Kintal di Belinha

Albertino08 out. 2023

Segunda série do Kintal di Belinha, programa de música da RTP África, gravado ao vivo na Cidade Velha, em Cabo Verde. Num quintal em festa, "Belinha", a anfitriã, recebe os principais artistas de música tradicional cabo-verdiana para noites de tocatina ao som de mornas, coladeiras, batuque e vários outros ritmos que fazem parte do cancioneiro de Cabo Verde. Pelo "Kintal di Belinha" vão passar outros doze grandes nomes da música de Cabo Verde. Semanalmente na RTP África.

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54m

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Albertino é o convidado deste episódio do Kintal di Belinha.
É, talvez, um dos últimos boémios da música cabo-verdiana, cara ao vento ameno, encontrá-lo em imprevistos lugares, cantando, é coisa comum pelas noites da Praia, momentos mágicos de deslumbramento. É uma espécie de "ácaro": está em todo o lado e ninguém o vê. Ou melhor, Albertino é falado por muita gente, mas há muito poucos registos sobre a sua passagem no tempo e o seu percurso na música. Que, aliás, começa bem cedo por influência do pai - mas lá chegaremos.
O imprevisto é uma constante, salvo as atuações como artista residente do "5tal da Música", poderemos encontrá-lo nos sítios mais improváveis... Guitarra na mão, dedilhando as cordas com mestria e projetando a singular voz, Albertino apresenta-se-nos na padaria de uns amigos, corria a noite solta e quente de Santiago, emprestando o canto à poesia de Eugénio Tavares, beberricando um grogue - olhar perdido na imensidão da mensagem do mestre que se apresenta envolvente e certeira, carente de um porto de abrigo, ouvido generoso que albergue a trova e a remeta à compreensão da mente.
Abílio Barbosa Évora, mais conhecido por "Bilocas" terá sido o grande responsável pelo despertar musical de Albertino, ainda menino. Bana, entre outros, recebeu de "Bilocas" - reconhecido boémio do seu tempo - a matéria-prima que o fez cantor de êxito por esse mundo afora. E, a Albertino, o gosto pelo canto fez-se hóspede de si mesmo, dedilhando de permeio as 12 cordas da guitarra portuguesa que fez do pai mestre exímio do instrumento.
Dá-se à música menino, cantando para os vizinhos do prédio familiar do Bairro Craveiro Lopes, tempos idos em que a caixinha que fez mudar o mundo ainda levaria muitos anos para entrar nos lares cabo-verdianos, trazendo consigo o "progresso" e o apartar das relações e afetos em vizinhança - então família, a bem dizer. Os convívios de fim de semana eram constantes em casa do senhor "Bilocas". Mornas e coladeiras saiam envoltas na voz de eleição do progenitor que acedia aos apelos dos vizinhos que, já na altura, clamavam pela voz aveludada de Albertino.
"Nesses convívios, a primeira vez que cantei, acharam aquilo extraordinário", diz-nos o artista, não sem que, tantos anos depois, continue surpreso a registar os elogios à sua pessoa, como se fora coisa inaudita e ele, Albertino, não entendesse, muito menos, aqueles que hoje dizem ser ele "o melhor cantor cabo-verdiano vivo".
Do único disco gravado, nos EUA ("Confidencial") - onde foi à procura de melhor vida e regressou ávido do chamamento da terra -, não guarda recordação feliz: "aquilo não correu como devia, não gostei nada do que ouvi", diz-nos com um sorriso onde se percebe que coisas de discos, ou modernices de CD, não lhe interessam absolutamente. Pela razão simples e primeira do prazer do "contacto com o público, do toque da alma e da epiderme", nesse enlevo e cumplicidades que o faz correr mundo pelo boca a boca de quem sente o privilégio de o ver e ouvir no "5tal da Música", numa padaria ou no mais recôndito e imprevisto lugar das suas caminhadas pelo mundo, porta-voz e guerreiro das músicas de Cabo Verde, das suas gentes, do povo que ama - e que de tanto amar o tolhe na impossibilidade de arrumar chão noutro lugar que não sejam as ruas da Praia, que percorre pela noite, cigarro ao canto dos lábios, navegando a mente pelo próximo poema, pelo próximo acorde, pela proximidade do público que lhe dá o ar que, sôfrego, respira "à procura do sentido das coisas".
Albertino, assim mesmo e simplesmente, transporta no peito essa paixão antiga pela terra e pelo voo livre que a música lhe traz em cada esquina do tempo.

duração total 54m
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