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Kintal di Belinha

Albertino

Géneros

  • Musicais

Informação Adicional

Albertino

Episódio 8 de 13 Duração: 60 min

Albertino é o convidado deste episódio do Kintal di Belinha.
É, talvez, um dos últimos boémios da música cabo-verdiana, cara ao vento ameno, encontrá-lo em imprevistos lugares, cantando, é coisa comum pelas noites da Praia, momentos mágicos de deslumbramento. É uma espécie de "ácaro": está em todo o lado e ninguém o vê. Ou melhor, Albertino é falado por muita gente, mas há muito poucos registos sobre a sua passagem no tempo e o seu percurso na música. Que, aliás, começa bem cedo por influência do pai - mas lá chegaremos.
O imprevisto é uma constante, salvo as atuações como artista residente do "5tal da Música", poderemos encontrá-lo nos sítios mais improváveis... Guitarra na mão, dedilhando as cordas com mestria e projetando a singular voz, Albertino apresenta-se-nos na padaria de uns amigos, corria a noite solta e quente de Santiago, emprestando o canto à poesia de Eugénio Tavares, beberricando um grogue - olhar perdido na imensidão da mensagem do mestre que se apresenta envolvente e certeira, carente de um porto de abrigo, ouvido generoso que albergue a trova e a remeta à compreensão da mente.
Abílio Barbosa Évora, mais conhecido por "Bilocas" terá sido o grande responsável pelo despertar musical de Albertino, ainda menino. Bana, entre outros, recebeu de "Bilocas" - reconhecido boémio do seu tempo - a matéria-prima que o fez cantor de êxito por esse mundo afora. E, a Albertino, o gosto pelo canto fez-se hóspede de si mesmo, dedilhando de permeio as 12 cordas da guitarra portuguesa que fez do pai mestre exímio do instrumento.
Dá-se à música menino, cantando para os vizinhos do prédio familiar do Bairro Craveiro Lopes, tempos idos em que a caixinha que fez mudar o mundo ainda levaria muitos anos para entrar nos lares cabo-verdianos, trazendo consigo o "progresso" e o apartar das relações e afetos em vizinhança - então família, a bem dizer. Os convívios de fim de semana eram constantes em casa do senhor "Bilocas". Mornas e coladeiras saiam envoltas na voz de eleição do progenitor que acedia aos apelos dos vizinhos que, já na altura, clamavam pela voz aveludada de Albertino.
"Nesses convívios, a primeira vez que cantei, acharam aquilo extraordinário", diz-nos o artista, não sem que, tantos anos depois, continue surpreso a registar os elogios à sua pessoa, como se fora coisa inaudita e ele, Albertino, não entendesse, muito menos, aqueles que hoje dizem ser ele "o melhor cantor cabo-verdiano vivo".
Do único disco gravado, nos EUA ("Confidencial") - onde foi à procura de melhor vida e regressou ávido do chamamento da terra -, não guarda recordação feliz: "aquilo não correu como devia, não gostei nada do que ouvi", diz-nos com um sorriso onde se percebe que coisas de discos, ou modernices de CD, não lhe interessam absolutamente. Pela razão simples e primeira do prazer do "contacto com o público, do toque da alma e da epiderme", nesse enlevo e cumplicidades que o faz correr mundo pelo boca a boca de quem sente o privilégio de o ver e ouvir no "5tal da Música", numa padaria ou no mais recôndito e imprevisto lugar das suas caminhadas pelo mundo, porta-voz e guerreiro das músicas de Cabo Verde, das suas gentes, do povo que ama - e que de tanto amar o tolhe na impossibilidade de arrumar chão noutro lugar que não sejam as ruas da Praia, que percorre pela noite, cigarro ao canto dos lábios, navegando a mente pelo próximo poema, pelo próximo acorde, pela proximidade do público que lhe dá o ar que, sôfrego, respira "à procura do sentido das coisas".
Albertino, assim mesmo e simplesmente, transporta no peito essa paixão antiga pela terra e pelo voo livre que a música lhe traz em cada esquina do tempo.

Ficha Técnica

Título Original
Kintal di Belinha
Produção
Agência Cabo-verdiana de Imagens
Ano
2018
Duração
60 minutos
Série
2