Bancos europeus preparam-se há um ano para o `no deal` diz Federação Europeia de Bancos

por Lusa

Os bancos europeus estão a preparar-se há mais de um ano para uma saída sem acordo do Reino Unido da União Europeia, afirmou hoje o presidente executivo da Federação Europeia de Bancos, admitindo serem necessários reajustes legais.

"Na primavera do ano passado, houve um momento óbvio em que todas as administrações (dos bancos) assumiram que faltava apenas um ano para o `Brexit`, tendo como referência o (prazo inicial) 29 de março, e começaram a questionar o que precisavam de fazer. Nessa altura, o entendimento dos bancos foi que este era (um processo) incerto e, por isso, a maioria optou pelo caminho mais seguro, de se preparar para um `Brexit` sem acordo", afirmou o presidente executivo da Federação Europeia de Bancos (EBF, na sigla em inglês), Wim Mijs.

Em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, o responsável acrescentou que isso obrigou os bancos a "repensarem literalmente todas as partes dos seus negócios", tantos os europeus, como os britânicos.

Wim Mijs notou que esta preparação começou logo a seguir ao referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), em junho de 2016, altura em que os bancos pensaram numa adaptação a um `Brexit` "mais suave".

Perante a instabilidade no processo, as instituições bancárias europeias britânicas começaram, "infelizmente", a equacionar um cenário "mais escuro" há pouco mais de um ano, tendo adotado então planos de contingência que incluem, por exemplo, a reformulação dos contratos e a obtenção de licenças para os bancos continuarem a operar.

"Se de repente tivermos uma saída sem acordo, todos os contratos têm de estar adaptados à legislação britânica e isso obriga à sua reformulação", apontou Wim Mijs na entrevista à Lusa, assinalando que "será necessário fazer muito trabalho legal".

O responsável referiu que uma saída sem acordo também afeta a informação a que os bancos têm acesso, nomeadamente nos seus sistemas tecnológicos.

"Se tivermos um cenário de `no deal`, tudo deixa de fazer parte do mercado único e isso também afeta os fluxos de informação e de dados", realçou, notando que essa situação "não se muda de um dia para o outro" e, por isso, os bancos tiveram de o acautelar.

A EBF agrega 32 associações bancárias nacionais na Europa - entre as quais a Associação Portuguesa de Bancos - que, ao todo, representam cerca de 3.500 bancos europeus, num total de quase dois milhões de funcionários.

O cenário de um `Brexit` desordenado vai, aliás, ser tema central na reunião de `rentrée` do colégio da Comissão Europeia, que decorre hoje em Bruxelas, com o executivo comunitário a adotar uma sexta comunicação sobre medidas de contingência para essa eventualidade.

No quadro do trabalho de preparação e contingência para o cenário de uma saída do Reino Unido do bloco europeu em 31 de outubro sem acordo, a Comissão irá então adotar uma nova comunicação, a sexta, sobre os preparativos da UE a 27 para uma saída desordenada dos britânicos, incluindo ajustamentos a medidas de contingência já existentes.

Ao mesmo tempo, um projeto de lei para adiar o `Brexit` para evitar uma saída sem acordo em 31 de outubro vai ser debatido hoje com o objetivo de concluir em poucas horas todas as etapas do processo na Câmara dos Comuns.

Uma moção aprovada na terça-feira à noite por 328 votos a favor e 301 contra retirou ao Governo britânico o controlo sobre a agenda parlamentar de hoje e dá a este grupo de deputados a oportunidade para apresentar um projeto de lei e acelerar o processo de aprovação para que todas as etapas sejam concluídas até ao final da tarde.

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