Bailado da coreógrafa Chaterine Gaudet, com figurinos de Marilène Bastien e música de Antoine Berthiaume
Cinco corpos movem-se ao ritmo de um metrónomo. Os seus gestos mecânicos são continuamente repetidos, a máquina corre solta e exige a sua obediência absoluta. Esta partitura coletiva aparentemente inofensiva, com os seus percursos ordenados, exala um cheiro de verniz barato que logo acaba rachando. Sintonizada com a pulsação conflitante da sua época, Chaterine Gaudet rodeia-se dos seus leais colaboradores para explorar os falsos pretextos do aparato do mundo do espetáculo.
Com uma linguagem artística madura, a coreógrafa canadiana procura um espaço dentro dos corpos, onde os desejos possam renascer apesar do peso da restrição. Depois de um tempo, a repetição revela-se causadora de problemas entre os bailarinos que se tornaram instrumentistas. Ela abre a válvula sibilante para libertar o excesso de vapor dos corpos salgados. Na verdade, a depressão é o outro lado da grandiosidade. Aqui, o risco de mau gosto é muito real, mas necessário para manter o equilíbrio.
Espetáculo gravado no Teatro Campo Alegre, no Porto, em abril de 2023.