França a caminho das europeias. O que pode acontecer Domingo?

por Daniela Ferreira Pinto - RTP

Macron aguenta a liderança, a esquerda dissipa-se. Nacionalistas taco-a-taco com "En Marche". As previsões para a noite eleitoral francesa.

Dos 34 partidos e movimentos políticos que concorrem às eleições europeias em França apenas 7 devem alcançar a percentagem mínima necessária de 5% para entrar no hemiciclo europeu e contribuir para o grupo de 79 eurodeputados franceses.

12 candidatos, cabeças de lista, participaram no primeiro debate. Os dois candidatos que lideram as sondagens descreveram a União europeia com o apoio de objetos particulares.

Nathalie Loiseau, candidata pela “República em Marcha” de Macron, levou um frasco de pimenta de Espelette. “Vem do Sudoeste, como eu.” Esteve em risco de extinção, explica a antiga Secretária de Estado dos Assuntos Europeus. “Mas sobreviveu”, porque os produtores europeus “organizaram-se e conseguiram uma marca europeia” que fez concorrência às contrafações chinesas.

Já Jordan Barbella, o cabeça de lista da União Nacional, partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, apareceu com um passador vermelho. Com o objeto de plástico erguido, o jovem de 23 anos justifica-se. “Este é para mim hoje um símbolo da União Europeia, incapaz de proteger” os europeus. Um passador que deixa escoar, pelas ranhuras, imigrantes.

A metáfora pode ser aplicada noutra perspetiva: França enfrenta, nas eleições europeias, um cenário político fragmentado, como explica o Politico. Apenas as listas de Macron e Le Pen se mantêm confortavelmente acima dos 10% nas sondagens, mas espera-se que pelo menos oito partidos ou movimentos elejam deputados ao Parlamento Europeu, das 34 listas candidatas.

À esquerda, a fragmentação esvaziou de eleitorado os mais de duas dezenas de partidos e apenas a França Insubmissa, de Mélenchon, está em posição para conseguir representação em Estrasburgo. O Partido Socialista arrisca-se a uma derrota sonante: não eleger nenhum deputado.

A representação francesa nos grupos políticos tradicionais (PPE e S&D) deverá cair. As sondagens apontam para 38 lugares para os partidos de direita, 21 para a esquerda e 20 para o centro.

Já o movimento reivindicativo dos Coletes Amarelos, que anunciou três candidaturas, não conseguiu galvanizar o entusiasmo e nenhuma terá representação. Depois das eleições, se Macron apresentar um bom resultado, o movimento arrisca-se a dissipar no ar como o fumo que correu Paris durante o inverno.

Mas a onda de protestos pode ter uma consequência grave: afastar ainda mais os eleitores das instituições. É expectável que a abstenção seja das mais altas. Apenas 39% dos eleitores franceses garante que vai votar nas europeias, o que aponta para uma taxa de abstenção de mais de 60%.

O insólito debate de escorredores e frascos de pimenta foi visto por quase dois milhões de espetadores. Números recorde se acontecessem em Portugal mas que, em França, se traduzem no quarto lugar dos programas mais vistos da noite.
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