Ventura diz que Marcelo não se opõe a Chega no Governo

por Madalena Salema

Lusa

O líder do Chega disse hoje que o Presidente da República lhe transmitiu que não se oporá a que o seu partido integre o próximo Governo e insistiu que só viabilizará um Orçamento do Estado com negociação.

"Posso dizer que o senhor Presidente da República desmentiu cabalmente e categoricamente que tivesse manifestado qualquer intenção de impedir que o Chega fizesse parte integrante ou liderante ou de qualquer outra forma do Governo da República", afirmou.

André Ventura falava aos jornalistas à saída de uma audiência de uma hora com Marcelo Rebelo de Sousa, que decorreu no Palácio de Belém, em Lisboa.

De acordo com o líder do Chega, Marcelo Rebelo de Sousa "desmentiu categoricamente a informação de que teria preferência para que o Chega não estivesse no Governo", sustentando que "não faria nenhum sentido, quem escolhe é o povo".

"Agradecemos-lhe a clareza em nome da direção do Chega e do Grupo Parlamentar, porque era importante que o país não vivesse numa mentira de que o chefe de Estado estaria a querer boicotar a presença do Chega no Governo", afirmou Ventura.

Sobre o Orçamento do Estado, o presidente do Chega defendeu que "não faz nenhum sentido que um partido viabilize com o voto favorável um orçamento sem negociar".

Mas admitiu que "há medidas pontuais como a equiparação do suplemento de missão aos polícias e aos militares, a recuperação do tempo de serviço dos professores, a reforma estrutural do combate à corrupção, a independência da justiça, isso pode ser feito medida a medida, e aí o Chega estará sempre disposto a trabalhar".

No final da audiência, que decorreu na sequência das eleições legislativa de 10 de março, o presidente do Chega disse também ter transmitido ao Presidente da República que "não há ainda nenhum acordo, nem nenhum entendimento com a Aliança Democrática que permita garantir a estabilidade do Governo a quatro anos".

André Ventura afirmou que, "para haver maioria [parlamentar], é preciso Chega e PSD" e que "só essa maioria dá garantias de estabilidade", indicando que tentará "até ao fim chegar a um entendimento" com o PSD por forma a "evitar uma nova crise política".

O presidente do Chega, que tem insistido num "acordo de governo", voltou também a colocar a responsabilidade no líder do PSD caso continue a recusar esse acordo.

"Se Luís Montenegro quer precipitar o país para eleições em sete meses ou oito meses é uma escolha que Luís Montenegro fará", disse, defendendo que, "se houver acordo de Governo haverá estabilidade, se não houver acordo de Governo, o PSD será responsável pela instabilidade que gerar".

Questionado se exigirá integrar o Governo, Ventura referiu que “o que faz sentido é que haja um acordo de governo com pessoas, com políticas, com objetivos, a questão aqui nunca foi pastas”.

André Ventura salientou igualmente que não aceitará “de ânimo leve” uma eventual indigitação de Pedro Nuno Santos como primeiro-ministro se, depois de finalizado o apuramento dos votos, o PS vier a ser o partido mais votado ou com mais deputados.

E apelou a uma convergência à direita para apresentar uma solução alternativa ao Presidente da República, que permita a constituição de um governo alternativo, à semelhança do que aconteceu em 2015.

O Chega está confiante que poderá eleger mais deputados nos círculos da Europa e Fora da Europa, juntando aos 48 que já conseguiu.

Sobre a contagem dos votos dos emigrantes, que decorre entre hoje e quarta-feira, André Ventura disse ter "vários relatos" de "situações de potencial irregularidade e centenas de pessoas que voltaram a não ter boletins de voto ou cujos boletins de voto só chegaram agora".

O líder do Chega adiantou que, "depois de finalizado o processo, com todas as instituições a funcionarem", o Chega irá apresentar "uma iniciativa no parlamento" sobre esta matéria, mas recusou dizer qual "para não prejudicar a credibilidade do processo que está em curso".

Questionado também se foi abordada nesta audiência a possibilidade de o Chega vir a estar representado no Conselho de Estado, Ventura respondeu: "Lateralmente falámos da presença do Chega nalguns órgãos como resultado desta votação, presença que é institucional e, portanto, é automática em relação à votação".

(Com Lusa)
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