Novo teste ao sangue pode detetar oito tipos de cancro em fase precoce

por Sandra Salvado - RTP
Reuters

Chama-se CancerSEEK e já está a ser testado em mais de dez mil pessoas, podendo vir a detetar oito tipos comuns de cancro, numa fase precoce. Os investigadores acreditam que o novo teste ao sangue vai salvar milhares de vidas e poderá estar disponível dentro de poucos anos.

Uma equipa de cientistas da Universidade de Johns Hopkins anunciou esta semana que o teste CancerSEEK é feito através de uma biópsia líquida que permite ter acesso ao material genético do cancro de uma forma não invasiva. Recorre-se às proteínas e às mutações genéticas que são libertadas na corrente sanguínea.

A descoberta apresentada na revista Science está já a ser classificada como "muito excitante" pelo facto de poder vir a salvar milhares de vidas.

Citado pela BBC, Cristian Tomasetti, que integra a equipa da Faculdade de Medicina Johns Hopkins, disse que "esta área da deteção precoce é muito importante e estes resultados são muito excitantes (…) Penso que isto pode vir a ter um enorme impacto na taxa de mortalidade por cancro."O novo método já foi testado em 1.005 doentes. Os cientistas conseguem procurar mutações em 16 genes que estão associadas à presença de vários tipos de cancro e a oito proteínas que normalmente são libertadas no sangue pelos tumores malignos.

O novo teste conseguiu detetar cerca de 70 por cento dos tumores nos ovários, fígado, estômago, pâncreas, esófago, cólon, pulmão e mama em estádio inicial, o que dá uma maior possibilidade ao doente de tratar a doença antes de se espalhar.

“Estamos a ver, pela primeira vez, um potencial de teste sanguíneo que pode detetar vários tipos de cancros maus que, até agora, só eram diagnosticados muito tarde, quando surgiam os primeiros sintomas”.

É “uma diferença da noite para o dia” encontrar tumores que ainda podem ser removidos através da cirurgia, explicou Cristian Tomasetti.
O Santo Graal
“Estou extremamente animado. Isto é o Santo Graal. Um exame para diagnosticar um cancro sem todos aqueles procedimentos como é o caso das TACs ou colonoscopias”, explicou ainda Gert Attard, que conduziu a investigação no Centro de Evolução do Cancro do Instituto de Pesquisa do Cancro, em Londres.

Citado pelo jornal The Guardian, Peter Gibbs, do Instituto Walter e Eliza, em Melbourne, que também trabalhou no desenvolvimento do CancerSEEK, disse que a grande questão agora tem a ver com o custo deste novo método, que deverá ultrapassar os 800 euros, embora com o passar do tempo possa baixar.

"Suspeito que ronda os mil dólares ou algo assim, mas tal como acontece com a maioria das tecnologias, as coisas vão ficando mais baratas ao longo do tempo, pelo que temos esperanças de que [o preço] baixe para poucas centenas de dólares”, explicou Peter Gibbs.

Quanto mais precocemente o cancro for detetado, mais probabilidades há de ser tratado. Até ao momento não havia, por exemplo, forma de detetar cinco dos oito tipos de cancros investigados.

Um dos casos mais dramáticos diz respeito ao cancro do pâncreas, que no início não revela muitos sintomas e depois é diagnosticado tarde demais, com quatro em cada cinco doentes a morrerem no mesmo ano em que o tumor é detetado.

Contudo à BBC, Paul Pharoah, professor de epidemiologia do cancro na Universidade de Cambridge, diz que é necessário haver mais investigação para apurar a verdadeira eficácia desta análise sanguínea e explica porquê:

"Demonstrar que um teste consegue detetar cancros em estado avançado não significa que esse mesmo teste venha a ser útil na deteção de cancros precoces, muito menos de cancros pré-sintomáticos."
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