Um dos mais perturbadores, densos e fascinantes dramas de gangsters dos anos 90
Na América mergulhada na Depressão dos anos trinta uma família italiana de mafiosos vela o corpo do filho mais novo, abatido a tiro na rua. À volta do caixão os dois irmãos do falecido exibem sentimentos diferentes. Ray, o mais velho, controla com uma impressionante frieza um ardente desejo de sangue e vingança. Chez, por seu lado, manifesta uma cólera explosiva. A tragédia obriga Ray a recordar cenas de um traumático passado da juventude junto do seu pai, um implacável gangster e assassino que o obrigou a matar um homem. Ray, após várias suspeitas, descobre o assassino do irmão a quem abate enquanto Chez, um maníaco-depressivo de tendências suicidas, perde a cabeça e morre na sequência de uma alucinação descontrolada e sanguinária.
"O Funeral" de Abel Ferrara é um dos mais perturbadores, densos e fascinantes dramas de gangsters dos anos 90. Construído em torno de um velório, o do irmão mais novo de uma família de gangsters na América dos anos trinta, "O Funeral" é quase um filme necrófilo, onde se sente da primeira à última imagem o peso omnipresente da morte. Ferrara mergulha de forma prodigiosa no seio da alma de um punhado de seres humanos para quem o acto de matar se tornou, desde a infância, numa espécie de segunda natureza, embora tenham dificuldade em lidar com as suas consequências, sobretudo quando é um deles a sofrer uma morte violenta. Ferrara encena um autêntico drama existencial no seio de uma família de mafiosos, onde se reflecte sobre a origem do mal e da violência ancestral que os une e domina como uma herança maldita da qual parece não haver fuga. Um genuíno e quase literal filme negro e nocturno, introspectivo e filosófico, por onde passam as grandes questões da culpa e da redenção, filmado com um rigor admirável, que se vai a pouco e pouco deixando contaminar por uma dimensão de violência impressionante e quase grandiloquente. Tudo isto, servido por um elenco deslumbrante, de Christopher Walken a Isabella Rossellini, passando por Chris Penn ou Annabella Sciorra.