que, apesar da vitória de Luís Montenegro, “temos um cenário parlamentar em que não há nenhuma maioria que dê a estabilidade que o país precisa”.

“O Chega tem desenvolvido todas as diligências que pode, mas não se vai humilhar nem vai andar a pedinchar. O Chega quer responsabilidade e está a dizer ao partido que foi mais votado (…) que há uma maioria e que, se desperdiçarmos esta maioria, podemos estar a desperdiçar um momento histórico único de fazer reformas”, declarou.

“Eu ainda acredito que é possível chegar a esse entendimento”.

“O tempo do Chega começa agora, uma vez que, pela primeira vez na sua história, o Chega é decisivo para a formação da maioria”, realçou o líder partidário, referindo um “resultado histórico” nas eleições que não deve “dar vaidade” a esta força política, mas sim “dar responsabilidade”.
Ventura garante que não está a implorar
Na entrevista à RTP3, André Ventura disse ainda que, apesar de o seu partido não ter vencido as eleições, “a única maioria que há à direita é com o Chega”.

“Os portugueses quiseram dividir o poder à direita entre dois partidos: entre o Chega e o PSD (…). Há algum povo que goste de ser governado em instabilidade permanente?”, questionou.

Na visão de Ventura, “aqueles que acham que, se provocarem uma crise política artificial vão ser depois beneficiados, como aconteceu em 1985 ou 1987, não conhecem o mundo em que estamos a viver hoje”.

Sobre os dois partidos mais votados, o líder do Chega referiu que com a situação política nos Açores se percebeu que “PSD e PS, se não tiverem uma roda do leme, são iguais. E isso fez-nos aprender”.

Confrontado com um tweet de 2019 no qual dizia que nunca iria implorar por uma coligação à direita ou centro-direita, André Ventura esclareceu que não está a fazê-lo. “Nós não andamos a implorar por coligações. Eu estou a fazer isto pelo país”, frisou.
Povo “deu uma grande lição a Augusto Santos Silva”
Considerando que o ainda presidente da Assembleia da República elegeu o Chega como alvo, Ventura disse acreditar que “o povo português hoje deu uma grande lição a Augusto Santos Silva” e “a todos os Santos Silva desta vida”.

Sobre a escolha do Chega para a vice-presidência da Assembleia da República, Ventura disse que a decisão ainda não está tomada, mas que deverá ser alguém que já possua assento no Parlamento e não um dos novos deputados.

Reagindo à eleição de dois deputados pelos círculos da emigração, o líder político vincou que “estas pessoas não são nem racistas, nem xenófobas, querem um país diferente e estão frustradas com o socialismo”.

Por fim, questionado sobre a eleição de 50 deputados do Chega para o Parlamento no ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, André Ventura disse achar “fantástico”.

Acho fantástico que 50 anos depois do 25 de Abril, nós tenhamos 50 deputados. Acho que não podia haver maior ajuste de contas com a história do que um país que fez uma revolução que era importante (…) mas que depois foi perdendo essa mudança, deixando o sistema enredar-se em corrupção, em laxismo, em subsidiodependência”, afirmou.

“Num olhar supra-histórico, eu olharia hoje para Portugal e diria que a mudança vai começar agora”.

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